Estudo

PBH vai realizar diagnóstico de jacarés na lagoa da Pampulha

Meta é conhecer animais que habitam o local há décadas e contribuir para a preservação da fauna

Por Rafaela Mansur
Publicado em 22 de agosto de 2018 | 03:00
 
 
População. Estudo indica que há 20 jacarés-de-papo-amarelo na lagoa, cuja água está sem tratamento Foto: Ramon Bitencourt

A Prefeitura de Belo Horizonte lançou uma licitação para contratar a realização do primeiro censo dos jacarés da lagoa da Pampulha e de um diagnóstico da situação dos animais. O objetivo do certame, publicado nesta terça-feira (21) no “Diário Oficial do Município”, é conhecer mais os bichos que habitam o local há décadas e contribuir para a preservação ambiental e da fauna.

A empresa vencedora da licitação terá quatro meses, a partir da assinatura do contrato, para monitorar os jacarés e elaborar um relatório contendo informações como o número, a espécie e a faixa etária dos animais, uma análise da interação entre eles e o ambiente, detalhes da reprodução dos bichos e um parecer sobre se oferecem risco às pessoas e à prática de esportes náuticos na lagoa. A expectativa é que os trabalhos comecem ainda neste ano.

O monitoramento será feito, por exemplo, por meio de visitas de barco à lagoa, registros fotográficos e mapeamento por GPS dos locais de reprodução dos animais. “É um diagnóstico com fins de conservação e preservação ambiental”, afirmou gerente de defesa dos animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Leonardo Maciel.

Segundo ele, estudos iniciais indicam que há cerca de 20 jacarés-de-papo-amarelo na lagoa, espécie que esteve em risco de extinção no passado, mas conseguiu se adaptar melhor a áreas urbanas. Os animais são pequenos, não alcançando 2 m. Eles não atacam humanos e se alimentam de peixes e bichos pequenos. No Brasil, os únicos acidentes relatados ocorreram devido à tentativa de retirar os animais manualmente de redes de pesca.

“Nós não acreditamos que haja uma superpopulação na lagoa. Não temos nenhuma expectativa de que os jacarés tenham que ser retirados da lagoa. Se houver necessidade de controle populacional, a prefeitura vai estudar um plano de manejo, que, provavelmente, vai passar pelo impedimento da reprodução descontrolada. Uma forma seria a retirada dos ovos dos ninhos para evitar que nasçam muitos animais”, explicou Maciel.

Segundo ele, quando animais são confinados no mesmo local e não há entrada de novos espécimes, há o risco de a espécie ter problemas genéticos devido ao acasalamento de parentes.

De acordo com o professor de produção e nutrição de animais de estimação e silvestres da Escola de Veterinária da UFMG Leonardo Bôscoli, é importante que a população de jacarés na lagoa permaneça pequena. “Dessa forma, o risco de acidentes fica baixo”, afirma.

O comerciante Bruno Barbosa, 63, que vende água de coco na orla, gosta de ver os jacarés na lagoa: “Eles não mexem com a gente, não. Eles e as capivaras são a diversão da meninada”.

 

Sem previsão de reinício de tratamento

Após o término do contrato de tratamento da água da lagoa da Pampulha, em março, não há previsão de quando os trabalhos serão reiniciados. Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, isso vai ocorrer “em breve”. A pasta afirmou que não é possível afirmar se a água permanece na classe 3, conquistada no ano passado, que permitia, por exemplo, a prática de esportes náuticos.

De acordo com a secretaria, mesmo com o quadro de piora na qualidade da água após o encerramento do contrato, a “lagoa está muito distante do quadro de deterioração de 2015, antes da aplicação das tecnologias de tratamento”. A secretaria informou que realiza, diariamente, a limpeza do espelho d’água da lagoa. 

Já a Copasa declarou que atingiu 95% de remoção de esgoto da lagoa e busca alcançar os 100%. A empresa disse que já foram investidos R$ 105 milhões nos trabalhos.

 

Manejo está 65% concluído

Cerca de 65% do trabalho de manejo das capivaras que vivem na orla da lagoa da Pampulha foi concluído, o que significa que em torno de 42 dos 65 animais identificados foram esterilizados, receberam carrapaticida e passaram por exames antes de serem soltos novamente no local. A expectativa é que as atividades sejam concluídas até o fim de outubro, prazo final do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público.

“O censo que foi realizado no começo do ano computava 65 animais. Não é um número exato, porque morre uma idosa, nasce um filhote, pode haver uma variação um pouco para mais ou para menos. O que interessa ao fim do trabalho é que não haja mais reprodução e que o número de capivaras esteja definido como final de população”, explica o gerente de Defesa dos Animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Leonardo Maciel.

Segundo ele, os exames apontam que praticamente todas as capivaras adultas já tiveram contato com a febre maculosa e não estavam mais transmitindo a doença. “O animal só tem a doença uma vez na vida, por um período curto de tempo, e depois não a transmite mais”, afirma.

A prefeitura deve lançar uma nova licitação para continuar o trabalho em 2019. “Vai envolver basicamente a aplicação de carrapaticidas periodicamente para que os animais possam, levando o remédio no próprio corpo, descontaminar a lagoa dos carrapatos transmissores da doença. Ao mesmo tempo, a prefeitura quer continuar a coleta de carrapatos para o manejo ambiental”, diz.

Saiba mais

Modelo. A licitação será feita por meio de pregão eletrônico. O valor será definido durante as negociações com a empresa a ser contratada.

Mistério. A origem dos jacarés na lagoa da Pampulha é desconhecida. Segundo o gerente de defesa dos animais, Leonardo Maciel, eles podem estar no local desde a inauguração da lagoa, na década de 30, podem ter sido trazidos por pessoas ou chegado por meio de afluentes.

Pampulha. Nova licitação para o desassoreamento na lagoa já foi homologado. O novo contrato, que prevê a retirada de 130 mil m3 por ano de sedimentos e terra do fundo do manancial, ficará em vigência até 2022. Serão investidos R$ 33 milhões.