Itabirito

Ocupação em volta de fábrica ameaça lago que abastece BH

Amda denuncia aumento desordenado do número de imóveis ao lado de área de proteção ambiental

Seg, 14/04/14 - 03h00

Enquanto caminhões e operários não param de trabalhar na construção da nova fábrica da Coca-Cola em Itabirito, na região Central de Minas, também segue a todo vapor o processo de ocupação das áreas ao redor do empreendimento, às margens da BR–040. De acordo com estudo técnico desenvolvido pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), o número de residências na região triplicou a partir de 2011. A entidade protocolou, em fevereiro, uma representação no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciando os diversos prejuízos para a fauna, a flora e, principalmente, os cursos d’água responsáveis pelo abastecimento de parte da região metropolitana.


A fábrica da Coca-Cola Femsa Brasil, maior franquia da marca de refrigerantes no mundo, começou a ser erguida no Distrito Industrial de Itabirito no fim de 2011. A previsão é que o funcionamento comece ainda neste semestre. Ao lado também surgiu o bairro Água Limpa, já na divisa como o município de Nova Lima, na região metropolitana, e a quase 50 km do centro de Itabirito.

Segundo a Associação de Moradores Balneário, que representa o bairro, 2.113 pessoas já foram cadastradas. Já o número de lotes chega a 13 mil. A maioria dos loteamentos é fruto de invasões. As casas dependem de água de minas e poços artesianos, e muitas só têm energia por meio de ligações clandestinas – os chamados “gatos”.

“Aquela área é uma região de proteção de mananciais e foi considerada como de necessidade extrema para a preservação da fauna e da flora. O Estado, ao conceder a concessão ambiental, não considerou os efeitos radiais daquele empreendimento”, disse o biólogo da Amda, Francisco Mourão.

Risco. Parte do terreno da fábrica está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Sul, e a região possui o principal manancial de água utilizado no abastecimento da região metropolitana: o Bela Fama. Com o adensamento populacional, a Amda já prevê aumento do esgoto, do lixo e da erosão sobre cursos d’água. “Vai piorar muito. Com esse movimento especulativo e sem o controle governamental, em pouco tempo haverá uma cidade ali”, avaliou Mourão.

O biólogo contou que pediu à Coca-Cola e à Prefeitura de Itabirito que identificassem as ocupações e promovessem ações para organizar os loteamentos, o que foi negado, segundo ele. No documento enviado ao MPMG, a Amda destaca o risco de se fazer um distrito industrial sem estabelecer regras claras de ocupação no entorno. “As pessoas se deslocam para a região em busca de trabalho, e não há qualquer planejamento do uso do solo por parte do poder público (...), resultando no processo de favelização nos arredores”, diz o texto. 

Saiba mais

Moradias. Segundo o estudo da Amda, em 2011 havia 61 domicílios na área. Neste ano já são 268.

Licenciamento. A Amda afirma que o Distrito Industrial escolhido para sediar a fábrica passou por conturbado processo de licenciamento ambiental, que não considerou os loteamentos já existentes.

Estudo. A associação relata ao MPMG que pediu à Coca-Cola, em 2009, que elaborasse estudos em um raio de 5 km do empreendimento, visando identificação de possíveis áreas que mereçam ser transformadas em unidades de conservação. Eles não teriam sido feitos.

Água. O prejuízo para os recursos hídricos também é previsto na representação. A Amda já fala em conflitos por água entre poder público, empresários e mineradoras.

MPMG

Análise. O MPMG informou que, para tomar as medidas cabíveis, aguarda a conclusão de relatório – prevista para o fim deste mês – que avalia os impactos da fábrica e da ocupação na região.

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