DIA DO TRABALHADOR

Movimentos sociais realizam ato em BH e missa acontece em Contagem

Missa, gritos de ordem, cânticos e televisão queimada; o 1º de maio na capital mineira continua mobilizando movimentos sociais

Sex, 01/05/15 - 12h25

Feriado para alguns, dia de "luta" para outros. Ainda era quinta-feira (31) quando o lavrador Adelmo Horasco Sandro, de 59 anos, entrou em um ônibus com outras dezenas de pessoas da região de Grão Mogol, no Norte de Minas, para viajar 12 horas e participar das ações de movimentos sociais em comemoração ao Dia do Trabalhador (1º de maio), em Belo Horizonte.

Logo pela manhã, na praça da Cemig, em Contagem, foi realizada, pela Prefeitura de Contagem e Igreja Católica, a Missa do Trabalhador, tradicional evento que já é realizado há décadas. Ao contrário do ano passado, em que diversos políticos, já pensando nas eleições de outubro, estiveram presentes, neste ano foram poucas as autoridades que passaram por lá. De acordo com a Polícia Militar, cerca de 2 mil pessoas estiveram no local.

Um dos principais nomes da Igreja em Minas, o bispo Dom Luiz Gonzaga Fechio disse achar importante que os católicos se mobilizem. "A Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) é contra tudo que vai contra o trabalhador. Se a terceirização significa uma piora na qualidade de vida das pessoas, é evidente que somos contra" disse, adotando discurso bem semelhante ao dos sindicalistas e diretores de movimentos sociais que também discursavam.

O principal alvo dos discursos era, como esperado, o projeto de lei 4330, que abrange as regras da terceirização. Nilmário Miranda (PT), secretário de Estado de Direitos Humanos, esteve presente na missa para prestigiar aliados. "Tem quase 40 anos que a missa é realizada, mas as coisas mudaram muito. A luta mudou. Se antes era por liberdade, por mudança, hoje ela é contra o retrocesso.

Estamos aqui pra lutar contra a lei da terceirização, contra a redução da maioridade penal", diz. Outros que estiveram presentes foram o prefeito de Contagem, Carlin Moura (PCdoB) e a deputada estadual Marília Campos (PT).

Após a missa, a maioria dos presentes se dirigiram à região central de Belo Horizonte, na praça Afonso Arinos, para realizar outro ato, este organizado por movimentos sociais como a Central Única de Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e o Movimento dos Atingidos por Barragens.

Acompanhado de dezenas de outros manifestantes uniformizados com camisas dos movimentos, o lavrador Adelmo Horasco dizia não entender muito bem contra o que se protestava, mas que, no interior, a luta contra grandes empresas e a dificuldade das famílias da zona rural era alarmante. "Querem tomar as nossas terras. Viemos pra cá pra protestar contra isso. Essa questão da terceirização eu não sei muito bem, preciso estudar, me informar" diz. De acordo com ele, os movimentos fornecem alimentação e transporte.

Um carro da CUT, equipado com sons e microfones, liderava os cânticos. De acordo com o diretor do Partido Comunista Brasileiro, Túlio Lopes, que concorreu à última eleição para governador, é necessário que a esquerda, como um todo, se una para combater retrocessos na questão trabalhista. "Há tempos não víamos uma mobilização assim. É importante demais esse tipo de coisa. É um ato unitário, unindo diversos movimentos e partidos", diz. Para o presidente do Sindicato dos Aeroviárias de Minas, Paulo de Tarso, a luta é necessária para evitar a precarização do trabalho. "Sofremos muito com a terceirização. Existe um número crescente de roubos de bagagens de passageiros em aeroportos muito por causa das empresas terceirizadas, que contratam pessoas que não estão preparadas. Também interfere na manutenção das aeronaves, que fica precária" afirma.

Segundo os organizadores, o ato da Afonso Arinos reuniu mais de 5 mil pessoas. A Polícia Militar é mais modesta e disse que a concentração teve entre 1,5 mil e 2 mil manifestantes. Os movimentos aproveitaram para gritar palavras de ordem contra deputados federais de Minas que votaram a favor do PL 4330. Quem também não escapou foi Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, que pressionou o Congresso para que o texto fosse aprovado com urgência. A atuação violenta da Polícia Militar do Paraná contra os professores, em Curitiba, na última semana, também foi lembrada e repudiada.

Reunidos, a manifestação começou uma caminhada em direção à praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). No caminho, manifestantes pararam em frente à Casa do Jornalista, na avenida Alvares Cabral, e queimaram uma televisão que "simboliza a 'Rede Globo'". Os movimentos continuam caminhando para a Casa Legislativa e, lá, irão almoçar e continuar a mobilização.

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