Superlotação

Pacientes com dengue esperam até 11 horas para serem atendidos em BH

Com escala reduzida em 50% por conta do feriado, Centros de Saúde e UPAs da capital ficam superlotados de pessoas com sintomas da dengue.

Qui, 18/04/19 - 17h04
Na UPA Barreiro era tanta gente com sintomas da dengue que parte da recepção precisou ser isolada com biombos para hidratação dos pacientes, enquanto aguardavam atendimento médico | Foto: João Lêus

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O feriado prolongado da Semana Santa começou com superlotação em alguns centros de saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte, com pacientes com sintomas da dengue.

Na região do Barreiro, pessoas que se queixavam de fortes dores no corpo, e de outros sintomas da doença, tiveram que esperar mais de 11 horas para serem atendidas por um médico, ou aguardavam resultados de exames que eram levados para serem feitos nas UPAs.

Até o meio da tarde, o Centro de Saúde Tirol já havia atendido 60 pacientes com dengue. A UPA Barreiro atendeu mais de 400 pessoas com sintomas da doença e muitas deles aguardavam internação hospitalar. A estratégia do município foi manter reforço de funcionários, de equipamentos, insumos e de sais de hidratação nas UPAs.

O gerente de urgência da Secretaria Municipal de Saúde, Alex Sander Sena, não descarta a possibilidade de criação das Unidades de Reposição Volêmica (URVs), um misto de unidade de pronto-atendimento e de unidade de internação, para hidratar com soro pessoas com sintomas da dengue por até quatro horas, até serem liberadas.

“É uma nova estratégia que estamos acabando de montar, para desafogar os leitos das UPAs”, disse o gerente. Em 2016, a mesma estratégia foi montada no segundo andar do HOB.

Normalmente, as unidades básicas de saúde não funcionam nos feriados, mas a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), para diminuir o impacto, suspendeu a programação anterior e abriu os 152 postos de saúde em escala mínima, com 50% da capacidade. Unidades de emergência, como UPAs e Hospital Odilon Behrens, funcionaram e Samu funcionaram 100%.

A dengue alcançou a marca de 121.699 notificações em Minas, um aumento de 649% na comparação com os quatro primeiros meses do ano passado. Em Belo Horizonte, onde já são 13.713 casos prováveis da doença, unidades de saúde da rede pública, e também privada, estão sendo afetadas diante de tanta procura.

No bairro Mangueiras, a dona de casa Delzita Ferreira Alves, de 64 anos, conta que procurou o centro de saúde do bairro na quarta-feira, mas, ao ver tanta gente esperando atendimento, a maioria com suspeita de dengue, e muitas pessoas eram transferidas em veículos da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para as UPAs, ela disse ter desistido de esperar e voltou para casa.  Desde quarta-feira, Delzita está prostrada no sofá da casa dela, sendo cuidada pela família.

Alex Sander Sena admite que a capital mineira vive uma “explosão de demanda” de alguns atendimentos. “Não é só dengue. Tem o que a gente chama de síndrome respiratória, que são os quadros infecciosos. Essas duas situações fizeram aumentar muito a demanda no atendimento nas unidades, tanto básica, como centros de saúde, quanto nas Unidades de Pronto-atendimento ”, disse o gerente de urgência.

Nos meses de março e abril, os atendimentos nessas unidades aumentaram entre 40% e 50%, segundo Alex Sander. De acordo com ele, unidades como as do Barreiro atraem pacientes de outros municípios, como Contagem, Betim e Ibirité e Sarzedo.

O gerente disse que estão transferindo pacientes dos centros de saúde para a UPAs, embora elas também estejam lotadas, por oferecerem condições de atendimento emergenciais.

Segundo ele, os centros de saúde normalmente estariam fechados nesta quinta-feira por conta do feriados, mas, em função da grande procura, todos funcionaram com 50% da sua capacidade.

No Centro de Saúde do Tirol, também no Barreiro, a recepção ficou lotada de pessoas nesta quinta-feira, com suspeita de dengue. Algumas pessoas chegaram às 7h e até as 14h não haviam sido atendidas.

Na UPA Barreiro, no bairro Diamante, na mesma região, era tanta gente com dores no corpo e outros sintomas da dengue que parte da recepção precisou ser isolada com biombos para hidratação dos pacientes, enquanto aguardavam atendimento médico. Tinha gente esperando há mais de oito horas.

A operadora de caixa Simone Sanches, 49, reclamou que chegou ao Centro de Saúde Tirol às 6h40 e ainda não tinha sido liberada às 12h50. A demora, segunda ela, foi por conta do resultado dos exames. “Muita gente com dengue. A região do Barreiro tem uma epidemia de dengue. O atendimento deveria ser mais rápido, pois está todo mundo com dor de cabeça, no corpo. Dói tudo”, reclama Simone. Apenas dois médicos atendiam no local, nesta quinta-feira.

"Deveria ter mais gente trabalhando. As crianças e os idosos sofrem mais. A gente ainda consegue aguentar a dor, mas eles deveriam ter prioridade”, reagiu a operadora de caixa. “A suspeita é que eu tenha zica. Minhas plaquetas estão muito baixas”, comentou.

