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Presidente exonerado da Rede Minas publica carta de despedida

Governo do Estado nomeou Jordana Souza Cruz Almeira, que era diretora de programação e produção, para a presidência

Por DAS REDAÇÃO
Publicado em 20 de outubro de 2016 | 18:44
 
 
Presidente da Rede Minas foi exonerado do cargo Foto: Moisés Silva / Divulgação

Exonerado do cargo de presidente da Fundação TV Minas Cultural e Educativa, o jornalista Israel do Vale Neto publicou nesta quinta-feira (20), em seu perfil no Facebook, uma carta de despedida aos funcionários da Rede Minas assinada por ele e seus colegas que também foram exonerados Ana Tereza Brandão, diretora de programação e produção, e Túlio Ottoni, diretor de jornalismo.

A saída do gestor foi publicada no Diário Oficial Minas Gerais dessa quarta-feira (19).

O governo do Estado nomeou Jordana Souza Cruz Almeira, que era diretora de programação e produção, para a presidência.

Em nota publicada na quarta, a Secretaria de Estado de Cultura afirmou que as exonerações "fazem parte de um processo natural de reestruturação" dos veículos. 

Leia a carta dos jornalistas: 

"Caros e caras colegas da Rede Minas.

Vivemos nesses quase dois anos momentos intensos, de muito trabalho e muitos conflitos, decorrentes de um acúmulo de fatores e da complexidade de problemas que encontramos, na tentativa de colaborar com a reconstrução da Rede Minas.

Vivemos momentos de muita alegria, de grandes aprendizados, mas de muita hostilidade e contradições naturais no trabalho público. Essa experiência nos fez fortalecer a crença de que muitas reflexões e debates ainda precisam ser travados com a sociedade (que paga pelo nosso serviço e é portadora de direitos), com os governantes e os gestores de todas as instâncias, e mesmo entre todos nós que trabalhamos exaustivamente para garantir um serviço público tão relevante para a democracia no país.

Fazer a gestão de uma instituição tão desestruturada pelos anos de precariedade e qualificar o trabalho do que é público é bem mais do que impor nossas opiniões e desejos pessoais, bem mais do que pautarmos nossas produções a partir de círculos de amizade ou de visões singulares de Minas, do país, das questões de interesse público.

Temos muitos dados, organizados em relatórios, e vivemos inúmeras experiências que nos permitem afirmar que o que está em jogo é bem mais do que a luta por direitos trabalhistas, o espaço para artistas conhecidos ou a circulação de produções artísticas legitimadas pelo público --que são sempre critérios relativos, construídos culturalmente ou pelo mercado.

A Rede Minas é bem mais do que uma conjunção de apresentadores famosos, artistas talentosos, jornalistas experientes, profissionais de bom gosto, gestores e suas visões políticas, de técnicos dedicados e demais trabalhadores. Claro que cada uma dessas coisas é extremamente importante.
Faz parte de toda a construção. Mas não é o bastante para que a TV pública cumpra sua missão social e educativa, central para a legitimidade e razão de sua existência.

Agradecemos a todos e todas que colaboraram com críticas honestas, com propostas de projetos, com trabalho responsável, com a preocupação com gastos e procedimentos públicos. A todos que lutam pela transparência de dados, de práticas e técnicas administrativas acessíveis a todos, de critérios claros de escolha, de estratégias de gestão. Pelo fim de privilégios de alguns colegas, pela valorização de todo e qualquer serviço prestado pela equipe, por espaços de debate qualificados e respeitosos.

Agradecemos aos que se negaram a acusar colegas e gestores de forma leviana, que compreenderam que os caminhos da política são tortuosos, limitados e árduos na construção pública, pela garantia do que é direito de todos. Agradecemos aos que não rejeitaram o “novo nem o velho”, que foram capazes de acolher as diferenças –que deveriam ser, mesmo em embates calorosos, fontes de ampliação e apeifeiçoamento do trabalho de todos em uma TV pública. Como servidores, devemos estar sempre a serviço de toda a sociedade.

Em momento tão importante para a comunicação pública, agradecemos aos jornalistas e radialistas que lutaram conosco pelo fortalecimento da televisão pública, aos profissionais que buscaram informações corretas, que se posicionaram abertamente, que agiram com a ética esperada de um comunicador, que não circularam visões parciais, mentiras e informações falsas a serviço de interesses particulares (nem sempre declarados) que circularam nas redes em perfis apócrifos. Sabemos que há muito o que avançar para a reconstrução da confiança pública na comunicação e no jornalismo, para que se possa de fato conquistar respeito e relevância.

Minas é bem mais do que nossos estereótipos, do que nossas visões limitadas de mundo, do que nossos modos de fazer e pensar a produção televisiva, do que nossas redes de contato e amigos do Facebook. Temos, como servidores, uma dívida histórica com os mineiros, com muitos segmentos sociais que devemos servir, que devemos receber, que devemos representar.

Trabalhamos na tentativa de construir parâmetros de escolha, espaços de debates, avaliação do trabalho de produção de TV.

Erramos algumas vezes sim, como só acontece com quem se propõe a fazer, mas trabalhamos exaustivamente para que a televisão tenha políticas claras, transparentes, sem privilégios, com uma visão mais plural de cultura e da produção de informação de interesse público.

Tivemos inúmeras limitações, pelo contexto restritivo que encontramos e enfrentamos, mas trabalhamos de forma aberta e sincera, lutando por princípios que não são só os nossos.

Seguimos acreditando que tudo vai melhorar, mas não com uma simples troca de gestores. Ingenuidade pensar que as soluções vêm assim e que possam ser personificadas, e as expectativas direcionadas a um ou outro profissional.

Desejamos sorte a todos, força aos gestores que se desdobram para manter a Rede Minas funcionando com dignidade em condições tão adversas, aos que chegam para dar prosseguimento ao trabalho. Desejamos lucidez, saúde e sabedoria nesta TV, que é de todos nós.

Desejamos que a Rede Minas seja mais do que uma rede de intrigas, de ódio entre colegas, de manutenção de cargos, de disputas partidárias ou de poder. Desejamos que possamos comemorar, algum dia, as conquistas e avanços tão importantes que defendemos e seguiremos perseguindo para a comunicação pública.

Pedimos desculpas sinceras por eventuais equívocos ou limitações. E nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos, no apoio em ações futuras, em críticas que possam contribuir para o amadurecimento da democracia e de todos nós.

Continuamos , dos nossos lugares, na luta pela causa da Comunicação Pública.

Esperamos nos reencontrar em momentos menos adversos.

Abraços a todos!

Ana Tereza Brandao
Israel Do Vale
Túlio Ottoni"