Alternativa

Programa de hortas se torna exemplo de combate à fome 

Mesmo em uma grande cidade como Belo Horizonte, projeto aumenta número de plantações

Por Bárbara Ferreira
Publicado em 19 de outubro de 2014 | 04:00
 
 
LINCON ZARBIETTI / O TEMPO

A vida cada vez mais agitada das grandes cidades leva as pessoas ao consumo exagerado de alimentos industrializados e enlatados. Mas na contramão dessa tendência mundial, em meio a uma grande metrópole como Belo Horizonte, ainda existem locais onde que é possível plantar e colher o que a terra produz. Espalhadas por todas as regionais da cidade – e às vezes invisíveis para olhares apressados de quem passa por elas – funcionam 57 hortas comunitárias e 144 escolares na capital mineira. O programa é promovido pelo município, mas a direção desses espaços é baseada no conceito de comunidade e de autogestão. E a função é simples: promover o acesso a alimentos de qualidade e com preços baixos, principalmente para a população de baixa renda.

Os programas de hortas comunitárias e escolares e de incentivo à agricultura familiar na capital mineira foram destaque no relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O documento, intitulado “Cidades Mais Verdes na América Latina e no Caribe”, foi apresentado em abril, no Fórum Urbano Mundial, que aconteceu em Medellín, na Colômbia. Foram analisados 23 países, e, além de Belo Horizonte, outras nove cidades do continente foram selecionadas como modelo no que se refere à agricultura urbana e nas periferias de grandes centros.

Desde que foram criados, em 1998, os dois programas têm evoluído. Nos últimos cinco anos, o número de hortas em escolas em Belo Horizonte passou de 93 para 144 (alta de 54%), e as comunitárias foram de 50 para 57, um aumento de 12,6%.

São programas voltados tanto para a questão da alimentação saudável como para incentivar a produção e estímulo a práticas agroecológicas e sustentáveis. “Nas escolas, a intenção é promover essa produção para complementar a merenda escolar e como espaço interdisciplinar para o aprendizado das crianças. Já nas comunidades, além de ajudar na renda familiar, estimula a produção agroalimentar urbana e atende a população regional”, explica o gerente de Apoio à Produção e Comercialização de Alimentos da prefeitura, Sebastião Carlos de Lima.

Os terrenos são da prefeitura, que, além disso, cede um técnico para dar suporte aos agricultores e arca com as despesas da água usada para irrigação. As sementes e insumos ficam a cargo dos próprios produtores. Já no caso das hortas escolares, como a finalidade é o uso dos alimentos para a merenda escolar da rede municipal, há também um subsídio para sementes, adubos e toda a estrutura da horta.

Comunidade. A aposentada Raquel Pereira dos Santos, 72, trabalha em uma das maiores hortas comunitárias da capital, na região do Barreiro, desde a sua implementação, em 2008. Ela conta que foi uma forma de encontrar a terra aqui, na cidade, mas que, às vezes, o trabalho em comunidade é um pouco complicado.

“Cada um de nós tem parte do terreno da horta. No início, a ideia era fazer uma caixinha e dividir tudo o que fosse arrecadado, mas não funcionou. Hoje, cada um de nós fica com o que conseguiu vender, mas é responsável por reinvestir em seu canteiro”, explica a agricultora. Raquel nem se preocupa tanto com a venda, faz por amor, mas, segundo ela, a procura é constante, e grande parte da comunidade ao redor consome os produtos.