Alerta

Por dia, 182 mineiros são alvos de golpes pela internet em MG

Até junho deste ano, foram 32.751 crimes virtuais, que já tinham crescido 55,4% no ano passado; polícia diz que, na maioria dos casos, vítimas acabam fornecendo dados

Por Pedro Nascimento
Publicado em 24 de julho de 2021 | 03:00
 
 
Homem de 33 anos contou que teve o WhatsApp clonado por duas vezes só neste ano em Minas Gerais Foto: Arquivo pessoal

WhatsApp clonado, roubo de senha, cartão falso, produto que não é entregue, site de mentira e por aí vai. A variedade de golpes praticados pela internet é assustadora, e o número de vítimas só cresce. No ano passado, foram 57.178 crimes virtuais em Minas Gerais, uma alta de 55,4% em relação a 2019, quando ocorreram 37.777 delitos, de acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

A média no ano passado foi de 159 golpes por dia. Os dados mostram ainda que essa prática criminosa segue em alta neste ano. Segundo a Sejusp, de janeiro a junho de 2021, foram 32.751 casos em Minas, uma média de 182 ocorrências a cada 24 horas.

É tanto golpe que teve gente que foi alvo mais de uma vez só neste ano. “No primeiro, eles conseguiram clonar o WhatsApp e começaram a mandar mensagens para os meus contatos pedindo dinheiro emprestado. Já no segundo, eles pegaram a minha foto, meu nome e criaram uma nova conta se passando por mim e falando que eu tinha mudado de número, avisando as pessoas mais próximas”, conta um homem, de 33 anos, que não quis se identificar.

O chefe da Divisão Especializada de Investigação aos Crimes Cibernéticos da Polícia Civil, Renato Nunes Guimarães, explica que muitos desses crimes partem de um convencimento que é feito pelos criminosos para que as vítimas compartilhem senhas e informações sigilosas. “Muitos desses crimes são até bem amadores do ponto de vista tecnológico. Eles não chegam a hackear o sistema bancário ou o computador e o celular, mas conseguem senhas e códigos que são passados pelas próprias vítimas através de uma engenharia social complexa”, detalha.

Essa engenharia do crime envolve, por exemplo, ligações falsas, nas quais a vítima acaba passando dados. É o que aconteceu com o homem que teve o WhatsApp clonado por duas vezes. “Da primeira vez, em março, me ligaram falando que era do Ministério da Saúde e que estavam fazendo uma pesquisa sobre o coronavírus. Fizeram uma série de perguntas e, ao final, falaram que iam me enviar um código por SMS e que eu deveria informar esse código para validar o contato”, relata. O código, no caso, é o acesso ao WhatsApp por outro dispositivo. 

“Na hora já comecei a receber várias ligações de amigos e familiares que me perguntavam se era eu mesmo e o que estava acontecendo. Nas mensagens, os bandidos se passavam por mim falando que precisavam de uma ajuda de R$ 1.800 via Pix e que depois iam pagar, mas, por sorte, ninguém fez essa transferência”, completa.

Venda falsa
O estelionato, segundo o delegado Renato Guimarães, continua sendo o crime mais comum entre os golpes registrados na internet. Geralmente, o bandido se passa por vendedor e anuncia um produto caro por um preço chamativo. Depois que o dinheiro é depositado, esse produto nunca mais é entregue.

É o que aconteceu com o tatuador Anderson Muniz, que tentou comprar um iPhone 11 em um perfil no Instagram em maio. Após o pagamento de um sinal de R$ 300, as desculpas começaram. “Chegou o dia combinado da entrega, e o telefone não chegou. Era sempre uma desculpa diferente, ele sempre pedia mais prazo, até que me bloqueou”, relata Muniz.

O delegado diz que é preciso ficar atento a alguns sinais: “Desconfie quando um produto for oferecido por um preço muito abaixo do valor de mercado, ou de lojas que não possuem histórico na internet”.</CW>

A recomendação, segundo Guimarães, é que a vítima, mesmo que nenhum valor tenha sido subtraído, sempre registre o boletim de ocorrência. “É importante para que possamos alcançar esses bandidos”, finaliza.

Onde denunciar
O boletim de ocorrência pode ser feito em qualquer delegacia ou batalhão da Polícia Militar. As informações vão para um banco de dados que subsidia as investigações.

Crimes mais comuns
Anúncio/site falso:
Perfis em plataformas digitais anunciam um produto que nunca é entregue. O cliente faz o pagamento ou um adiantamento e não recebe. Também há a modalidade do site falso, que simula páginas conhecidas. Na hora de preencher o cadastro, o site rouba os dados do usuário. 
Dica: Compre sempre em sites confiáveis, desconfie de preços muito abaixo do normal e evite clicar em links que te direcionam para páginas específicas. 

WhatsApp clonado:  O criminoso faz um contato prévio com a vítima e consegue extrair o código de acesso. Assim, eles conseguem acessar a conta em outro dispositivo e começam a pedir dinheiro via Pix para os contatos da vítima. 
Dica: Nunca forneça o seu código de acesso, que chega por SMS, para ninguém. Caso receba mensagens de pessoas próximas pedindo dinheiro, ligue para a pessoa avisando do contato. 

Golpe do intermediário: Os fraudadores usam um anúncio real de um veículo ou outros produtos à venda na internet para atuar como intermediários na negociação, recebendo o dinheiro, mesmo sem ser dono do produto. 
Dica: Sempre exija documentação, fotos e tudo o que for possível de quem estiver anunciando o produto. Jamais faça o pagamento na conta de terceiros.