Em BH

Nomes marcantes do Fórum Lafayette contam suas memórias do local após fechamento

Espaço vai ficar de portas fechadas por dois anos para obras

Por Lucas Gomes e Rayllan Oliveira
Publicado em 13 de julho de 2023 | 13:49
 
 
Fórum Lafayette, em BH Foto: Cris Mattos/O Tempo

O Fórum Lafayette, que vai ficar fechado por dois anos para obras de infraestrutura e outras reformas, vai fechar as portas nesta quinta-feira (13 de julho), mas as histórias do local vão continuar. A reportagem de O Tempo conversou com nomes importantes que atuam no simbólico Edifício Governador Milton Campos. 

Olímpio Pimenta, de 66 anos, está no Fórum Lafayette desde os primeiros dias da edificação após ser transferido do antigo fórum na rua Goiás. Ele, que chegou à sede do Judiciário da capital carregando processos, agora passa a carregar histórias e saudade do local que mal deixou.

“É uma vida inteira que passei no Fórum Lafayette. A minha vida é o fórum. Não sei fazer outra coisa a não ser trabalhar no fórum. A gente passa por alegrias, decepções, faz grandes amigos. Por isso não parei até de trabalhar, gosto muito. Me sinto bem aqui e devo tudo o que tenho ao Fórum Lafayette. Eu espero estar bem de saúde para voltar quando as obras terminarem, quero continuar lá mais um pouco”, projetou o coordenador de área.

Conhecido como “Pio” por frequentadores do Fórum, o servidor público conta que são 43 anos dedicados à casa, “conhecendo todo mundo, subindo e descendo. É a minha segunda casa”. “É torcer para que acabe a reforma o quanto antes. Eu já estou sentindo saudade da nossa rotina, já está dando esse aperto”, contou. O coordenador de área aponta que algumas melhorias eram necessárias no prédio inaugurado em 1980, como parte elétrica e hidráulica, além da reestruturação do espaço de divisórias.

Nomes importantes e frequentes principalmente nos tribunais dos júris do Fórum Lafayette são o do promotor Francisco Santiago, que projeta ter mais de 2.300 julgamentos no prédio, e do advogado Ércio Quaresma, que contabiliza cerca de 1.200 processos de crime contra a vida. 

O advogado, que dedica 33 anos dos seus 59 de vida a sessões no Fórum Lafayette e em outras comarcas, participou de um julgamento há um mês sem saber que aquele seria o último caso no antigo prédio. Ele contava que um outro processo seria naquele local, mas já tinha sido transferido para o espaço temporário, rua Mato Grosso. “Eu comecei a trabalhar ali, minha vida começou ali”, lembrou. Para o defensor, entretanto, o novo espaço durante as obras não tem condições de receber júris e, por isso, profissionais como juízes, advogados e promotores já se movimentam para uma nova mudança. 

Apesar dos contratempos com o fechamento do prédio, Quaresma considera que era hora de o fórum ser reformado, já que apresentava diversos problemas, principalmente de logística e também de algumas coisas que precisavam ser modernizadas. O advogado considera que “Chico”, como se refere ao promotor Francisco Santiago, foi quem mais enfrentou nos tribunais do júri e se tornou uma “lenda na casa”.

Santiago agradeceu a homenagem e disse se sentir honrado, mas o fechamento do fórum lhe causa uma emoção maior porque ele não vai poder mais voltar ao local por onde esteve por 30 anos. Com 73 anos de idade, o promotor terá que se aposentar em 1 ano e 7 meses, prazo menor que a previsão para o fim das intervenções. 

“Isso me trouxe uma emoção muito grande. No Fórum Lafayette eu fiz grandes amigos, perdi grandes amigos lá também. Trinta anos é uma vida. A gente fica emocionado, fico triste por não voltar mais ao fórum depois da reforma. Durante meu último júri, na semana passada, eu procurei não lembrar que era o último. E nem senti muito isso, mas quando vi retirarem as cadeiras das salas, a retirada de cadeiras do plenário, ali eu senti um vazio”, detalhou.

Para o promotor, o Fórum Lafayette para os profissionais equivale ao Estádio Mineirão para os amantes do futebol no Estado. De acordo com Santiago, o aluno do Direito se imagina nas salas do fórum, assim como ele sonhava em ser um promotor. “Para mim é ainda mais especial. É na comarca que sou titular, é na minha cidade, onde eu vivi. Em vim pra BH em 1955, tenho muitos anos de Belo Horizonte, então é a minha cidade, eu trabalhar na minha cidade é algo incrível”, finalizou.

Para o defensor público Marcelo Carneiro Vieira, de 62 anos, e que há 27 anos exerce a função, as reformas no prédio são necessárias para que o espaço consiga se adaptar as novas tecnologias. "Quando foi construído, aquele espaço atendia aquilo que precisamos, hoje não mais. As novas instalações, por exemplo, vão acompanhar esse advento do processo eletrônico, que conta com decisões muito mais rápidas", justifica.

O defensor, nascido em Belo Horizonte e formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que as mudanças irão beneficiar a população, que segundo ele, está cada vez mais consciente do papel das instituições de Justiça.  "A sociedade evoluiu muito neste quesito, e isso tem aumentado a procura tanto no Fórum como na Defensoria", explica.

Vieira, que atua como defensor da área de família, revela que já teve experiências singulares no prédio do Fórum Lafayette. Foram momentos, segundo ele, junto a colegas de trabalho e populares, que certamente serão eternizados na memória. "A minha área de atuação sempre tem processos que trazem uma questão emocional muito forte, são audiências difíceis, e isso marca a gente. Mas o Judiciário está cada vez mais preparado para isso também", acrescenta.

O juiz diretor do foro, Sérgio  Henrique Cordeiro Caldas Fernandes, afirmou que o Fórum Lafayette é um espaço repleto de histórias e significados para a cidade de Belo Horizonte. Por isso, o Judiciário realiza cerimônias na noite desta quinta-feira para o “até logo” ser festivo. 

Como serão as obras?

As obras têm como objetivo promover melhorias na acessibilidade, funcionalidade e sustentabilidade do edifício, além de adequações técnicas e de segurança. Inaugurado em 1980, esse será o primeiro grande processo de reforma pelo qual o prédio passará. 
O edifício ocupa área de 12.960 metros quadrados no Barro Preto e tem mais de 43 mil metros quadrados de área construída.

De acordo com a administração do local, as principais mudanças ocorrerão na reconfiguração do layout das salas, celas e salões de júris, além do aproveitamento de espaços ociosos. Também serão instaladas torneiras e descargas com o intuito de economizar água, bem como iluminação de LED e iluminação natural nas áreas de circulação. Outras medidas incluem a substituição completa de pisos e forros, a realização de novas instalações elétricas, hidráulicas e de telecomunicações, e a implementação de um sistema de ar-condicionado central.

Além disso, o projeto de reforma contempla a revitalização da fachada, do gradil e do passeio, a construção de novas saídas de emergência e a implementação de um sistema de controle de acesso setorizado.