Empecilhos

Sem curtir a folia, moradores de BH ficam ‘ilhados’ em casa

Vias interditadas sem aviso prévio dos órgãos municipais têm dificultado a vida das pessoas

Por Litza Mattos
Publicado em 05 de março de 2019 | 03:00
 
 
Maria Palma e a mãe, Letícia, se mudaram para um hotel Foto: Arquivo pessoal

Com muitas vias interditadas para o Carnaval, moradores de Belo Horizonte têm tido dificuldade para receber comida e até remédios em casa. Quem não curte a folia e vive principalmente em bairros das regiões Centro-Sul e Leste – onde se concentram mais de 50% dos blocos – relata ficar “ilhado” e culpa a falta de informação da prefeitura em relação ao percurso dos blocos, desvios de ônibus e fechamentos de ruas sem aviso prévio.

A Empresa de Transportes e Trânsito (BHTrans) informou que mudou a logística em relação ao ano passado, mas admite que alguns transtornos são “inevitáveis pelo tamanho da festa”.

Para essas pessoas que não estão curtindo a folia, sair ou chegar em casa tem sido um verdadeiro desafio. Moradora da região da Savassi, a administradora Ana Flávia Branco, 48, diz que, no sábado, saiu de manhã para “fazer estoque” de comida e, na volta, ficou mais de uma hora e meia no trânsito até conseguir chegar em casa. “Eu moro na rua Santa Rita Durão, e fecharam todos os quatro acessos que tenho. Se eu não gosto de Carnaval, fico literalmente presa em casa. E o pior, não mandaram nenhuma cartilha informativa. Para conseguir entrar na minha rua, tive que pedir ao guarda, mas ele disse que eu não conseguiria sair mais”, diz.

Ana Flávia afirma que, no ano passado, foram fechadas apenas as ruas que iam receber blocos e, neste ano, a interdição foi ampliada. Ela conta que já se reuniu com outros moradores para, no próximo ano, tentar reivindicar alguma medida da prefeitura.

Com o joelho quebrado e passando mal, a servidora pública Adriana Fernandes, 50, teve que contar com a ajuda de vizinhos. Moradora da rua da Bahia, ela também reclama da falta de informação. “Chamei um motorista de aplicativo para ir ao hospital, mas o carro não chegava. Resolvi pedir medicamentos na farmácia, mas o motorista tentou fazer entrega três vezes, sem sucesso. Só melhorei depois que uma vizinha se prontificou a ir à farmácia para mim”, relata.

No caso da jornalista Maria Palma, 59, que mora com a mãe Letícia, de 86 anos, na avenida Brasil, a solução foi se mudar para um hotel desde a última quinta-feira. Ela reclama de ter que arcar com o custo da hospedagem da família e dos animais de estimação e de tanta confusão próximo à área hospitalar. “No ano passado, tinha três trios elétricos, um barulho enorme, e não tinha como sair de casa com a multidão passando. Tenho vizinhos reclamando que só conseguem sair de casa entre uma e cinco da madrugada”, diz.

 

Falta de informação é uma das falhas

A cozinheira Gabriela Baumgratz, 23, que trabalha no bairro Santa Efigênia e mora perto da rua Sapucaí, na região Leste, conta que desistiu de voltar para casa de ônibus após esperar mais de 40 minutos pelo transporte. “Vim a pé, pois era a única forma de chegar em casa”, disse.

Até mesmo o especialista em engenharia, transporte e trânsito da Universidade Fumec Márcio Aguiar, que mora no alto da avenida Afonso Pena, conta que também tem enfrentado transtornos com deslocamentos e evitado sair de casa. Segundo ele, a principal falha observada neste Carnaval é em relação à falta de informação aos moradores. “O ideal é sempre tentar deixar alternativas sinalizadas para que as pessoas possam chegar e sair de casa. Esses acessos têm que ser estudados com antecedência para deixar as ruas liberadas de forma que os moradores possam circular”, diz.

Aguiar ressalta que o poder público tem feito um esforço grande, mas ainda é preciso aprender algumas coisas. “Falta realmente planejamento e comunicação para as pessoas nos bairros. O poder público deve investir na sinalização e comunicação de forma mais precisa e direcionada, uma vez que cada bairro tem sua demanda. No próximo ano, a BHTrans vai ter que aperfeiçoar para deixar pessoas brincarem e não penalizar tanto os usuários do entorno do evento”, diz.

Orientações

Acessos. Os agentes de trânsito estão sendo orientados para liberar os serviços de entrega e os acessos às garagens nas ruas interditadas, segundo a diretora de ação regional e operação da BHTrans, Deusuite Matos.

 

Minientrevista

Deusuite Matos

Diretora de ação regional e operação da BHTrans

Como foi feita a logística para o Carnaval?

Nós estamos falando da maior festa que Belo Horizonte tem em matéria de público e logística, porque é uma festa pulverizada. Nós trabalhamos com os bolsões para tentar fazer uma área mais abrangente de isolamento, que é justamente para evitar que as pessoas que estão passando no trânsito normal fiquem presas. Diariamente, estão trabalhando em torno de 500 agentes da BHTrans.

Qual a orientação para esses deslocamentos?

Apesar de a gente ter feito um planejamento com antecedência, para alguns moradores sabemos que tem um impacto, mas o que pedimos é compreensão. A gente entende que tem transtornos, mas algumas coisas são inevitáveis pelo tamanho da festa.

Onde as pessoas podem se informar?

No site e nos aplicativos (Siu Mobile e Belo Horizonte Surpreendente). Além disso, temos os postos presenciais nas ruas, o Twitter e o telefone 156.