Venda Nova

Mulher permanece sob poder de bandido durante sequestro-relâmpago em BH

Suspeito pulou pela janela do carro da mulher, desligou a chave e a obrigou a dirigir; crime aconteceu em uma rua movimentada do bairro Céu Azul, mas pedestres acharam que se tratava de uma briga de casal

Qui, 17/09/20 - 20h00

A ida rápida à farmácia no meio da manhã e os instantes de terror que se seguiram não irão se apagar da memória de uma mulher moradora da região de Venda Nova que há mais de um mês não dorme sem o apoio de remédios psiquiátricos. Maria Clara

, 32, não poderia imaginar em seus piores pesadelos que uma saída recorrente para compras do dia-a-dia terminaria em um sequestro-relâmpago com duração estimada de duas horas que, a ela no porta-malas de seus próprio carro, pareceram infindáveis.

Um mês e sete dias após o crime, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) está no encalço do suspeito – ele apareceu em imagens de câmeras de segurança após abandonar o carro de Maria Clara em Ribeirão das Neves na região metropolitana de Belo Horizonte. O criminoso, também pelas lembranças de Maria Clara, é um homem alto, negro, com a cabeça raspada e óculos de grau que, no dia do crime, trajava calçava jeans, tênis preto e uma camisa vermelha de manga longa com botões.

Com o sequestro-relâmpago o suspeito conseguiu roubar dela: a aliança que leva o nome do marido, sacolas com as compras feitas por ela na farmácia e no sacolão minutos antes do crime – inclusive com fraldas descartáveis para bebê, uma nota de R$ 2 fruto do troco que ela recebeu e R$ 500 que ele sacou com o cartão de crédito do marido dela encontrado na carteira da mulher.

Ainda na segunda-feira (14), o marido a acompanhou a um atendimento psiquiátrico. Ela, que antes se sentia tão independente, não mais consegue sair só. “Em alguns dias acordo bem, em muitos outros não. Eu conseguir sair sozinha, fazia tudo sozinha. Hoje não faço mais, e só consegui tornar a dirigir essa semana, mas ainda com muito medo. Tomo remédios para dormir, fui diagnosticada com ansiedade e estresse pós-traumático. Também me esqueço de tudo, não me lembro, meu psicológico está abalado”, relata.

Ameaças, xingamentos e roubo

Como quem risca no calendário, Maria Clara acorda diariamente e se lembra de contar quantos dias transcorreram desde o sequestro-relâmpago – lembra-se também de detalhes que logo após o choque acabaram perdendo-se na cabeça. Hoje ela consegue detalhar horários, características e até endereços. “Aconteceu às 10h30 da manhã, horário exato, lembro de ter olhado. Eu tinha saído para ir até a farmácia. Fui, depois caminhei até o sacolão, comprei e retornei para o carro”, relembra. Quando entrou no próprio carro, parado em uma rua que cruza uma das avenidas mais movimentadas do bairro Céu Azul em Venda Nova, ligou e dirigiu cerca de dez metros até parar no semáforo.

Foi neste instante que o suspeito se aproveitou do vidro aberto na porta do motorista para rendê-la. “Quando eu parei no sinal, ele de repente se enfiou todo dentro do carro e desligou a chave da ignição. Minha primeira reação foi dar tapas na mão dele, até que eu senti que ele apertou a faca contra mim. Lembro que ele me mandou arrancar, disse que era foragido, que não era para eu bater o carro e que ele não tinha nada a perder. Falou que ‘não daria nada’ para ele se acontecesse algo comigo”.

Alguns minutos depois, o suspeito obrigou que ela parasse em uma rua mais deserta e a mandou para o banco do passageiro. “Primeiro ele puxou meu dedo e tentou arrancar a aliança, como estava difícil ele disse até que ia me esquartejar. Ele deitou o banco do passageiro, me colocou lá e prendeu minhas mãos com uma cordinha”. Ela lembra de ter olhado para fora do carro em alguns momentos e se recorda de ter atravessa a ocupação Dandara e o bairro Fortaleza. Logo em seguida, o homem a colocou no porta-malas do carro e dirigiu por cerca de duas horas com ela.

“Ele ameaçava me esquartejar, dizia que ia me matar e que não tinha nada a perder. Ele xingava: ‘ô, desgr

, você quer que eu te mato?’. Vou te falar a verdade, meu medo era que ele parasse comigo numa rua e me violentasse. Imaginei também que ele podia me prender para pedir dinheiro, já que eu não tinha nada. Eu só imaginava coisas ruins”. Após algum tempo, o suspeito conseguiu encontrar um caixa e retirou R$ 500 do cartão de crédito que estava na carteira da mulher. “Ele disse: ‘consegui fazer o saque de uma mixaria só. Vamos ver o que vai acontecer a partir de agora’. A todo tempo ele conversava no telefone e falava comigo que tinha um comparsa, que tinha um outro carro seguindo ele e que se eu fugisse, o comparsa ia me ‘estragar’”.

Após sacar a quantia, o suspeito rodou mais algum tempo com ela no carro até deixá-la na entrada de Ribeirão das Neves na região metropolitana de Belo Horizonte. “Eu desci do carro com a mão amarrada, ele me mandou sentar, abaixar a cabeça e não olhar para ele”, relembra. Uma viatura da polícia a encontrou por coincidência minutos depois e conseguiu levá-la para o batalhão. O carro de Maria Clara foi encontrado a alguns quilômetros do lugar onde o suspeito a deixou. Imagens de câmeras de segurança registraram momentos depois que ele desembarcou do veículo.

Pedestres acharam que era ‘briga de casal’

O sequestro-relâmpago começou em uma manhã de muito movimento no bairro Céu Azul e logo em frente ao semáforo em que Maria Claro parou segundos antes do suspeito abordá-la havia uma lotérica lotada. De acordo com ela, muitas pessoas perceberam o momento da abordagem e um homem até tentou ajudá-la. Mas, segundo o que ela ficou sabendo depois através da polícia, muitos ali acharam que tratava-se de uma “briga de casal”. 

“As pessoas perceberam. Na hora que ele me aborda com a faca, tem um senhor que vem para me ajudar, mas ele grita e o senhor fica aterrorizado, volta para lá. O pessoal que estava na rua viu e ligou para a polícia. Mas, quando a polícia chegou, ninguém sabia direito o que tinha acontecido e muitos acharam que era briga de casal. Infelizmente, não adiantou muito”, afirma. O suspeito está desaparecido e é procurado pela Polícia Civil.

Nome fictício. O nome verdadeiro da vítima foi trocado para proteger sua identidade. 

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