Análise

Sínodo no Vaticano não traz mudanças práticas

Mas abre caminhos à reflexão

Dom, 26/10/14 - 03h00

“Jesus não tem medo de novidades, por isso nos surpreende continuamente, levando-nos por caminhos novos e imprevisíveis. Renova-nos sempre”, disse o papa Francisco após a conclusão da Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos – encontro mundial de cardeais encerrado no último dia 18. A fala dele pode significar que, embora o texto final da reunião tenha mantido a posição conservadora da Igreja Católica sobre divorciados e homossexuais, o caminho para a reflexão está aberto, segundo especialistas.


“O sínodo não trouxe mudança prática alguma, mas houve discussão. O papa Francisco abre o debate”, avalia o historiador Rodrigo Coppe Caldeira, especializado em Igreja Católica contemporânea. Segundo ele, o “tempo” de mudança da religião é diferente do ritmo da sociedade moderna e pós-moderna. “A mudança é lenta, mas a Igreja sempre muda. Se não, hoje ela seria um museu”.

O especialista acredita que, “caminhando com coragem por terrenos espinhosos”, Francisco avança. “O sínodo está aberto, as questões ainda não foram definidas. O que existe é espaço para pensar”, avalia.

Em 2015, o tema família – que neste ano norteou o encontro – volta à discussão no Sínodo Ordinário e vai constar em documento final, que poderá ter peso mais disciplinar. O bispo auxiliar dom João Justino, da Arquidiocese de Belo Horizonte, diz que nas próximas semanas o papa deve enviar o texto da última reunião às igrejas. “As proposições serão estudadas nas bases, como preparação para 2015”, explicou.

Entenda. Por 15 dias, a Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos abordou o tema família. Em uma versão preliminar do texto que seria emitido aos fiéis, havia acenos de aceitação aos gays e divorciados: “As pessoas homossexuais têm dons que podem oferecer à comunidade cristã, e é preciso acolhê-las, valorizando sua orientação sexual”.

A versão definitiva, entretanto, excluiu a maioria dos trechos progressistas. “Homens e mulheres com tendência homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza” foi a passagem mais próxima do que se publicou inicialmente.

De acordo com o historiador, o papa inovou ainda ao divulgar os números de votos favoráveis e contrários aos trechos do texto. Caldeira explicou que três parágrafos específicos do documento não obtiveram os necessários dois terços de aprovação, justamente os que falavam sobre divorciados e homossexuais.

Luta por moradia
Há 50 anos, o italiano Pier Luigi Bernareggi, 76, conhecido como padre Pigi, deixou seu país para ingressar no seminário em Belo Horizonte – que ameaçava fechar por falta de jovens vocacionados – e nunca mais deixou a capital. Hoje ele é reconhecido pelo trabalho de urbanização de favelas e apoio aos sem-teto. Responsável pela paróquia de Todos os Santos, no bairro Primeiro de Maio, na região Norte, o sacerdote busca criar um amplo movimento de luta pela moradia. “Nosso objetivo não é promover ocupações, mas sim mudar as leis injustas de uso do solo”, declara.

“Rompendo muros” para aproximar as pessoas
“Amar sempre, amar logo, amar a todos”. Esse é o lema do padre Celso Antônio Rocha de Faria, 46, e também da paróquia Santa Clara de Assis, no bairro Buritis, na região Oeste da capital. Há oito meses, ele foi transferido do Castelo, na região da Pampulha, onde atuou por 16 anos, com o desafio de “romper” os muros que cercam os prédios do Buritis e do vizinho Estoril e fortalecer a fé da comunidade. Para isso, levou para lá o Movimento das Pequenas Fraternidades, que já fazia sucesso no Castelo. O projeto consiste em criar grupos que se reúnem semanalmente, cada vez na casa de um participante. “É uma maneira leve de promover a fé e a solidariedade e de diminuir a distância entre as pessoas”, comenta o padre. Hoje já há 18 fraternidades no Buritis, e o Castelo tem 75.

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Com agências