Pesquisa

Prefeitura de BH contesta ‘título’

Levantamento feito por instituto internacional classificou a capital mineira como a mais frágil do país

Qua, 14/09/16 - 03h00
Constatação. Riscos de inundação e de seca na capital pesaram para a classificação de fragilidade | Foto: Lu Monteiro/Divulgação – 27.10.2015

A Prefeitura de Belo Horizonte contesta o “título” de cidade mais frágil do Brasil, segundo pesquisa feita pelo Instituto Igarapé em parceria com o Fórum Econômico Mundial e a Universidade das Nações Unidas, ligada à ONU. O levantamento analisou 2.100 municípios do mundo, sendo 94 brasileiros. Em uma escala que vai de zero (pouco frágil) a quatro (muito frágil), a capital mineira ficou com 2,6, a nota mais alta do país.

“O que me parece é que é uma pesquisa completamente equivocada. Para todo lado que eu olho, tem falhas”, disse o coordenador da Defesa Civil de Belo Horizonte, coronel Alexandre Lucas. Ele criticou o próprio critério de fragilidade e também alguns dados, como o fato de a população utilizada no levantamento, de cerca de 5,7 milhões de pessoas, ser referente à da região metropolitana. O Instituto Igarapé explicou que o critério é o mesmo utilizado para outras metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo.

A pesquisa leva em consideração 13 indicadores, sendo 11 do município e dois relativos ao Brasil (fragilidade do país e presença de conflito armado). A pesquisa se refere a 2015 e os dados utilizados são os mais recentes disponíveis para a cidade ou a área metropolitana.

No caso de Belo Horizonte, o que mais pesou no resultado foi o número de pessoas expostas a risco de seca ou de inundações. Também essas avaliações são contestados pelo coronel Lucas. “Como uma cidade que não tem uma morte por deslizamento de terra desde 2002 pode ser mais frágil do que Salvador (BA), que teve mais de 20 mortes por deslizamento só no ano passado?”, questionou. Ele disse ainda que, por ano, a cidade registra, em média, uma morte por inundação.

Em relação ao perigo iminente de seca, o coronel Lucas afirma que a capital mineira “nunca teve falta de água” e “tem mananciais que garantem o abastecimento por anos”. Apesar de em janeiro de 2015 a Companhia de Saneamento de Belo Horizonte (Copasa) ter admitido o risco de racionamento – possibilidade que só foi descartada oficialmente em agosto do ano passado – ele afirmou que a Defesa Civil nunca trabalhou com essa possibilidade. “Hora nenhuma teve ameaça de desabastecimento”, afirmou.

Critérios

Comparações. Para o coronel Alexandre Lucas, as variáveis analisadas deveriam ter pesos diferentes, “porque não é justo colocar na mesma lista taxa de homicídio e de risco de inundação”. 

ONU

Ações de Defesa Civil receberam prêmio

Em 2013, o conjunto de ações conduzido pela Defesa Civil de Belo Horizonte para reduzir riscos de desastres naturais foi vencedor do prêmio Sasakawa, da Organização das Nações Unidas (ONU). “Como pode, três anos depois, a ONU dizer que somos a cidade mais frágil da América Latina, atrás só de Porto Príncipe, no Haiti?”, questionou o coordenador da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas.

Ele ressaltou ainda que o trabalho do órgão recebe vários prêmios e que ele irá participar de quatro congressos pelo Brasil para apresentar a gestão de risco de desastres da capital. Por esses motivos, ele afirmou que o estudo sobre a fragilidade das cidades “não parece uma pesquisa que eu deva considerar em termos de planejamento e ação”.

Neste fim de semana, a Defesa Civil realizará um treinamento para moradores de área de risco para reduzir os danos em época de chuva.

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