Alex Sander explicou que as unidades básicas não têm laboratório para exames. As coletas feitas nos pacientes são encaminhadas para as UPAs ou para o laboratório distrital. “Realmente, a gente não libera as pessoas antes dos resultados. Se o paciente tiver uma alteração, uma queda de plaqueta, ou uma queda de hemograma, esse paciente tem que ser internado. Por isso, a demora em aguardar”, justifica o gerente. “Realmente, a espera está muito grande. Nosso volume de atendimento aumentou muito”, disse.

A faxineira Maria Gorete da Silva, 53, chegou às 8h ao Centro de Saúde do Tirol e também aguardava pelo resultado dos exames, às 13h.

“Ontem (quarta-feira), eu estive aqui às 8h, fiz outro exame e esperei até as seis da tarde. Eles falam que a gente precisa ficar de repouso, mas não liberam a gente para ir para casa. Poderiam, ao menos, avisar a gente que o resultado do exame é demorado e mandar a gente esperar em casa”, reclama a faxineira.

“Não podemos sair daqui, pois eles podem chamar a gente. Estou passando mal, com fome, pois não tem nenhum lugar aqui perto para comer direito”, reagiu Maria Gorete.

A desempregada Paloma Cristina Gonçalves, 25, não aguentou ficar sentada na recepção do Centro de Saúde Tirol, por causa das dores no corpo, e procurou um banco no lado de fora para esticar o corpo. “Muita dor, febre e manchas no corpo. Cheguei antes das 10h, fui atendida e agora espero na fila farmácia. O atendimento aqui está muito demorado", reclamou.

No Centro de Saúde Mangueira, a dona de casa Marinez Cardoso Almeida, 58, que havia chegado às 7h, ainda aguardava pelos resultados dos exames às 13h30. “Não aguento tanta dor de cabeça, dores nos pés, nos joelhos. É muito difícil sentir dores e ficar esperando nessas cadeiras duras. Eu já sentei aqui, já fui lá para fora, já deitei ali. Não tenho paciência de ficar sentada no mesmo lugar por muito tempo. Dói demais. A vontade é de ficar na cama”, disse.

UPA

A dona de casa Maria Joelma da Silva, 22, chegou às 9h40 na UPA Barreiro. Às 14h, ela ainda não havia conseguido atendimento para a filha Heloísa, de 1 ano e 8 meses, que apresentava todos os sintomas da dengue.

“Ela estava vomitando, com febre e diarreia. Já são duas horas da tarde e a gente só passou pela triagem. A minha filha não foi atendida ainda. Só me deram a pulseira verde”, reclamou a mãe. “Não posso nem sair para almoçar, pois eles podem me chamar. A sorte é que a minha filha está mamando, comendo biscoito e tomando água”, comentou.

A servente de limpeza Eliete Ferreira dos Santos, 41, disse ter chegado às 6h40 à UPA Barreiro e, às 14h, também não tinha sido atendida. “Passei pela triagem, estou sentindo muita dor, mas, até agora, nada”, desabafou. “Não estou aguentando de tanta dor nas costas”, reforçou.

Eliete disse que começou a passar mal na madrugada de quarta-feira. “Fui ao posto de saúde do Bairro das Indústrias, que estava lotado, e eles me mandaram para a UPA. Disseram que não têm como fazer exames lá”, disse.

A dona de casa Ana Paula Ferreira de Souza, 31, moradora do bairro Diamante, esperou das 8h às 14h05, na UPA Barreiro, e ainda não havia previsão de atendimento. “Estou com sintomas da dengue e com um caroço na garganta. Eu vim aqui na segunda-feira, ao meio-dia. Quando foi meia-noite, eu ainda não tinha sido atendida. Como eu estava com febre muito alta, eu fui para casa. Não aguentei ficar e voltei hoje de novo. É demora demais para fazer a triagem, demora para passar na médica, demora para tudo”, reclamou. “Teve um senhor idoso que passou mal sentado aqui. Ele chegou meia-noite e só foi atendido 11h40 da manhã. É um verdadeiro descaso”, reagiu.

RESPOSTA

Em nota anterior, a PBH informou que ampliou dias e horários de atendimento em alguns centros de saúde. Disse que os 152 centros de saúde da capital estão preparados para atender pacientes com dengue, com equipes capacitadas para acolher as pessoas.

Ainda de acordo com o município, os postos de saúde funcionam das 7h às 18h. Nos dias e horários em que eles estiverem fechados, as pessoas devem buscar assistência nas UPAs, que funcionam 24 horas.

No próximo sábado (20), quatro postos de saúde ficarão abertos, das 7h às 17h, para atender exclusivamente pacientes com sintomas de dengue. São eles: Centro de Saúde São Paulo (rua Angola, 357, no bairro São Paulo, região Nordeste), Santa Terezinha (rua Senador Virgílio Távora, 157, no Santa Terezinha, região da Pampulha), Tirol (avenida Nélio Cerqueira, 15, no Barreiro) e Andradas (rua Mariana Amélia de Azevedo, 21, no São João Batista, Venda Nova).

Ainda de acordo com a PBH, esses locais foram escolhidos a partir do número de casos nas regiões em que há maior incidência de dengue. Nesta sexta-feira (19), os centros de saúde estarão fechados e o atendimento será prestado nas nove UPAs e nos serviços de urgência dos hospitais da rede SUS-BH.

 

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