Calendário solidário

Poses para a solidariedade

Grupo de mulheres fez um calendário sensual para ajudar uma instituição que atende portadores de necessidades especiais físicas e mentais

Sáb, 29/11/14 - 03h00

“Eu não faria isso por dinheiro nenhum”. É usando a resposta de madre Tereza de Calcutá para justificar seu trabalho junto aos leprosos que Renata Arantes Vilela, 50, explica o calendário de fotos sensuais que ela e outras sete mulheres com idades entre 46 e 72 anos resolveram protagonizar. A intenção das poses cheias de coragem é também ajudar o outro, no caso a escola Flor Amarela, instituição em São Vicente de Minas, no Sul do Estado, da qual Renata é idealizadora.

A instituição atende portadores de necessidades especiais físicas e mentais do município e não tem fins lucrativos. Toda a renda arrecadada com a venda dos calendários será revertida para a escola. Serão 500 impressões que vão custar R$ 50 cada uma e o lançamento do calendário será no próximo dia (1) no Godofredo Bar, no Bairro Santa Tereza, região Leste da Capital, a partir das 19h30. Ainda no mês de dezembro, o calendário deve ser lançado também no Rio de Janeiro e em São Paulo. 

A história da escola começou em 1991, quando Renata saiu do Rio de Janeiro e veio para a pequena São Vicente de Minas com o intuito de trabalhar com crianças portadoras de necessidades especiais. “Eu tinha acabado de me formar em pedagogia e na faculdade eu gostava de trabalhar com educação especial. Eu sabia que São Vicente não tinha nenhuma escola desse tipo, então quis vir e montar o projeto. Na época era muito nova, tinha 26 ou 27, não tinha nenhum recurso e recebia ajuda do meu pai para me manter”, conta Renata. Com muita vontade, mas pouco dinheiro, Renata se apropriou de um prédio abandonado e deu início ao projeto ali mesmo.
 
“No começo, tudo foi muito difícil, tive que ir descobrindo pessoas com deficiência e fui de casa em casa para explicar o projeto. Na época, eles ficavam escondidos e era difícil para as pessoas se abrirem à novidade”, relembra a idealizadora do projeto. No início, o atendimento era feito para 11 crianças, mas após um ano, em 1992, ela conseguiu ajuda de políticos e empresários e aos poucos foi aumentando a capacidade da instituição. Renata também apostou em alguns eventos para arrecadar dinheiro.
 
Atualmente já são cerca de 300 alunos frequentando a instituição diariamente e em torno de 3.000 atendimentos por mês, sendo que esta cota inclui adultos e idosos também portadores de necessidades físicas e mentais que recebem atendimentos médicos e participam de oficinas gratuitamente. A escola oferece uma série de atividades como a equoterapia – método terapêutico em que são utilizados cavalos para ajudar os portadores de necessidades especiais no desenvolvimento físico e psíquico. Durante todo o dia, equipes educacionais e da saúde realizam atendimentos gratuitos.
 
Em uma cidade pequena, com 7.073 habitantes, segundo o censo de 2010, a Flor Amarela é de suma importância, principalmente para as mães dos alunos que frequentam diariamente a instituição. Os filhos gêmeos de 4 anos da enfermeira Fernanda Teixeira de Andrade, 42, estudam na Flor Amarela. “A escola é fundamental para mim e para os meus filhos. As crianças se desenvolveram muito lá. Elas recebem atendimento médico e ainda se desenvolvem cognitivamente. Além disso, tudo na escola é gratuito e para mim seria muito difícil pagar um lugar para eles estudarem e também serem cuidados”, conta Fernanda. Os pequenos Matheus e Mariana nasceram com paralisia cerebral e enfrentam dificuldades para se desenvolver tanto física quanto intelectualmente.
 
Verba. A escola recebe atualmente uma verba do governo federal que é destinada a pagar os professores e os gastos com os alunos, mas Renata conta que ainda existe uma dificuldade principalmente para arcar com algumas manutenções da escola e com o décimo terceiro dos educadores, médicos e demais funcionários da instituição. Por causa disso, ela precisa contar com a ajuda de algumas empresas e políticos e também com a criatividade. “A gente não pode ficar reclamando, mas temos que pensar em saídas para levantar a verba e continuar mantendo o projeto”, conclui Renata
 
 
Calendário é inspirado em filme
 
A ideia de fazer do calendário foi inspirada no filme “Garotas do Calendário”, de 2002. O longa-metragem é baseado na história real de Chris e Annie, duas amigas que vivem em uma pequena cidade inglesa. Quando o marido de Annie morre, as duas resolvem fazer uma campanha para ajudar um hospital local. Como Chris é integrante de uma associação em que idosas têm atividades como fazer doces, geleias, jardinagem e tricô, ela tem a ideia de convidar as mulheres e fazer um calendário com cada uma de suas prendas ilustrando um dos meses. O detalhe é que elas aparecem nuas no calendário.
 
No caso das mulheres que ajudam a Flor Amarela, elas não aparecem nuas, mas sim em fotos sensuais. A ideia partiu de um grupo de mulheres que também se reúne na cidade e do qual Renata faz parte. “Como a cidade é pequena, eu acho que vai causar um grande impacto mesmo nos moradores, mas a gente não se importa, já que é por uma boa causa”, conclui Isa Arante Villela, 72, mãe de Renata e a mais velha das integrantes do calendário.
 
A psicóloga Sâmara Aparecida Chaim de Almeida,47, concorda com Isa e acrescenta que fazer o calendário também foi uma oportunidade das mulheres se divertirem e explorarem a criatividade. “Foi muito gostoso fazer a produção das fotos. Uma amiga nossa foi a figurinista, cada uma levou um pouco de roupas e ela foi escolhendo, foi bastante divertido”, conclui Sâmara.
 
Para doar:
 
Banco do Brasil
Escola Especial Globo Azul
CNPJ 26111799000187Agência 3807-5

Conta: 12888-0

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