Educação

Novo Ensino Médio pode dobrar valor de mensalidade em Minas

Sindicato das escolas particulares acredita ser inviável manter preço com carga horária ampliada

Por Luciene Câmara
Publicado em 27 de setembro de 2016 | 03:00
 
 
Reforma. Para conseguir receber demanda, será necessária ampliação do espaço físico das escolas Foto: Douglas Magno

O Novo Ensino Médio proposto pela Medida Provisória (MP) 746/ 2016, editada na última quinta-feira, deve sair caro para quem tem filho matriculado em escola particular. Por prever aumento da jornada curricular de 800 horas/ano para 1.400 horas/ano, a rede privada em Minas já considera a possibilidade de dobrar os valores das mensalidades, que atualmente variam de R$ 650 a R$ 1.800 no Estado.

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Emiro Barbini, disse que o clima atual na rede é de “preocupação e apreensão” por conta da MP. Esse aumento de jornada vai configurar ensino médio integral desde o primeiro ano.

“Não estamos preparados para receber uma mudança de carga horária como essa. A escola particular é prestadora de serviço, não recebe subsídio do governo, depende da arrecadação de suas mensalidades. E quando dobra a jornada, dobra o custo, e a consequência disso seria dobrar a mensalidade”, disse Barbini.

O aumento de preços seria necessário, segundo Barbini, para contratação de mais professores e funcionários, adequação de espaços, como refeitórios, e ampliação de salas de aula. “Muitas escolas não têm estrutura para isso, já funcionam com todas as salas ocupadas nos três períodos. O resultado seria o fechamento de várias, com demissão de professores e migração de alunos para a rede pública, que também não teria condições de absorver”, analisou.

Ainda segundo ele, a alteração também não seria viável para a rede pública sem que haja multiplicação de espaço. A Secretaria de Estado de Educação foi procurada, mas informou que ainda avalia o Novo Ensino Médio e que o posicionamento será dado em breve.

Em Minas, de acordo com o último Censo Escolar, do ano passado, 81.523 estudantes cursavam o ensino médio na rede privada. Ao todo, são 4.252 estabelecimentos particulares, do ensino básico ao superior.

Mudança. A implantação do Novo Ensino Médio deve seguir o Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê, até 2024, que o formato da carga horária estendida abranja 50% das escolas e 25% das matrículas na educação básica (o que inclui os ensinos infantil, fundamental e médio). De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Educação (MEC), a regra foi inserida para abrir a possibilidade aos Estados, mas não torna a mudança obrigatória. Em outras palavras, serve como uma diretriz para nortear as ações daqui por diante.

Entretanto, para o presidente do Sinep-MG, as propostas foram publicadas sem qualquer discussão prévia com a sociedade, o que parece ser uma imposição. “Mandei ofício para as escolas, para que ficassem tranquilas, mas atentas a nossas orientações”, disse.

Segundo Barbini, os colégios mais caros já costumam oferecer aula em tempo integral como preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mas, se o aumento se concretizar, o ensino nas mais ‘acessíveis’ passaria para, no mínimo, R$ 1.300.

“Não tem a menor condição de aumentar. Já pagamos caro demais”, disse uma mãe, que preferiu não se identificar. Ela tem dois filhos em escola privada, um no ensino fundamental e outro no médio, e não descarta a possibilidade de levá-los para a rede pública em caso de reajuste. “Não gostaríamos, mas sabemos que existem escolas públicas de boa qualidade”.

Pressão. O Sinep-MG promete pressionar o Congresso, em Brasília, para a retirada da MP. A queda no número de alunos na rede privada chegou a 6,5% neste ano em virtude da crise econômica.

Saiba mais

Disciplinas. A MP publicada na sexta-feira retirou a obrigatoriedade do ensino de artes, educação física, filosofia e sociologia, pelo menos até uma nova etapa da reforma: o segundo ano letivo após a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Flexibilização. Outro eixo é a possibilidade de o aluno dividir o ensino médio em duas etapas. Do primeiro ano até a metade do segundo ano, ele cursaria o conteúdo básico já oferecido. Na outra metade, escolheria a área de maior ênfase: linguagens, matemática, formação técnica, entre outras.

Protesto. Cerca de 300 estudantes protestaram nessa segunda-feira (26), em São Paulo, contra a MP. O ato foi convocado pelas redes sociais por um grupo intitulado Estudantes Libertários Autônomos.

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Rede estadual

Em Minas, nenhuma escola é integral

A rede estadual de ensino em Minas, responsável por oferecer o ensino médio, não tem atualmente nenhum aluno em tempo integral, como sugere a medida provisória (MP) 746/2016. No último Censo Escolar, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) no ano passado, eram 92 jovens estudando com carga horária estendida, o que equivale a 0,01% do total – 787.359, incluindo as redes municipal, particular e federal.

A Secretaria de Estado de Educação (SES) informou que esses estudantes não eram de escolas estaduais, já que a rede não oferece e não oferecia ensino integral. O índice coloca Minas entre os Estados com o pior desempenho no ranking de escolas que já oferecem o modelo, ao lado de Roraima, com 0%.

O ensino integral é adotado em vários países, que consideram o método mais eficaz para o aprendizado. Em 2015, o governo de Minas suspendeu o programa Reinventando o Ensino Médio, implantado em 2011, que ampliava de 2.400 para 3.000 o número de horas dos três anos dessa fase escolar. O foco do programa era a empregabilidade. Na época da retirada, a SEE informou que o projeto passaria por avaliação. Nessa segunda-feira (26), a pasta não comentou a retirada da proposta.


Resposta

MEC. A pasta ressaltou que a medida provisória não está impondo nada, ela apenas abre possibilidade para os Estados que queiram aderir ao ensino médio em tempo integral e ao currículo flexível.