Córrego Novo

Remédios de menino que viu a mãe ser morta foram jogados fora pelo pai

Garoto, que é portador de síndrome de Down e epilepsia toma seis remédios por dia e não consegue esquecer o que aconteceu com ele

Sex, 16/06/17 - 21h30

Desde que a família de Roger

, de 9 anos, se mudou para a pacata Córrego Novo, na Zona da Mata, a cidade passou a acompanhar uma história de luta permanente. Na casa simples que fica no fim de uma rua de terra, no centro do município, o menino, que tem síndrome de Down e epilepsia, era criado com muita dificuldade pela mãe, e o pai, um carpinteiro, provedor da família. Agora, porém, o pequeno Roger não poderá contar com o colo carinhoso da mãe, nem com os remédios essenciais para o seu bem-estar. Na mente está a lembrança das cenas terríveis que assistiu, nessa quinta-feira (15), quando o pai o obrigou a ajudá-lo a descartar o corpo da mãe em uma cachoeira, após o assassinato em uma briga do casal.

Quanto tempo o garoto vai demorar para superar a perda da mãe, só o tempo dirá, mas com certeza a demora será mais longa que o normal. Segundo a assistente social Iara Moura, que desde ontem acompanha o garoto, o pai jogou fora os remédios controlados dos quais ele necessita. “Ele é uma criança que, se não tiver os medicamentos, fica muito violento e agitado. Ele viu o que aconteceu, sabe como a mãe foi morta, foi obrigado a carregar o corpo e agora está sem os remédios. Está demandando muitos cuidados”, relata.

As professoras da Escola Municipal Professor Borges da Costa, onde Roger estuda, têm um carinho especial pelo menino. A mãe, Elaine Martins Ferreira, de 26 anos, que também tinha distúrbios mentais, era conhecida por ser dedicada e por fazer questão de levar o menino todos os dias à escola, sempre com muito asseio e cuidado. “A mãe cuidava dele direitinho... levava para a escola, buscava. (O pai) matou a pobre mulher. Deveria ter sumido e a deixado que ela cuidasse do filho”, comentou uma das professoras, pelo Facebook.

Fazia quatro anos que Roger, Elaine e o pai, de 62 anos, moravam na cidade, vindos de Ipatinga, no Vale do Aço. Contudo, a partir de agora o garoto deve iniciar mais uma mudança. “Os familiares da Elaine devem chegar na noite de hoje (ontem) aqui na cidade para reconhecer o corpo. O velório só deve acontecer amanhã, e o menino será entregue ao convívio deles, que são do Rio de Janeiro”, contou uma das conselheiras tutelares de Córrego Novo. Até a noite desta sexta-feira (16), o corpo de Elaine estava no IML de Caratinga.

A poucos quarteirões do necrotério, o suspeito estava preso. O carpinteiro confessou o crime quando foi encontrado pelos policiais ao lado de Roger e do carrinho de mão sujo de sangue usado para carregar o corpo da mulher. Ele teria dito que estava arrependido, e que tinha matado Elaine por “culpa de satanás”, informou a PM. Ele deve responder por homicídio qualificado, e o delegado ainda decidirá se o acusará por ocultação de cadáver.

A casa simples agora está vazia e Elaine, a mãe cuidadosa, é apenas uma lembrança na memória do garoto.

Bermuda. Em depoimento, o suspeito disse que brigou com a mulher duas vezes durante o dia por causa de uma bermuda rasgada que estava no varal de casa. Essa é a primeira vez que foi preso.

Este foi o segundo homicídio do ano em Córrego Novo, que possui cerca de 3.000 habitantes, conforme estimativa do IBGE. Ontem, o assunto foi muito comentado na cidade, principalmente entre os vizinhos da família. Algumas pessoas se reuniram para tentar comprar os remédios que o garoto precisa, mas nem todos são vendidos na cidade.

Nome fictício

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