Após chuva

Prédio em construção tomba em Betim, e moradores vizinhos são evacuados

Vizinhos à construção começaram a escutar estalos na noite dessa terça-feira (17), quando perceberam que o prédio de cinco andares estava se inclinando

Por Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2020 | 07:58
 
 
Foto aérea mostra a situação do prédio, que está com iminência de cair

Moradores da rua Airton Senna, no bairro Ponte Alta, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, foram retirados de suas residências às pressas na noite dessa terça-feira (17) após um prédio de cinco andares em construção se inclinar para o lado, ameaçando desmoronar e atingir imóveis próximos. O Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar (PM) e a Defesa Civil de Minas Gerais estão acompanho a ocorrência.

Assista ao vídeo:

Vizinhos à construção escutaram estalos logo às 23h45 e perceberam, em seguida, que o prédio inclinava-se para o lado e que os sons saíam da própria estrutura do edifício. Sete viaturas do Corpo de Bombeiros e da PM participaram da evacuação às pressas. A região está isolada. O risco de desabamento da estrutura é elevado, de acordo com o tenente-coronel Flávio Godinho da Defesa Civil Estadual.

'Era nosso sonho', diz dona da cobertura

A maquiadora Thaís Cassimiro, de 30 anos, comprou a cobertura do prédio e nesta manhã acompanha os trabalhos no local. 

Assista ao relato dela:

"Eu fiquei sabendo pela manhã, recebi mensagens em grupos de Whatsapp, vim e estou vendo essa tragédia. Compramos a cobertura na planta há cerca de um ano e meio e estava previsto para entregar no segundo semestre deste ano", contou.

Ela afirmou que constantemente vinha olhar a obra e nunca viu nenhuma rachadura no local. "Eu acho que foi erro estrutural. Aqui era o nosso sonho e eu não sei se vou ser ressarcida. Estou com medo, triste, frustrada", afirmou. 

O proprietário do prédio teria passado mal ao saber da inclinação do prédio e encontra-se internado.

Imóvel terá que ser demolido

A Defesa Civil de Betim foi acionada por volta de 23h. "Fomos informados que o prédio estava em colapso e que várias famílias tinha sido retiradas de suas residências. Nossa equipe da Defesa Civil, os bombeiros e a Polícia Militar deslocaram para o local. A equipe de bombeiros, juntamente com os engenheiros da Defesa Civil fizeram uma avaliação prévia e constataram que o imóvel realmente tem que ser demolido. Ele não apresenta condições de restauração", explicou o coronel Walfrido de Assis Lopes. 

Ao todo, 15 famílias de imóveis vizinhos foram retiradas de suas casas. "As nossas próximas providências serão entrar em contato com o proprietário do imóvel, determinando a demolição e perguntando quais as providências ele tomará em relação aos moradores que foram retirados de suas casas. Essas 15 famílias só poderão retornar quando a Defesa Civil verificar que a situação encontra-se segura. Essas famílias receberão todo o apoio seja por parte do proprietário do imóvel ou por parte da prefeitura caso esse proprietário não adote as providências. Ainda não é possível apontar as causas dessa inclinação", detalhou.

O engenheiro civil responsável pela obra, Jorge Luiz França Cajá, informou que só vai se pronunciar após a apuração das causas do tombamento da estrutura. 

 

Famílias já estavam dormindo quando precisaram sair às pressas dos imóveis

A família de Dalila Silva, de 21 anos, mora ao lado do prédio, pela entrada da rua Ronie Peterson, e todos já estavam deitados quando os barulhos começaram. 

"Moro com meus pais e minha irmã. Fomos dormir cedo, lembro que alguma coisa caiu e meus pais começaram a gritar, falando para sair. Não sabíamos que era o prédio, nós assustamos. Saímos com a roupa do corpo, outros vizinhos que deram chinelos e blusas. Todos os celulares estão dentro da casa", contou. 

