Belo Horizonte

Restrição de caminhões será em 10,7 km do Anel Rodoviário

Após Kalil afirmar que medida começaria em março em toda a via, Dnit nega, e ministério muda informação

Por Joana Suarez
Publicado em 11 de janeiro de 2018 | 19:39
 
 
Movimentação. Por dia circulam cerca de 160 mil veículos pelo Anel Rodoviário de BH; no ano passado, 30 pessoas morreram na via Foto: ANDRE FOSSATI / OTEMPO – 26.2.2014

Um dia depois de o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), sair de uma reunião no Ministério dos Transportes comemorando a garantia de que os caminhões serão proibidos de circular - em horários a serem definidos - no Anel Rodoviário de BH a partir de março, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) jogou um balde de água fria afirmando que o que ficou acertado foi apenas a elaboração de um estudo até março para que, depois, seja decidida a situação dos veículos de carga na via.

No fim da noite desta quinta-feira (11), o Ministério dos Transportes informou que haverá sim a restrição de tráfego no trecho concedido da BR–040.

“O trecho administrado pelo Dnit funcionará normalmente”, disse também por meio de nota. Do total de 26,1 quilômetros do Anel Rodoviário de BH, 10,7 quilômetros são concedidos.

A decisão sobre quando se dará a restrição, porém, segundo ministério, “será tomada pelo grupo de trabalho a ser criado pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) especialmente para estudar seu impacto neste trecho”. Ainda segundo a nota, “o objetivo é restringir a circulação com o mínimo de transtornos e reduzir o número de acidentes” e o os resultados dos estudos serão apresentado apenas em março.

A reportagem de O TEMPO conseguiu falar com o prefeito que, à princípio, não queria se manifestar sobre a posição do departamento, mas em seguida deu seu recado: “A frase que eu tenho para o Dnit é a seguinte: ‘muito ajuda quem pouco atrapalha’. É a única declaração que eu vou fazer. Eu não pedi reunião nenhuma, quem me chamou para a reunião foi o ministro dos transportes (Maurício Quintella), para resolver o problema”, afirmou Kalil.

Questionado se a restrição aos caminhões ficou garantida na reunião de quarta-feira no ministério, ele continuou: “Foi a palavra do ministro, agora liga para ele. Quem manda é o Dnit ou o Ministro?”, disse.

A reportagem procurou o Ministério dos Transportes para esclarecer o assunto tratado na reunião e recebeu o retorno sobre o trecho menor da restrição, não contemplando toda a extensão do Anel Rodoviário, mas incluindo a descida do bairro Betânia, na região Oeste, onde ocorrem a maior parte dos acidentes graves. Esse trecho é concedido à Via 040 desde 2014.

Vidas
Enquanto essa medida não é acertada para iniciar, os acidentes são acontecimentos certos na via, que matou 30 pessoas e teve uma média diária de 3,4 colisões em 2017. Kalil falou nesse plano para restringir as carretas e “acabar com a matança” no Anel Rodoviário há seis meses, quando teve um acidente grave com caminhão desgovernado no local. Na quarta-feira (10), prefeito havia dito que o problema viário não estava resolvido, pois o Anel precisa de reforma, mas o problema “da vidas (perdidas)” estaria com a retirada dos caminhões.

Na nota do Dnit, na tarde desta quinta, o órgão, acrescentou que ficou decidido que “será desenvolvido um plano de ação visando mitigar o número de acidentes no trecho que concentra o maior número de ocorrências, próximo ao bairro Bethânia”. O departamento também informou que vai acompanhar o grupo de trabalho técnico e “verificar os reflexos nos trechos sob sua administração”. O órgão não concedeu fonte para falar sobre o assunto.

Outro lado

Respostas. A reportagem ligou ontem para a prefeitura de BH, que informou que não responderia sobre a nota do Dnit, bem como a BHTrans, que está fazendo um estudo para implantação de áreas de escape no Anel.

 

Carretas provocaram um terço das mortes

A grande polêmica em liberar essa medida de restrição aos veículos de carga deve-se à dúvida sobre o que fazer com os caminhões e carretas que abastecem a capital e utilizam a via, que virou urbana, mas liga rodovias importantes. O Sindicato e a Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg e Fetcemg) criticaram a alternativa divulgada anteontem já prevendo prejuízos.

O assessor técnico das entidades, Luciano Medrado, argumentou ainda o grande problema de mortes na via são os atropelamentos de pedestres. Mas os caminhões foram responsáveis por 16% dos acidentes, e os atropelamentos, por 5,4%, no ano passado, conforme os dados da Polícia Militar Rodoviária de Minas Gerais (PMRV).

O problema é que a maioria das colisões com os veículos pesados tem como resultado feridos graves e mortos. Em 2017, 12 pessoas perderam a vida em acidentes com esses veículos, sendo as carretas, portanto, envolvidas em um terço das vítimas mortas no Anel.