Operação Fúria da Noite

Quadrilha em Igarapé tinha olheiros 24 horas e 'jornada de trabalho'

Investigações apontam que Fábio Banguelo "importou" bandido de Esmeraldas para participar do bonde

Seg, 18/11/19 - 15h39

De dentro do Presídio Antônio Dutra Ladeira, na região metropolitana de Belo Horizonte, Fábio Henrique de Jesus Silva, conhecido pelo apelido de "Fábio Banguelo", comandava um verdadeiro "exército do tráfico de drogas" em Igarapé e outras cidades da Grande BH. Nesta segunda-feira (18), durante a operação "Fúria da Noite", 16 integrantes da "Gangue dos Predinhos" foram presos, entre eles a companheira e cunhada de Banguelo. A quadrilha, bem articulada, tinha olheiros 24 horas, turno de serviço e até punições para quem faltasse ao "trabalho".

A ação foi uma parceria entre as polícias Civil e Militar, e contou com a participação de 200 agentes de segurança. Durante os últimos três meses, o grupo teria participado de ao menos dez homicídios nas áreas de atuação. Ao todo foram cumpridos 46 mandados de busca e apreensão no município, em Betim, São Joaquim de Bicas, Ribeirão das Neves e Esmeraldas, na Grande BH, e em Januária, no Norte de Minas. Além dos 16 presos em casas e outros imóveis, outros sete mandados foram cumpridos de pessoas que já estavam no sistema prisional. Outras três pessoas, incluindo a mãe de Fábio, não foram localizadas.

"Com o tráfico rentável, eles conseguiram subir financeiramente, adquiriram armas, drogas e expandiram o comércio de drogas. Virou uma organização altamente qualificada e com hierarquia, trazendo transtornos em Igarapé e região. E a partir do momento que eles conseguiram mais drogas, armas e pessoas que trabalhavam nessa quadrilha, qualquer obstáculo era resolvido com violência", explicou o delegado Edmar Cardoso.

Do lado de fora da prisão, o líder da gangue dos Predinhos tinha como um dos gerentes a companheira, Istefani Roseli da Costa. Após dar à luz, a mulher tirou uma "licença maternidade do crime", e Amanda, irmã dela, começou a ajudar no negócio da família. 


Quadrilha organizada

As investigações apontam que o grupo era bem organizado e tinha uma hierarquia. "É uma estrutura parecida com uma de iniciativa privada. Existe a liderança, a partir dali ele tinha gerentes, que coordenavam a parte financeira e a parte que se fazia presente o uso de violência. Eles 'importaram' um indivíduo da cidade de Esmeraldas que participa de atos de violência dessa quadrilha. Além disso, eles tinham escala de serviço, olheiros 24 horas em diversos pontos de Igarapé. Então se a polícia chegasse a dois, três quilômetros do local, eles já eram avisados. Existiam punições severas para quem falhasse com as regras que foram determinadas, com quem faltasse. Inclusive podendo ocasionar a morte", detalhou o delegado.

Segundo ele, Fábio Banguelo é envolvido na criminalidade desde quando era menor de idade. Com o crescimento da quadrilha, ele foi ganhando importância no mundo do crime da região. O irmão do homem também está preso.


Um bar no meio da rua e expulsões de moradores

Os predinhos que deram nome ao grupo criminoso ficam no bairro Machado. Ao lado dos apartamentos havia um bar que, segundo a Polícia Civil, era usado de fachada para o comércio de entorpecentes. O "Bitaca", conhecido pela maioria da população, foi construído de forma irregular no meio de uma rua, impossibilitando a passagem.

"Essa bitaca era um barzinho bem simplório, mas usado para ponto de drogas. No local da bitaca, pela prefeitura, deveria ser uma rua. Os traficantes fecharam a rua e construíram o bar, recebiam drogas, armas e faziam a distribuição. O Warley, que tinha o apelido de "Gordo", era responsável por lá. Na frente da bitaca tem um sítio, em que o morador foi expulso e o Gordo passou a tomar conta. No meio das investigações (em agosto deste ano), ele foi assassinado. Estamos averiguando autoria e motivação do homicídio", afirmou Cardoso.

Outro ponto de investigação é a possibilidade de agentes públicos facilitarem a entrada de celulares no presídio que Fábio Banguelo cumpre pena. O homem tinha vários aparelhos celulares e trocava de número semanalmente. "Existe uma investigação em segundo plano a partir do momento que nós percebemos essa falha (entrada de celulares). Por agora não vamos passar detalhes", finalizou o delegado.

Sossego na comunidade

Durante a ação das polícias, moradores da área agradeceram aos policiais pela operação. "Algumas pessoas disseram que oravam pelas nossas vidas, pediram para que o trabalhasse para continuasse. Acreditamos que a comunidade estava acuada com as ações dos criminosos. Quem se sentir intimidado pode fazer contato com a gente pelo telefone 181 e não precisa se identificar", destacou o capitão Danilo Antonioni, subcomandante da 7ª Companhia Independente de Polícia Militar de Igarapé.


Presos alegam inocência

Na delegacia, Istefani e Amanada, parentes de Fábio Banguelo, optaram pelo silêncio. Já os outros presos alegaram inocência. "Estou aqui morrendo de vontade tomar um café, eles (policiais) tratam a gente igual cachorro, estão achando que somos traficantes . Não tenho envolvimento com nada, eles só enxergam predinhos na frente deles. Eu estou indignada", disse uma das mulheres, que, segundo a polícia, seria responsável por repassar drogas e armas. Ela participaria do "almoxarifado" do tráfico.

Já um motociclista afirmou que não sabia por qual motivo tinha sido preso. "Sou trabalhador e todo mundo me conhece. Estão me acusando, me 'queimando'. Não mexo com nada de errado, estava em casa dormindo e não sei por qual motivo estou aqui", finalizou.

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