A dona de casa Alessandra de Paula, de 41 anos, estava com a filha e o marido dentro da residência. 

"Eu moro em frente ao prédio, na casa da esquina. Ontem deu um tremor e, depois de uns minutos, a vizinhança começou a gritar que o prédio estava caindo. Agora estamos na rua e não podemos entrar em casa, o andaime pode cair no nosso imóvel. O jeito é aguardar" afirmou.

O que diz a prefeitura 

A Secretaria de Ordenamento Territorial e Habitação de Betim se pronunciou, por meio de nota oficial, sobre o tombamento do prédio no bairro Ponte Alta. De acordo com o órgão, as famílias desalojadas estão sendo cadastradas para receber o apoio necessário. A prefeitura exigiu que a empresa proprietária do prédio realoque as famílias, sob pena de ser acionada judicialmente. A demolição do prédio também foi solicitada, atendendo a recomendação da Defesa Civil.

Leia o comunicado na integra:

De acordo com a Superintendência Municipal de Defesa Civil, 15 famílias foram evacuadas das proximidades do prédio que tombou no bairro Ponte Alta, em Betim, na madrugada desta quarta-feira, 18.  Engenheiros da Defesa Civil fizeram a vistoria nas moradias em torno do prédio, evacuaram as casas e isolaram a área. Apenas uma das casas vizinhas foi atingida por tijolos e entulhos que se desprenderam do prédio na hora do tombamento. A Guarda Municipal está atuando para evitar que os moradores transitem no local. As famílias foram para casas de parentes e amigos.

Neste momento, a Prefeitura segue atuando efetivamente no primeiro acolhimento aos atingidos. Uma assistente social esteve no local e providenciou água e refeição para quatro famílias, totalizando 8 pessoas, que estão acompanhando o trabalho da Defesa Civil. As famílias desalojadas estão sendo cadastrados neste momento.

Representantes da Procuradoria-Geral do Município reuniram-se, no início desta tarde, com o advogado da Construtora Abrahim Hamza Contruções Eireli, responsável pela obra. A prefeitura exigiu que a empresa realoque as famílias imediatamente, sob pena de acionar judicialmente a empresa. Foi requerido, também,  que a construtora faça  a demolição do prédio, conforme recomendação da Defesa Civil.
 
De acordo com a Secretaria Municipal de Ordenamento Territorial e Habitação, a obra estava devidamente licenciada, possuía Alvará de Construção, Licença Ambiental e responsável técnico cadastrado nos órgão responsáveis.

Problema na fundação pode ser a causa do tombamento

O engenheiro civil Thiago de Oliveira acredita que o tombamento foi causado por um problema de fundação, mas que é necessária uma análise do projeto para entender o que aconteceu. "São várias causas que podem levar ao ocorrido, mas tudo indica para um problema de fundação. Costumamos dizer que a fundação é o coração da obra e que precisa de ser muito bem feita e profunda, levando em consideração a análise de solo", explicou.

Avaliação semelhante foi dada pelo engenheiro calculista Ricardo Diniz Meireles, que destacou que a chuva pode tirar a sustentação de uma obra, principalmente no caso de uma chuva forte como a que foi registrada na região. "Existe um movimento que chamamos de percolação, que é quando a água do solo retira partículas sólidas ao longo do tempo, com a chuva esse processo se acelera e pode tirar a resistência da sustentação de uma estrutura".

Fernando Rodrigues Costa trabalha com sondagem de solos e recentemente fez uma avaliação de solo em um condomínio que fica a poucos metros de onde o prédio tombou. Ele conta que a região apresenta um solo bastante arenoso e com um nível de água bastante próximo ao solo. "Com a sondagem encontramos água com cinco metros, só oferecendo resistência depois de 8 metros.  O que indica um solo com baixa resistência para projetos grandes, pois a fundação aumenta  muito o preço da obra, podendo até triplicar o preço do projeto", conta.