"Não posso ser preso. Tudo aqui na região gira em torno de mim". Foi com essa justificativa que um homem de 25 anos, conhecido pelo apelido de "Paizão", tentou comprar policiais para escapar da prisão nessa quarta-feira (21) na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Junto com o suspeito, outros oito integrantes do grupo foram detidos.
De acordo com o sargento Marlúcio Magalhães Martins, do 13º Batalhão de Polícia Militar, a desarticulação de uma das principais quadrilhas do bairro Jardim dos Comerciários aconteceu depois que um foragido da Justiça, em data anterior, fez ameaças a um policial no aglomerado da Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte, e foi pedir abrigo a Paizão.
"Montamos uma ação conjunta entre militares do 13º Batalhão, 49º e da corregedoria e deslocamos até Venda Nova. Lá, nos deparamos com o Paizão e mais dois homens em atitude suspeita dentro de um Voyage. Nada de ilícito foi encontrado, mas Paizão disse que o carro era roubado", explicou o militar. No veículo também estavam mais dois homens de 32 e 44 anos, que acabaram detidos.
Para tentar escapar da prisão, o traficante ofereceu aos policiais armas, maconha e carros roubados. A equipe fingiu aceitar e o homem levou os militares até um casal que mora na rua Altamir Corrêa de Jesus. No imóvel, ele ordenou que um jovem de 18 anos e uma a adolescente de 16 entregassem um fuzil 765 que estava escondido debaixo da cama.
"Depois que ele mandou que a arma fosse entregue, uma das equipes o levou de volta para viatura. Com isso, ele não percebeu que o casal acabou detido também. Como o Paizão ofereceu carros, perguntamos onde os veículos estavam e ele pediu para fazer uma ligação", disse o sargento.
Do próprio celular, ele ligou para um adolescente de 17 anos e pediu que fosse ao seu encontro. O menor apareceu em uma motocicleta acompanhado de outro homem. A dupla levou os policiais até o esconderijo do Gol. O veículo estava sendo usado para realização de roubos a pedestres na região Norte de BH.
Ainda sem saber que quatro comparsas já estavam detidos, Paizão fez outra ligação. Dessa vez, um outro homem foi incumbido de levar ao traficante um revólver calibre 32 com três munições.
"Perguntamos ao Paizão da droga que ele tinha prometido. O traficante ligou para 'Pedrinho Boy' e pediu que ele liberasse quatro quilos de maconha. No local combinado foi encontrada uma sacola com quatro tabletes da droga, mas o Pedrinho não estava lá. Ele fugiu no Eco Sport do pai e não conseguimos localizá-lo", afirmou Martins.
A última parada foi feita na casa do pai de "Pedrinho Boy". Com a ajuda da cadela Jade, da Rondas Ostensivas com Cães (Rocca), policiais iniciaram as buscas por mais drogas. Com bom faro, a cachorra encontrou uma mala de viagem cheia de tabletes de maconha , totalizando aproximadamente 100 kg.
Em um cofre foi localizado um cartucho calibre 36 e R$ 1.400. Durante a ação no imóvel, um menor de 15 anos disse que era o dono do entorpecente e se ofereceu para ficar no lugar de Paizão. Ao verificar o nome do garoto, a equipe descobriu que ele tinha um mandado de apreensão em aberto. Todos os envolvidos foram encaminhados à Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad).
O foragido da Justiça que fez com que toda a ação começasse não foi localizado.
Paizão achou que estava tudo sob controle
Por todos os comparsas que passou, Paizão quis mostrar que estava no comando da situação e que os policiais seriam comprados. "Durante todo o tempo, ele realmente achou que seria solto e disse para ninguém se preocupar. No entanto, quando viu que todo mundo foi detido, ele quis jogar a responsabilidade para cima dos comparsas, que, por medo, tentaram livrar a cara do líder", disse o policial.
A operação da Polícia Militar pegou aos moradores do Jardim dos Comerciários de surpresa. Eles não esperavam que o chefe do tráfico fosse preso. "Ele é bem conhecido e temido na área. Algumas pessoas pararam para assistir as prisões. Desarticulamos uma grande quadrilha e agora o bairro ficará mais tranquilo", finalizou o sargento.
Maconha foi comprada por R$ 45 mil
Após a prisão de todos os comparsas, Paizão não quis detalhar como funcionava o esquema de tráfico de drogas na região. Ele apenas disse que a maconha apreendida foi comprada por R$ 45 mil e seria distribuída entre os comparsas para consumo.
Crimes
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, os seis maiores foram presos em flagrante por tráfico de drogas, associação para o tráfico, posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, posse ilegal de arma de fogo de uso permitido e receptação.
Os três adolescentes foram apresentados à Justiça pelo atos infracionais análogos aos mesmos crimes dos outros bandidos.
Atualizada às 13h19
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