Operação 'Cai-cai'

Polícia Federal prende nove em MG por esquema de imigração ilegal para os EUA

Prefeito, ex-prefeito e vice-prefeito de municípios na região de Governador Valadares estão entre os detidos por participação na quadrilha; suspeitos cobravam até US$ 22 mil

Qui, 03/12/20 - 08h09
Carro de luxo está entre bens apreendidos durante a operação da Polícia Federal | Foto: Polícia Federal/Divulgação

Um dia após a Polícia Federal (PF) cumprir três mandados de busca e apreensão nos municípios de Caratinga e Tarumirim, na Zona da Mata e no Rio Doce, contra suspeitos de participação em quadrilha que promovia entrada ilegal de mineiros nos Estados Unidos, agentes da corporação retornaram às ruas na manhã desta quinta-feira (3) para uma nova operação com o mesmo intuito de combater a imigração clandestina para território norte-americano.

Nove suspeitos, entre eles um prefeito eleito neste ano, um vice-prefeito em final de mandato e ex-prefeitos, estão detidos temporariamente por integrarem um bando suspeito de cobrar até US$ 22 mil – o que equivale a cerca de R$ 115 mil segundo a cotação do dia – por interessado em emigrar do Brasil. Acredita-se que até crianças foram mandadas ilegalmente para o outro país.

Na tarde de hoje, a PF atualizou o balanço divulgado pela manhã. Diferentemente do que havia sido informado, foram nove presos, e não 11 _ havia mandados de prisão a cumprir. Vinte mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos municípios de Governador Valadares, Tarumirim, Alvarenga, Campanário, Engenheiro Caldas e Virginópolis, nas regiões do Rio Doce e do Vale do Mucuri. Devido à à Lei de Abuso de Autoridade, cidades de origem e nomes dos políticos ligados à quadrilha não foram divulgados pela PF. 

Esta é a terceira etapa da operação “Cai-cai” para combate à imigração ilegal de brasileiros para os Estados Unidos – um dos suspeitos detido em etapa anterior recebeu uma condenação a 127 anos de prisão pela prática de 270 crimes.

Entenda como acontecia a imigração ilegal

Investigações começaram há um ano e dois meses, em outubro de 2019, quando a Polícia Federal (PF) recebeu de três unidades de estados distintos ocorrências ligadas a crimes de imigração tendo em comum os mesmos suspeitos – este foi o primeiro indício de que a quadrilha instalada em Minas Gerais mantinha atuação forte também no restante do país.

Informações coletadas por agentes revelam que os suspeitos recebiam até US$ 22 mil de cada interessado em atravessar a fronteira do México para os Estados Unidos. Imigrantes ilegais eram submetidos a condições desumanas e permaneciam sob o domínio de coiotes – eram eles os responsáveis por escolher rotas para a travessia. Quadrilha é suspeita nos crimes de promoção de migração ilegal, associação criminosa e envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior.

O maior número de prisões temporárias e cumprimento de mandados de busca e apreensão foi concentrado no município de Tarumirim. De acordo com a Polícia Federal, ali foram cumpridos quatro mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal de Governador Valadares e outros dez de busca e apreensão. Condenados, suspeitos podem cumprir até 16 anos de prisão e estão sujeitos a aumento de pena, condicionado à quantidade de crimes que podem ser imputados a eles.

Operação “Lei do Retorno”

À manhã dessa quarta-feira (2), a Polícia Federal cumpriu três mandados de busca e apreensão nos municípios de Caratinga, na Zona da Mata, e Tarumirim, no Rio Doce, como parte da operação “Lei do Retorno” que também pretendia combater a imigração ilegal de brasileiros para os Estados Unidos.

A morte de um mineiro, assassinado na área de fronteira entre México e Estados Unidos, levou policiais até um grupo de agenciadores instalados na região de Caratinga e que eram suspeitos de cobrar até US$ 18 mil para garantir a entrada ilegal em território norte-americano. Uma das linhas de investigação aponta que o mineiro de Tarumirim foi morto por não conseguir arcar dívidas com os coiotes mexicanos – ele chegou a ser detido nos Estados Unidos e deportado, 11 dias depois, para o México.

(Texto atualizado às 21h01.)

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