Outra mudança constatada pelo Terceiro Censo da População de Rua da capital, é a falta de famílias nas ruas.
Em Belo Horizonte, 47,2% dos moradores de rua está nesta situação porque veio a capital em busca de trabalho, e sem conseguir uma oportunidade, não teve como voltar para a casa de mãos vazias. 39,7% da população em situação de rua migrou de cidades do interior de Minas para BH e, destes, 42,3%% veio da região Central.
“Antes, a gente via famílias vivendo nas ruas, e hoje, a maioria dessas pessoas são solitárias", pontua o coordenador do CRR da UFMG Frederico Garcia. A principal consequência é que, com isso, muda-se a dinâmica de possibilidade de reinserção social.
Antigamente, a família vinha migrante do interior para BH para tentar uma vida melhor, e quando conseguia sair dessa situação, acabava puxando os familiares com ele. Com as pessoas cada vez mais solitárias, é menor a chance disso acontecer hoje. "A solidão associada ao envelhecimento dessa população também é alarmante, porque mostra que não vai ter ninguém para cuidar destas pessoas daqui há alguns anos”, pondera.
O morador de rua Manoel Raflik, de 43 anos, é um destes migrantes. Ele veio da Bahia à pé para Belo Horizonte, há cerca de dois anos, depois de perder a mãe e ficar na rua. “Demorou um mês e meio pra eu chegar. Fiz igual aquele livro “On the road”, do Jack Kerouac, sabe? Foi neste trajeto que parei de beber e fumar. Eu pinto e escrevo quadrinhos, e vendo na rua, quando preciso de alguma coisa. Sou meio Basquiat”, conta.
Ele também escreve romances autobiográficos e se apaixonou pela capital mineira. Segundo ele, morar na rua não é uma opção. "É falta de recursos", lamenta.