BH

PM muda estratégia e troca companhias por bases móveis

Para analistas, medida afasta os militares da comunidade e será adotada apenas para gerar economia

Por Aline Diniz
Publicado em 22 de junho de 2017 | 03:00
 
 
Vistoria. O governador Pimentel disse que as bases de segurança começarão a funcionar em agosto Foto: Manoel Marques

A Polícia Militar (PM) vai mudar a estratégia de patrulhamento em Belo Horizonte. Entre as alterações, há um estudo de fechamento de companhias que compõem os batalhões. Em vez do prédio que serve de apoio para militares, haverá bases de segurança – semelhantes às vans usadas atualmente como bases móveis. Para especialistas em segurança e fontes extraoficiais, a mudança é um retrocesso e acontece apenas para economizar. Já o major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da PM, diz que a modificação não tem relação com gastos e o objetivo é colocar mais policiais nas ruas.

Especialista em segurança e militar reformado, Jorge Tassi considera que a mudança de estratégia tem relação direta com a situação financeira do Estado. “A contenção de despesas pode estar determinando esse tipo de ação”, analisa. Ele considera que, com o fechamento de companhias, o Estado economizaria com o aluguel dos prédios. Em casos de edificações próprias, elas poderiam ser usadas para outros fins.

Para o deputado Sargento Rodrigues (PDT), o motivo da mudança é mesmo a redução de gastos. Ele classifica a medida como um retrocesso. “Nos últimos 20 anos houve um processo de descentralização (com a criação das companhias) para distribuir o policiamento e aproximar a polícia da comunidade. (Essa mudança) é o maior engodo de todos os tempos”, avalia.

O major Santiago vê a criação de bases de segurança como uma maneira de acentuar a descentralização. “O modelo de bases móveis, mesmo sem a edificação da companhia, amplia isso. Um modelo de desconcentração, em vez de um ponto fixo, passo a ter quatro”, explicou. O major acrescentou que os militares que cuidam, por exemplo, da segurança da edificação da companhia, poderão participar do patrulhamento. O estudo sobre o fechamento das unidades leva em consideração aquelas companhias que funcionam em prédios alugados, além do sucateamento da unidade e da localização.

Comunidade. Para moradores e comerciantes de bairros como Padre Eustáquio, Caiçara e Bonfim, na região Noroeste, a mudança nos planos de patrulhamento trazem preocupação.

Pessoas próximas do comando da PM e policiais informaram que a 9ª e a 21ª Companhias, que atuam na região, podem ser fechadas em agosto. A PM confirmou que há um estudo nesse sentido, mas não informou o prazo para o término das análises.

De acordo com o major Flávio Santiago, cada companhia pode ser substituída por quatro ou cinco bases de segurança. Quatro policiais trabalharão por turno nesses veículos. Dois policiais ficarão dentro das bases e a outra dupla fará o patrulhamento. A PM não informou quantas pessoas trabalham em uma companhia, nem seu custo mensal.


Efetivo em BH é de 4.800 militares

Efetivo. A PM tem cerca de 4.800 militares no Comando de Policiamento da Capital. Segundo o Sargento Rodrigues, trabalham entre cem e 200 homens em cada companhia. A capital tem 24 companhias, além de unidades do Tático Móvel e de Trânsito.

Bases. O governador Fernando Pimentel vistoriou ontem os 86 veículos que serão usados como bases móveis a partir de agosto. A estratégia deve ser adotada em outras áreas, começando por Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Uberlândia, no Triângulo, até o fim do ano.


Análise

Distanciamento é o maior prejuízo

A 9ª companhia do 34º Batalhão de Polícia Militar (PM) fica na avenida Tereza Cristina, no bairro Padre Eustáquio, na região Noroeste da capital. Moradores e comerciantes da região consideram a localização da companhia estratégica, já que a Via Expressa é uma das rotas de fuga de criminosos. Eles receberam com receio a notícia de que a corporação estuda fechar a unidade.

“A segurança começou a melhorar, a presença da polícia vem inibindo a ação de criminosos. Se a companhia fechar, vai aumentar com certeza”, considera um comerciante da região, de 40 anos, que pediu para não ser identificado. Ele acredita que “nada substitui uma companhia onde a comunidade tem acesso” e reclama que a comunidade não foi consultada.

Análise. Especialista em segurança e militar reformado, Jorge Tassi explica que o maior prejuízo do fechamento seria o distanciamento entre comunidade e o comando das unidades. Ele explica que, atualmente, líderes de associações, representantes políticos e entidades públicas têm acesso aos policiais que chefiam as companhias. Essa relação é importante para que o comandante conheça a realidade da comunidade e o patrulhamento seja mais eficaz. Se as companhias forem levadas para dentro dos batalhões, haverá um distanciamento geográfico entre as comunidades e os militares. O especialista diz que as bases de segurança devem existir, mas não em substituição às companhias.
O major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da PM, garantiu que os comandantes vão circular pelas bases de segurança. (AD)