Intervenção do MPMG

Polêmica sobre gorilinha é 'tempestade em copo d'água', diz Lacerda

Órgão recomendou que nome não seja africano para evitar apologia ao racismo; prefeito afirma que nome de animal não será alterado e fala que MP deveria dar atenção a assuntos mais relevantes

Ter, 16/12/14 - 11h10

O prefeito Marcio Lacerda criticou a intervenção do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), na manhã desta terça-feira (16), que recomendou, após uma representação, que o nome do segundo gorila nascido no Zoológico de Belo Horizonte não seja de origem africana, para que não fosse remetido a uma atitude de racismo.

"Eu acho que está se fazendo tempestade em copo d'água. Certamente eu não sei se são nomes próprios, não sei se na África isso seria um ato de racismo, aqui não está sendo, são nomes carinhosos, de um significado bonito e nós achamos que colocar um nome africano, independentemente de ser nome próprio ou não, seria dar ao gorilinha sua identidade africana. E nós respeitamos muito a identidade africana, tanto que colocamos o nome de vários viadutos da Antônio Carlos de países africanos. Nós respeitamos a cultura africana e somos contra qualquer forma, velada ou clara, de racismo", afirmou Lacerda durante o evento de lançamento do serviço de atendimento online de resultados de exames, no centro da capital.

Nessa segunda-feira (15), o MPMG divulgou a decisão das promotoras de Justiça Nívia Mônica da Silva e Cláudia Amaral Xavier. De acordo com elas, “muito embora bem intencionada, a votação pode atuar em sentido contrário ao pretendido: ao invés de prestar uma homenagem ao continente africano, contribuirá, por certo, para a perpetuação de uma opressão sistêmica e estrutural ao povo negro”.

No dia 9 de dezembro, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recebeu representação do Instituto de Inovação Social e Diversidade Cultural (Insod), tratando da existência de uma votação virtual, promovida pela Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, objetivando a escolha de nome para um dos gorilas nascidos no zoológico da cidade.

Na representação, o Insod diz ser “inaceitável a postura da Fundação, no sentido de vincular um ícone histórico de racismo – o macaco – a nomes de origem africana, com o intuito, segundo a Fundação, de fazer homenagem à origem africana do animal, sem levar em consideração a magnitude dos danos aos grupos étnicos-raciais diretamente atingidos”.

Diante disso, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos (CAO-DH) e a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos de Belo Horizonte expediram, no dia 12 de dezembro, uma recomendação à Fundação Zôo-Botânica para o imediato cancelamento da votação mencionada, ou, alternativamente, a substituição dos nomes por outros que não contenham origem africana.

Segundo a assessoria da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, a votação para a escolha do nome do gorilinha terminou nessa segunda-feira (15) e a divulgação do resultado, que seria realizada nesta terça-feira (16), foi suspensa, até que a Procuradoria-Geral do Município (PGM) termine a avaliando quanto à recomendação do MPMG. "O nome do gorilinha escolhido pelos moradores de Belo Horizonte será divulgado assim que o caso for devidamente esclarecido", disse a prefeitura em nota.

Na avaliação do prefeito, a atenção do MPMG poderia ser direcionada para assuntos mais relevantes. "Eu acho que o Ministério Público acaba se envolvendo em assuntos de pouca importância. Há tantos assuntos importantes da sociedade para merecer a atenção do MP, a pichação por exemplo, e que não tem essa devida atenção. Portanto eu acho que é uma polêmica vazia e nós não pretendemos mudar os nomes dos gorilinhas", garante.

Opções de nome

O filhote macho dos gorilas Imbi e Leon ainda não foi batizado. Como opções, a população de Belo Horizonte poderia escolher entre Ayo, que tem como significado “felicidade”, Bakari, que significa “o que terá sucesso”, e Jahari, que significa “jovem forte e poderoso”.

Repercussão 

Muitos leitores de O TEMPO concordam com o prefeito e criticam a ação do MPMG. Pela internet, a população se posicionou sobre o caso.

"O problema é que gorilas vêm da Escandinávia, então é obviamente racismo escolher um nome de origem africana", comentou.

"Tudo que acontece no Brasil é motivo pra ser taxado de racismo. Ta ficando chato isso já. É um policiamento das atitudes, dos comentários, das manifestações", falou um outro leitor.

"Então nomear um gorila, animal tipicamente africano, com uma palavra bonita em africano, agora é racismo... não sei dizer se isso é a total baixa auto estima das pessoas que ficaram ofendidas ou se é o politicamente correto sendo extremamente ridículo novamente. Esse tipo de atitude gera mais racismo que diminui com o mesmo", posicionou uma terceira pessoa.

Dê também a sua opinião sobre a questão, respondendo a enquete do portal O TEMPO, clicando aqui.

Atualizada às 12h31

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.