Quarentena

População ignora recomendações e afrouxa isolamento contra o coronavírus

Movimento em BH e região metropolitana foi maior nesta quinta-feira (2) do que nos últimos dias de pandemia; decretos municipais norteiam os estabelecimentos que podem abrir

Por Thiago Nogueira
Publicado em 02 de abril de 2020 | 20:37
 
 
Centro de Contagem teve grande movimentação de pessoas nesta quinta-feira Foto: Alex de Jesus / O Tempo 02/04/2020

Quem passou pela região central de Belo Horizonte ou mesmo em diferentes cidades da região metropolitana da capital observou que a circulação de pessoas vem, aos poucos, aumentando pelas ruas, contrariando as recomendações dos órgãos de saúde. A orientação da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde é ficar o máximo de tempo possível em casa, para evitar o contágio e a proliferação do coronavírus.

A reportagem de O TEMPO verificou que bares e restaurantes continuam de portas fechadas, funcionando apenas na modalidade de entregas de produtos. Supermercados, mercearias, padarias e farmácias, considerados serviços essenciais, assim como bancos e lotéricas, mantém a rotina de atendimento, mas com medidas restritivas para evitar aglomerações.

Esse o "afrouxamento" das pessoas pode estar diretamente ligado às atividades econômicas, já que muitos precisam trabalhar - e são orientados a retomar seus postos de trabalho, mesmo com restrições. Outra explicação está na "aparente volta à normalidade" depois de medidas rígidas. Isso, no entanto, é veementemente desaconselhado pelas autoridades, já que estudos indicam que o país ainda não atingiu o pico da doença.

Decretos estabelecem regras

Norteadores daquilo que se pode ou não fazer, a lista de estabelecimentos quem podem ou não abrir, os decretos municipais para o controle da pandemia começaram a ser publicados há três semanas. De uma forma geral, atividades que criam reuniões de pessoas e propiciam o contato interpessoal, como feiras, shows, cinemas, clubes, academias, parques e salões de beleza tiveram que dar uma pausa por tempo indeterminado.

Cada município tem autonomia para cobrar a melhor postura de seu cidadão. Em Contagem, a prefeitura divulgou telefones para denúncia. Nesta quinta, o prefeito Alex de Freitas informou já ter recebido 5 mil notificações de descumprimentos do decreto. O estabelecimento que descumprir a lei pode ser multado.

Como cada cidade tem a prerrogativa de estabelecer suas regras, alguns conflitos são iminentes. Ontem, o prefeito de BH, Alexandre Kalil, determinou que, a partir de segunda-feira (6), os ônibus do transporte coletivo da vizinha Lagoa Santa estão proibidos de entrar na capital. "Não venha contaminar quem não quer ser contaminado", disse Kalil, em entrevista à TV Alterosa. Lagoa Santa teria minimizado as restrições de circulação, o que foi rechaçado pelo prefeito da cidade.

Rogério Avelar disse que as medidas continuam sendo restritivas, a diferença é que ele ordenou a conduta no dia a dia. "Qualquer atividade econômica está funcionando, desde que siga as restrições impostas pela municipalidade, sem acumulo de pessoas, controle efetivo da entrada, tem loja que só duas pessoas podem entrar, guardada a distância mínima de 2 m, uso de álcool gel e máscara dependendo da atividade", explicou Avelar, em entrevista à Rádio Super 91,7 FM.

Localizada a 70 km de Belo Horizonte, Sete Lagoas, na região Central do Estado, tinha publicado um decreto que ampliou serviços e atividades que poderiam funcionar, como salões de beleza, clínicas de estética, barbearias, escritórios de advocacia e contabilidade, corretoras de imóveis, despachantes, lava-jatos dentre outros. Ontem, porém, a prefeitura voltou atrás parcialmente, e manteve a indicação de fechamento de estabelecimentos ligados à beleza.

Apaziguando os ânimos

Para tentar apaziguar eventuais rixas entre prefeitos, o governador Romeu Zema publicou ontem, no início da tarde, em seu Twitter, que conversou com o prefeito da capital, Alexandre Kalil.

"Lembrei que a cidade é rota para escoamento de produtos essenciais. Ele se comprometeu a manter os acessos abertos. Além do impacto para o Estado, temos de lembrar que muitos profissionais, especialmente da saúde, moram na capital e trabalham na RMBH", escreveu. Apoiando-se em dados do Estado, Zema ressaltou a importância do isolamento, mas indicou que as condutas precisam ser bem estudadas.

"Nossa curva por internações em decorrência da Covid-19 desacelerou. A evolução de casos não segue a mesma intensidade de outros estados, o que mostra que nossas medidas já são acertadas. Continuamos em isolamento, com responsabilidade, sem extremismo", afirmou.