Após enchente

Santa Maria de Itabira tenta se reerguer um mês após tragédia

Cidade da região Central de Minas segue com rastros da destruição do temporal de fevereiro: 486 habitantes seguem desalojados

Seg, 12/04/21 - 11h14

Aos poucos, Santa Maria de Itabira tenta se reerguer após o temporal que devastou a cidade no dia 21 de fevereiro. Pelas ruas do pacato município da região Central de Minas, com cerca de 11 mil habitantes, ainda são frescas as tristes lembranças dos danos causados pela chuva.

Com muito trabalho e solidariedade entre os moradores, o município tenta apagar os rastros da devastação causada pela enchente de fevereiro que matou seis pessoas, entre elas uma criança de apenas 5 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, parte do bairro Poção, um dos mais atingidos pelas águas, segue interditado.

Dos 2.936 moradores atingidos pelo desastre natural, 75 desabrigados continuam vivendo divididos em três abrigos municipais. Outras 486 pessoas estão desalojadas, em casas de parentes ou amigos, conforme informou a Secretaria Municipal de Assistência Social.

Quem passa pelo bairro Poção ainda percebe as marcas do dia da destruição. Os escombros das casas que foram dragadas pela lama ainda estão lá. Muitas das residências que ficaram de pé seguem com as paredes rachadas e com marcas de onde a água e a lama chegaram naquele dia.

“O bairro Poção parece um lugar-fantasma, cheio de tristeza e dor. Está bem diferente da cena que guardo na memória, com crianças brincando na rua e felizes”, conta o comerciante Alberto Luciano da Cruz, 26, que cresceu e ainda vive no bairro.

Sem saber quando voltam

O comerciante, além da mãe e dos sete irmãos dele, teve sua casa no bairro, tomada pela lama. Os imóveis seguem interditados pela Defesa Civil. Atualmente, parte da família dele está morando em abrigos. Outra passou a viver de aluguel com o auxílio-moradia de R$ 400 fornecido pela prefeitura da cidade.

Para Cruz, está difícil viver com a angústia e a indefinição sobre quando eles poderão retornar para suas casas. “Queremos saber quando vamos poder voltar para as nossas casas e ver, ter o nosso bairro com vida de novo. Nosso comércio foi liberado, assim podemos focar em trabalhar e reconstruir nossas vidas”, conta ele, que pode voltar a abrir sua loja há poucos dias.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o bairro Poção segue parcialmente interditado devido a seu posicionamento geográfico. O bairro de Santa Maria do Itabira é rodeado por encostas e ainda passa por análises geológicas para a elaboração de laudos de risco de deslizamentos de terra. De acordo com a corporação, desde a tragédia de fevereiro, 121 vistorias foram feitas no bairro em parceria com profissionais cedidos pela prefeitura.

Proporção dos prejuízos ainda é desconhecido pela prefeitura

Em nota, a Prefeitura de Santa Maria de Itabira afirmou que, até então, segue “planilhando os danos causados pelas chuvas na cidade para potencializar a solicitação de recursos de restabelecimento e reconstrução junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional”.

Na época do desastre, o prefeito Reinaldo das Dores Santos (PSD) afirmou que seriam necessários ao menos R$ 20 milhões para reparar os danos causados pela chuva. 

Para ajudar os atingidos, a prefeitura ampara as famílias desabrigadas e desalojadas com aluguel social, fornecimento de abrigos, doações de alimentos e psicólogos.

Foi solicitada a isenção da cobrança de água e de luz durante três meses. A Cemig afirma que já cedeu descontos na cidade, mas a Copasa não se pronunciou. Já o governo de Minas disse que auxilia o município na tarefa de obter recursos financeiros junto à União.

“A dor que eu sinto nunca vai passar”, diz pai de menino morto

Enquanto a prefeitura elabora projetos para buscar verbas junto ao governo federal para reconstruir a cidade, no rosto das famílias de Santa Maria do Itabira que perderam parentes vítimas da chuva, em fevereiro, ainda não cabe um sorriso, mas as lágrimas foram enxugadas e deram lugar à esperança e à vontade de recomeçar a vida.

Como é o caso do mecânico de caminhões Dawid Dener da Silva Gonçalves, 37, morador do bairro Poção e pai do garoto Bruce Dener Gonçalves, de apenas 5 anos, que morreu soterrado, vítima da enchente.

No dia do temporal, a casa onde ele e a família moravam foi engolida pela lama. “A dor que eu sinto, de perder meu filho, nunca vai passar. Mas com o apoio da minha família e dos amigos estou conseguindo me reerguer. Voltei a ter fé e esperança em dias melhores”, disse o mecânico à reportagem de O TEMPO.

Além de perder o filho, Dawid sofre com a situação da mulher dele, Raquel, que sobreviveu à tragédia, mas teve fraturas graves pelo corpo e se recupera na casa da irmã dela, em uma cidade vizinha. “Em breve minha esposa vai estar de volta para recomeçarmos juntos. O importante é viver um dia por vez”, concluiu o mecânico.

Ele conta que ganhou da mãe parte de um terreno, em outro bairro de Santa Maria do Itabira, que não foi devastado pela chuva, para construir uma nova casa. Com apoio de vizinhos, Dawid espera concluir logo a construção para o casal recomeçar a vida, destroçada pela morte precoce do pequeno Bruce.

Professor cria canção sobre a tragédia 

Com a casa da família interditada desde o dia da tragédia, o professor Giovani Alex de Souza, 40, a esposa e as duas filhas estão vivendo em um dos três abrigos da prefeitura. Em meio às incertezas sobre o futuro, o professor tem doado seu tempo para ajudar as crianças desalojadas do abrigo a estudar e realizar tarefas lúdicas. 

Além de novas poesias, um dos resultados do trabalho foi uma música, que retrata o sentimento de dor sentido em Santa Maria do Itabira após a tragédia. A letra fala de união e fé para recomeçar. “Só a arte pode nos transmutar e nos dar a leveza que precisamos e merecemos neste momento”, afirmou Souza.

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