Extorsão

Polícia desarticula quadrilha que fez agricultores reféns por 5 dias

Entre os suspeitos está uma mulher de 25 anos, que age em Pedro Leopoldo e Matozinhos e é "queridinha" de criminosos

Seg, 16/10/17 - 20h08

A Polícia Civil apresentou na tarde desta segunda-feira (16) quatro pessoas que armaram um golpe contra dois agricultores de Goiás que vieram para Minas Gerais na última quarta-feira pensando que comprariam um trator, mas foram vítimas de extorsão mediante a sequestro por cinco dias. Entre os suspeitos está uma mulher de 25 anos, apontada como uma das chefes da ação.

Conhecida como a “poderosa” do crime em Pedro Leopoldo e Matozinhos, ambas na região metropolitana, ela colocou o plano em prática há cerca de 15 dias, com a ajuda de seu parceiro de bandidagem. Da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na mesma região, onde está detido, ele anunciou um trator em um site de compra e venda – com valor de mercado de R$ 140 mil, ele foi oferecido por R$ 80 mil.

Interessados, pai e filho, que são agricultores, negociaram com o criminoso, sem saber que ele estava dentro da penitenciária, e chegaram a Minas na última quarta-feira para concluir o trato. As vítimas foram recebidas pela mulher, que, com outros quatro criminosos, rendeu as vítimas e as manteve em cativeiro até anteontem, quando o cativeiro foi descoberto pela polícia.

‘Musa das quebradas’

A suspeita tem um histórico criminal extenso. Ela deixou a prisão há dois meses, após ficar um ano presa por roubo de veículos. “Ela tem uma desenvoltura com os criminosos. Os bandidos que estão presos confiam nela. Ela faz de tudo: rouba, tem envolvimento com o tráfico de drogas e receptação”, explicou o delegado Felipe Freitas, do Departamento de Operações Especiais (Deoesp).

Durante coletiva de imprensa, a mulher não confessou participação no crime, mas se mostrou fascinada pela vida de bandida que leva. “Não entrei no crime por necessidade, eu quis. Já estive presa e lá (na prisão) é normal. Agora estou presa novamente e vou pagar”, se limitou a dizer.

Minientrevista

Vítima de 37 anos

Por que o senhor veio a MG? O homem (Helton), que se identificava como José Carlos, disse que tinha falido e precisava vender o trator mais barato.

Não desconfiou?  Não. Ele falou que mandaria os filhos para mostrar a máquina. Aí apareceu a mulher. Quando chegamos ao local e vimos as outras pessoas armadas, a ficha caiu.

O que aconteceu no cativeiro? Eles pegaram nossos cartões, compraram joias e abasteceram carros. Fizeram eu ligar para minha mulher e pedir para depositar o valor do trator, mas ela desconfiou e acionou a polícia.

Cativeiro a pão e água

A casa em Matozinhos foi alugada justamente para servir de cativeiro. Nela não havia nenhuma mobília, nem mesmo um colchão. Durante o tempo em que ficaram sob o poder dos bandidos, pai e filho se alimentaram de pão e bolacha, comprados nos cartões das próprias vítimas. Para beber, água. Em apenas um dos dias, o “mimo” dos sequestradores foi um refrigerante.

“Eles ofereciam só isso para a gente, mas em uma situação assim, quem tem fome? O banheiro era péssimo, sujo demais. Chegou a um ponto em que nós não conseguimos nem fazer nossas necessidades”, explicou uma das vítimas, de 57 anos, que acompanhou o filho para fechar o negócio. Segundo o agricultor, ele e o filho passaram por pressão psicológica. “Eles botavam o revólver na nossa cabeça, tiravam uma bala do tambor da arma e ameaçavam atirar. Eu achei que a gente não ia sobreviver”, lembrou o homem.

O alívio veio com a chegada da polícia no cativeiro. Após o susto, os dois querem voltar para Goiás o mais rápido possível.
“Foi a primeira vez que passei por isso e, se Deus quiser, foi a última. Nesses últimos dias, a minha primeira alegria foi a chegada da polícia e a próxima será encontrar minha família”, finalizou.

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