Denúncia

Policiais Penais denunciam que detentos possuem livre acesso a droga k4

De um lado, os policiais afirmam que a substância chega com as companheiras dos detentos. Mas a Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade destaca que o rigoroso sistema não permitiria essa entrada

Ter, 13/12/22 - 20h25
Policiais Penais denunciam acesso indiscriminado de detentos a droga k4. A substância é cerca de cem vezes mais potente que a maconha. | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Policiais penais denunciam que detentos possuem acesso livre e desenfreado a  droga sintética K4, que é cerca de cem vezes mais potente que a maconha. A substância  pode ser fumada, absorvida pela língua ou gengiva. Um dos efeitos colaterais de quem usa esse entorpecente é a parada cardíaca. A droga é cara e altamente viciante, por isso, para ter acesso à substância, os detentos, que já estão viciados, usam as próprias companheiras como moeda de troca. 

A droga entra fácil nas penitenciárias mineiras porque se trata de uma espécie de "papel de seda", sendo muito fina e fácil de ser escondida em roupas, vestuários e partes íntimas. 

 E na maioria das vezes, o raio-x corporal, usado para detectar a entrada de visitantes com produtos ilícitos nas unidades prisionais, raramente detecta a substância.

Além disso, os denunciantes ainda reclamam que não possuem treinamento para reconhecerem o  entorpecente. Nem mesmo os cães farejadores dão conta de detectar a droga. 

 Ainda conforme os denunciantes, houve um aumento absurdo no número de detentos que são levados para unidades de saúde com parada cardíaca - um dos efeitos do uso do entorpecente.  

A droga é muito cara, por isso, para garantir o uso do entorpecente, que é altamente viciante, os detentos chegam a trocar um pouco da substância por uma noite de sexo com as próprias companheiras. 

" Já ficamos sabendo que muitos detentos para ter acesso a essa droga, que é muito cara, usam as próprias esposas como moedas de escambo. Eles as 'emprestam' nas visitas íntimas para outros presidiários que tem a substância. Está tudo um descontrole total", disse um policial penal que preferiu o anonimato por medo de represálias. 

Familiares de detentos negam a denúncia 

De acordo com Maria Tereza dos Santos, coordenadora e mobilizadora social da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, a informação de que os detentos estejam trocando os momentos com suas companheiras por drogas é uma forma colocar a sociedade contra as visitas íntimas, que são um direito das pessoas em privação de liberdade. “Vira e mexe eles arrumam alguma coisa para criminalizar a visita íntima. Na tentativa de fazer mesmo a sociedade se revoltar e os governantes proibirem”, comenta.  

A coordenadora da associação explica que o esquema de visitas íntimas é extremamente rigoroso. Ele funciona da seguinte forma: chegando em uma unidade prisional, a companheira do detento passa pela seção de cadastros e documentos para confirmar sua identidade. Depois, ela é acompanhada por uma agente penal feminina até o scanner corporal, e as comidas vão para outro scanner. Com a revista concluída, as agentes a acompanham até um quarto separado, longe dos pavilhões onde ficam as pessoas em privação de liberdade e aguardam. Quando os agentes penais recebem a informação da chegada das mulheres, o detento é algemado e levado até o quarto onde está a sua companheira.  Ao entrar no quarto, ele tem a algema retirada e o agente penal tranca o quarto.     

A mobilizadora social concorda que drogas entrando nos presídios é uma realidade extremamente preocupante. Entretanto, na visão dela, deve ser investigada a fundo para descobrir a origem.

O que diz a SEJUSP

De acordo com a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), todas as unidades prisionais passam por revistas. As unidades também possuem raio-x para impedir a entrada da substância nos presídios do estado. 

Confira a nota na íntegra

"Todas as unidades prisionais sob administração do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) passam sistematicamente por revistas em celas e em visitantes, bem como em pertences e correspondências enviados por familiares de presos. Essas ações visam impedir a entrada e/ou permanência de ilícitos nas unidades, e contam com o uso de equipamentos como escâner corporal e raio-x. 

A droga citada na demanda está entre as mais apreendidas entre os ilícitos enviados por meio de correspondência. Os destinatários dessas correspondências são ouvidos pela Comissão Disciplinar das unidades e, em se comprovando o envolvimento, são punidos com sanções administrativas, além de responderem criminalmente. Já os remetentes perdem o direito de enviar pertences e têm seu cadastro suspenso", pontuou a nota.

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