Capital

Mortes no parto poderiam ser evitadas em 62% dos casos

Alto número de cesarianas e falta de acompanhamento adequado na gravidez são as principais causas

Por Natália Oliveira
Publicado em 28 de maio de 2013 | 03:00
 
 

“Fosse eu rei do mundo, baixava uma lei: mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho”. Se a poesia transformasse a realidade, o “decreto” descrito por Carlos Drummond de Andrade poderia evitar que crianças como Ana Luiza, de apenas 2 anos, cresçam sem o carinho da mãe, que, por falta de assistência médica adequada, morreu durante o parto.


O caso de Ana Luiza é mais um a endossar a estatística revelada pela pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): 62% das mortes em decorrência do parto em Belo Horizonte poderiam ter sido evitadas. O estudo foi baseado em dados da Secretaria Municipal de Saúde e em informações sobre as 137 mortes ocorridas entre 2003 e 2010 na capital, nas redes pública e particular.

A maioria das vítimas tinha entre 25 e 49 anos, entre oito e 11 anos de escolaridade, era solteira e sem profissão. Segundo o levantamento, 86 dos óbitos poderiam ter sido evitados. A demógrafa e pesquisadora Lilian Valim explica que entre as principais causas de morte estão cesarianas sem indicação, falta de pré-natal adequado ou diagnóstico prévio impreciso.


“Minha mulher fazia o pré-natal, mas os médicos não perceberam que ela estava doente. Se tivessem tido mais cuidado no diagnóstico, eu teria minha família completa”, conta o pai de Ana Luiza, que pediu anonimato e sigilo sobre o nome de sua mulher. Ela teve eclâmpsia (quando a gestante tem uma elevação exagerada da pressão arterial) após o parto e não resistiu.

O relato do marido da vítima, conta Lilian Valim, é parecido com o contado por diversas famílias. “Muitos me diziam que faltava também uma escuta qualificada dos sintomas da paciente e um acompanhamento em casos de alto risco”, disse.

Abusivo. Para Gabriella Sallit, advogada e membro do grupo Partos Ativos, as cesárias são praticadas de forma indiscriminada no país e se transformaram em uma das principais causas das mortes. “No Brasil, fazemos cerca de 80% assim. Algumas são feitas antes do previsto, porque o médico viaja, por exemplo”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que apenas 15% dos partos devem ser cesariana.


A coordenadora da Comissão Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sônia Lansky, explica que as cesárias são uma intervenção delicada e, para tentar reduzir o número de cirurgias, uma comissão trabalha junto aos médicos e as famílias. “Pode haver deslocamento da placenta, que causa uma hemorragia e leva à morte. A rede também está melhorando os equipamentos e orientando os agentes em relação a um diagnostico preciso e pré-natal adequado”.