Operação 'Black Monday'

Quadrilha de pirâmide subtraiu R$ 60 mi de 1.500 pessoas, calcula MP

MPMG, à frente da operação, calcula girar em torno de 1.500 o número de prejudicados pelo grupo de 'piramideiros', em sua maioria, trata-se de pessoas que depositaram economias de uma vida nas mãos dos suspeitos

Por Lara Alves
Publicado em 25 de março de 2021 | 18:00
 
 
Balanço da operação indica a apreensão de cerca de R$ 500 mil em dinheiro em espécie nos endereços ligados aos suspeitos Foto: Ministério Público/Divulgação

A acusação de uma moradora de Pouso Alegre, município à região Sul do Estado, contra uma corretora de investimentos que desapareceu com sua poupança dedicada à aposentadoria foi a ponta necessária para que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) descobrisse a atuação de uma quadrilha de pirâmide financeira, perita em lavar dinheiro subtraído das vítimas por meio de criptomoedas, que foi desarticulada em uma mega-operação – nomeada "Black Monday" – à manhã de quinta-feira (25).

Forças policiais e judiciárias da Paraíba e de Pernambuco uniram-se à investigação, e na região Nordeste do país foram detidos seis integrantes da organização, e mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça mineira foram cumpridos também em Goiás, São Paulo, Bahia, Alagoas, Maranhão, Rondônia, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – no total, 12 localidades no Brasil.

Pormenores do estratagema multimilionário foram revelados à tarde de quinta-feira pelo promotor de Justiça Eduardo de Paula Machado, do MPMG. De acordo com ele, o órgão calcula que o grupo responda por um prejuízo de R$ 60 milhões às pessoas iludidas pela promessa de lucro rápido em troca de investimentos. Estima-se, também, que o número de lesados pela pirâmide gire em torno de 1.500 – moradores de todas as regiões do país.

O promotor detalha que os suspeitos, por meio de sites na internet, prometiam retornos rápidos e maiores que taxas de investimentos tradicionais. “Frente o cenário de baixa rentabilidade em investimentos corriqueiros, as pessoas têm procurado outras possibilidades de investimento na internet. A organização, através da internet, propagandeava aulas de cursos de educação financeira. Ou seja, eles não prometiam investimentos ou comercializavam produtos financeiros propriamente ditos, mas oferta de conhecimento”.

Vítimas, como ele esclarece, cadastravam-se nos sites em questão e, logo em seguida, eram procuradas por telefone por supostos funcionários de corretoras de investimentos. “Pessoas que participavam da organização entravam em contato com as pessoas após o cadastro e se apresentavam como funcionários de corretoras, que, segundo a investigação, são de fachada. A partir do contato, os supostos analistas financeiros vendiam pacotes de investimentos, essencialmente na bolsa de Nova Iorque. Contudo, valores transferidos das vítimas eram enviados a contas de pessoas jurídicas no Brasil e nunca aplicados nos produtos prometidos”.

Investigações começaram em maio último e entre os sites usados pelos suspeitos para atrair vítimas estavam os endereços “Aprenda Investindo” e “Investing Brasil”. Após o registro no site, interessado em finanças eram direcionados para corretores “VLOM” e “LBLV”.

A segunda etapa do crime era cometida logo depois com lavagem do dinheiro sequestrado. “Vítimas eram levadas a crer que faziam investimentos financeiros, quando, na verdade, cifras eram levadas até o topo da pirâmide e convertidas em criptoativos, que permitiam a aquisição de grande patrimônio”, revela o promotor. Em síntese, suspeitos lavavam o dinheiro depositado pelas vítimas com a compra de moedas virtuais – sendo o “bitcoin” uma das mais conhecidas.

O estratagema foi tão vantajoso para a quadrilha que entre os objetos recolhidos em cumprimento de mandados de busca e apreensão à manhã de quinta-feira estão quatro carros de luxo, entre eles um modelo Lamborghini com preço de R$ 2,5 milhões – cálculo do Ministério Público indica que os outros três automóveis valem cifras próximas de R$ 1 milhão. Vinte e nove mandados do gênero foram cumpridos, e também recolhidos cerca de R$ 500 mil em espécie nos endereços ligados aos suspeitos. Vinte e oito mandados de busca e apreensão específicos, referentes ao sequestro de criptomoedas de propriedade da organização, foram igualmente cumpridos – até a tarde de quinta-feira, não se sabia a quantia apreendida em moedas virtuais. Não houve expedição de mandados de prisão para localidades em Minas Gerais, mas, investigações continuam, como revela o promotor.

“Aqui no Estado houve tão somente a notificação de algumas pessoas que serão ouvidas nos próximos dias. Por uma questão de absoluta limitação de trabalho, optamos por parar de ouvir vítimas do crime após a décima quinta. Como reforcei, expectativa é que haja 1.500 vítimas espalhadas país afora. A ideia é, no futuro, criar um canal de interlocução com as vítimas. O foco da nossa investigação, além de punir indivíduos envolvidos, é recuperar os valores subtraídos”. De acordo com Machado, os perfis de algumas das vítimas muito se assemelha ao da moradora de Pouso Alegre. “Trata-se de uma pessoa idosa que depositou todas as economias de uma vida inteira de trabalho nesses supostos investimentos”.

Participaram da operação “Black Monday” à manhã de quinta-feira (25) 26 promotores de Justiça, 42 funcionários dos ministérios públicos relacionados, 19 delegados das polícias civil dos estados citados, 91 agentes da corporação, 30 militares, nove policiais rodoviários federais e um perito.

(Com Natália Oliveira)