Promessa

Sabará ganhará maternidade

Não nascem sabarenses desde 2008; ainda em obras, previsão é de início da operação em fevereiro

Qui, 05/05/16 - 03h00
Atrasado. Conclusão da obra estava prevista para junho, mas falta de repasses atrasou intervenção | Foto: Sabrina Guedes

No nascimento do primeiro filho, em 2009, a servidora pública Rosângela Maria das Graças Natarelle, 41, precisou sair de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde mora há 20 anos, para dar à luz a criança em um hospital da capital. Hoje, no sexto mês da segunda gravidez, ela planeja o parto de Gabriel, que também deve acontecer longe de casa e pelo mesmo motivo de sete anos atrás: a falta de uma maternidade em Sabará. O problema, segundo promete a prefeitura, será resolvido em dezembro, quando está prevista a conclusão das obras da unidade municipal.
“Seria bem melhor se a maternidade já estivesse pronta, por ser mais seguro, prático e perto de casa. Conseguir realizar o parto em outra cidade também é mais complicado, porque envolve muita burocracia”, disse Rosângela. Apesar de ela e a família morarem em Sabará, a primeira filha, Júlia, foi registrada na capital: “Não é como eu gostaria, mas, como na maternidade os funcionários já indicam um cartório, acabei fazendo assim”.

Belo Horizonte é a cidade que mais recebe gestantes de Sabará – só no ano passado, 1.738 partos de sabarenses foram realizados em unidades públicas e privadas da capital. O problema começou há oito anos, em 2008, quando a maternidade da Santa Casa foi fechada por problemas financeiros. Desde então, segundo moradores, a unidade voltou a abrir e a fechar várias vezes. Agora, uma nova maternidade está sendo construída.

Sem sabarenses. O problema, segundo o prefeito Diógenes Fantini, atinge tanto a saúde das gestantes quanto as finanças do município. “Além de criar uma falta de identidade das pessoas com a cidade e prejudicar o atendimento sequencial das mulheres, acaba reduzindo o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), porque a maioria das crianças é registrada em outras cidades”, pontuou. A distribuição dos recursos do FPM é feita de acordo com o número de habitantes de cada cidade.

Com investimentos de R$ 4,8 milhões do governo federal e de R$ 400 mil da prefeitura, as obras foram iniciadas em junho passado, com previsão de conclusão em um ano. “Por causa da crise, acabou atrasando, mas a expectativa é que as obras terminem até dezembro e que os partos comecem em fevereiro”, previu Fantini. A unidade terá 24 leitos e capacidade para realizar 200 partos por mês.

Saiba mais

Local. A maternidade está sendo construída em uma área de 1.751,52 m² no bairro Nações Unidas, ao lado da Unidade de Pronto- Atendimento (UPA). Além dos 24 leitos, haverá um centro cirúrgico e ambientes de apoio com leitos de cuidados intermediários.

Hoje. Atualmente, o acompanhamento pré-natal das gestantes sabarenses pode ser realizado nos 13 postos de saúde da cidade.

Ranking. As cidades com mais gestantes que fizeram partos em Belo Horizonte em 2015 foram Contagem (4.928), Ribeirão das Neves (3.600), Santa Luzia (3.003), Sabará (1.738), Vespasiano (1.489) e Betim (1.369).

Retorno. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) não informou quantas cidades mineiras possuem maternidades. A reportagem não conseguiu contato com a Santa Casa de Sabará.

Cerca de 70% das cidades não têm unidade própria

Mais de 45% dos partos realizados nas maternidades públicas e privadas de Belo Horizonte no ano passado foram de mulheres residentes em outras cidades, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). Dos 52.465 nascimentos, 23.792 são de mães de fora da capital.

De acordo com o obstetra e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Marco Túlio Vaintraub, cerca de 70% dos 853 municípios mineiros não possuem maternidade, o que acaba sobrecarregando a rede de saúde das cidades maiores, como Montes Claros, no Norte de Minas, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, além de Belo Horizonte. “Em algumas cidades, as gestantes precisam viajar mais de 100 km para terem acesso à maternidade mais próxima, com risco de complicação no parto e acidentes na estrada. A construção de novas unidades e a descentralização da saúde são necessárias para diminuir a sobrecarga das cidades maiores e possibilitar um atendimento melhor a cada gestante”, afirmou.

Segundo Vaintraub, o deslocamento longo das gestantes durante o trabalho de parto, principalmente em casos de gravidez de alto risco, pode gerar hemorragias e até a morte do bebê. “O ideal é que a mulher tenha próximo a sua casa, uma maternidade completa, com todos os recursos e profissionais necessários, como obstetra, anestesista, pediatra, enfermeiro e fisioterapeuta, para garantir a assistência adequada para mãe e filho”.
 

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