Sociedade

Mulheres são maioria em BH: apesar de nascerem mais homens, elas vivem mais

Último Censo do IBGE mostra que há cerca de 87 homens para cada cem mulheres na capital mineira

Por Jonatas Pacheco
Publicado em 08 de março de 2024 | 05:00
 
 
Camila Marinho engravidou da filha Luiza, de 8 anos, durante a graduação em direito Foto: Fred Magno/ O Tempo

“Não temos ajuda de homem nenhum. Somos mais organizadas, conseguimos nos virar melhor e nos sustentar. Não sentimos falta de presença masculina”, diz a advogada Camila Marinho, de 30 anos, que mora com a avó Maria do Carmo, de 79, que é aposentada, e a filha Luiza, de 8, em BH. Assim como na casa dela, é comum encontrar famílias na capital mineira em que as mulheres predominam.

No Dia da Mulher, celebrado em 8 de março, que simboliza a luta contra a desigualdade e a violência de gênero, o Super mostra que BH é a cidade com a maior proporção de mulheres em relação a homens em Minas Gerais, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em outubro de 2023, referente ao ano de 2022. Entre as 27 capitais do país, a mineira tem a oitava maior proporção de mulheres para homens.

De acordo com a pesquisa, a cada cem pessoas do sexo feminino, há 86,8 do sexo masculino na cidade. Em números totais, dos 2.315.560 habitantes de BH, 1.239.813 são mulheres e 1.075.747 são homens, ou seja, 164.066 pessoas do sexo feminino a mais.

“Para mim, é normal. Minha avó e minha mãe são divorciadas, meu pai morreu com 54 anos, quando eu tinha 12, e eu nunca me casei. Algumas famílias do colégio da minha filha estranham um pouco ela não morar com um pai, mesmo ele sendo presente. Mas, para a gente, é normal”, diz.
Camila foi mãe de Luiza enquanto cursava a faculdade de direito, e nem passou pela cabeça dela abandonar o curso. “Hoje sou coordenadora jurídica de um hospital e tenho um escritório com outras duas mulheres”, completou.

Risco maior. Gilvan Ramalho Guedes, subcoordenador do programa de pós-graduação em demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o principal motivo para a cidade ter mais pessoas do sexo feminino é o fato de os homens, a partir da juventude, se colocarem em mais situações de risco do que as mulheres, como o envolvimento com o tráfico de drogas.

“Nas idades mais jovens, há mais homens do que mulheres porque nascem mais meninos. Isso se inverte mais ou menos nas idades de jovens adultos, por causa do diferencial de mortalidade. As mulheres têm menos risco de morrer, especialmente em causas externas, isso faz com que, nas idades adultas e idosas, haja mais mulheres”, explica.

Independência para chefiar a própria família 

Aos 40 anos, a motorista de aplicativo Michelle de Oliveira divide a casa, no bairro Eymard, na região Nordeste de BH, com a mãe Valmíria, de 59 anos, a irmã Jéssica, de 32, a filha Ariela, de 4, e a sobrinha Ana Clara, de 11. O único integrante masculino é o sobrinho Samuel, de 7 meses. Atualmente, ela e a irmã, que é representante de farmácia, são as provedoras do lar.

“Acho que esse dado de que há menos homens do que mulheres em Belo Horizonte reforça ainda mais a independência feminina. Vemos mulheres que não dependem de homem para nada e são verdadeiras chefes de família. Não há mais ‘certo controle’ masculino sobre o sexo feminino. Estamos no mesmo patamar”, avalia Michelle. 

Ela foi casada por 17 anos, mas se separou há cerca de três anos. “Nós só queremos pessoas para somar nas nossas vidas, e dentro de casa, nós nos completamos”.

Por que nascem mais meninos?

Estudo do instituto norte-americano Fresh Pond, com pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, e de Oxford, na Inglaterra, observou que, durante a gravidez, bebês do sexo feminino têm uma taxa de mortalidade fetal mais elevada do que bebês do sexo masculino. Ou seja, fetos femininos morrem mais do que masculinos.

Cuidado com a saúde. Humberto Sette, coordenador técnico do centro demográfico do IBGE em Minas Gerais, afirma que o fato de as mulheres cuidarem mais da saúde desde jovens também faz com que tenham mais pessoas do sexo feminino do que do sexo masculino nas faixas etárias mais avançadas. “Elas vão ao médico com mais frequência, enquanto os homens, historicamente, não têm tanto essa preocupação”, justifica.