Carnaval

Respeito marca folia em BH

Foliões que ajudaram a construir o evento na capital dão dicas de convivência para o público

Por Luciene Câmara
Publicado em 09 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
Bons modos. Vestuário curto não deve ser entendido como convite para nada; festa na capital mineira preza pelo convívio harmônico Lincon Zarbietti - 9.2.2016

O Carnaval de Belo Horizonte se tornou um fenômeno e neste ano promete receber 2,4 milhões de pessoas, sendo 500 mil turistas. Mas a festa aqui é diferente da de muito lugar onde o evento já é tradição, a começar pela liberdade. Os blocos são abertos e não cobram ingresso ou abadá, nem têm área VIP. O espaço é o mais democrático possível – a rua –, e lutas por direitos políticos, sociais e culturais também marcam presença.

Em um ambiente tão livre, não tem regra para ser feliz e cair na folia. Mas algumas dicas são valiosas para que todo mundo entre no clima desse Carnaval tão plural e coletivo, principalmente quem chega pela primeira vez e não quer fazer feio.

Uma das primeiras coisas a saber é que o Carnaval ganhou tal proporção não por investimento público ou privado. Quem faz a festa, em todos os sentidos, é o povo, que desde 2009 fez reacender a folia a partir de movimentos de ocupação do espaço público.

De bloco em bloco, foliões viraram instrumentistas e, hoje, eles são milhares, espalhados pela cidade. O forte não são shows, palcos ou trios elétricos, mas sim baterias que circulam a pé pelos bairros, seguidas por carros de som de potência geralmente moderada. “Nesse Carnaval, o folião não é um consumidor, ele é o agente da cultura. A produção é coletiva. Que as pessoas venham com esse espírito público, de preservar o bem comum”, disse o folião Guto Borges, 35, que participa de vários blocos da cidade.

O Carnaval de Belo Horizonte se destaca ainda por outras características similares, como a convivência harmônica com a cidade, o próximo, as mulheres e a diversidade. “Temos construído a cultura de usar o espaço público a cada ensaio. É preciso respeitar a vizinhança e não fazer xixi na rua nem jogar lixo. A ideia é o Carnaval coexistir com a cidade”, sugeriu uma das integrantes do bloco Tchanzinho Zona Norte Laila Heringer, 33.

A “pegação”, muito característica em outros carnavais pelo Brasil, também passa primeiramente pelo respeito. “É importante que as pessoas entendam que a roupa não é um convite. Uma peça curta não significa que estou a fim de pegar todo mundo”, definiu a produtora do Juventude Bronzeada, Marcela Pieri, 27, bloco marcado, inclusive, pela beleza dos corpos à mostra e pintados de branco.

Deve-se ter cuidado ainda com a fantasia, para não replicar preconceitos já impregnados, como se vestir de mulher de forma caricata ou usar perucas de cabelos crespos. “O folião deve pensar em como lidar com a liberdade do Carnaval”, concluiu Marcela.

Violência

Relatos. Registros de violência sempre foram raros na folia de Belo Horizonte, mas, neste ano, alguns casos de assédio e agressão foram relatados por vítimas em pré-Carnavais nas redes sociais.


Treinamento para a venda de bebidas

Ambulantes. Cerca de 9.400 pessoas começaram a ser credenciadas nessa quarta-feira (8) para a venda de bebidas no Carnaval da capital – no ano passado, foram 3.400.

Moderação. Os ambulantes estão passando por treinamento e estariam sendo orientados a não vender bebida alcoólica para quem estiver muito embriagado.

Marcas. Os ambulantes credenciados só poderão vender produtos Ambev.

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