A advogada Jucelia Braz, representante da delegada Monah Zein, revelou detalhes da saída da policial do apartamento onde ficou trancada por mais de 30 horas, no bairro Ouro Preto, região da Pampulha, em Belo Horizonte, na tarde desta quarta-feira (22 de novembro). Segundo a defesa, ela deixou o imóvel por vontade própria, pouco antes das 17h, e estava muito nervosa porque "sentiu-se violada".

"Ela saiu, desceu pelo elevador e foi conversar. Como estava muito nervosa, a equipe médica que estava de plantão interveio. Ela foi levada para um hospital", afirmou a advogada, que também mencionou que a delegada está "sob efeito de medicação". A delegada deixou o condomínio em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

A advogada afirmou que a abordagem da Polícia Civil contribuiu para tornar a situação tensa. "Montaram uma base na área de festas do prédio", criticou. "Ela não tinha noção do que estava acontecendo. Havia, no andar dela, uma equipe com mais de 20 policiais civis, pessoas para todo o lado. O prédio foi tomado", argumentou.

A advogada também destacou que o adoecimento mental da servidora não é recente e está associado a supostos assédios que a delegada sofre dentro da instituição. "O problema não surgiu ontem [terça-feira], não surgiu recentemente. O assédio na Polícia Civil é antigo. O que gerou esse estresse todo não passa de um processo depressivo decorrente do assédio", acrescentou.

O advogado Bruno Correa também afirmou que os policiais civis, com a saída da delegada do apartamento, vão cumprir um mandado de busca e apreensão na residência. "O mandado existe e está sendo cumprido", comentou, sem saber informar o motivo da expedição da ordem judicial. A reportagem questionou a Polícia Civil e aguarda retorno.

Entenda o caso 

A confusão teve início na manhã da última terça-feira (21 de novembro), mas se tornou pública na tarde do mesmo dia, após a policial fazer uma live em seu Instagram mostrando o interior de seu apartamento enquanto negociava com outros agentes, que estavam do lado de fora. Nas imagens, a mulher aparecia, inclusive, portando uma arma que, em dado momento, foi jogada para fora de casa por ela em frente às câmeras.

Monah relatou ainda, durante a transmissão ao vivo, que, às 9h30, colegas teriam ido até a casa dela depois dela enviar mensagens em um grupo dizendo que não retornaria ao trabalho. Depois de conversar com os policiais, ela teria então retirado o interfone da casa do gancho, o que os levou a chamar o Corpo de Bombeiros e a polícia. “Eles não querem me ajudar ,eles querem fazer o cenário onde eu estou louca, doente, armada, perigosa, sendo que não existe isso", disse a delegada durante a live.

A mulher também admitiu ter atirado contra colegas de profissão. “Quatro homens armados, com escudo, para tirar minha arma? Sendo que eu estou trabalhando normal, eu só avisei que não vou para a delegacia e eles vêm aqui fazer esse transtorno? Fazer eu dar seis tiros na escada de incêndio?", falou Monah. A informação de disparos dentro da casa foi confirmada no primeiro dia pela Polícia Civil, por nota, mas sem mais detalhes.

Delegada estava de férias

Já nesta quarta-feira (22), depois de toda uma noite de negociação, o porta-voz da Polícia Civil, delegado Saulo Castro, detalhou que a delegada Monah Zein retornaria na terça ao trabalho após um período de afastamento, primeiramente por "questões médicas" e, em seguida, por férias.

“Ela enviou em um grupo dos colegas de trabalho uma mensagem que sugeria algo que pudesse levar uma situação contra a própria saúde dela. Nesse sentido, os próprios colegas do local de trabalho vieram para cá acompanhados dos profissionais do nosso Centro Biopsicossocial, no intuito de acolher a colega e preservá-la", argumentou.

Ainda conforme Castro, entretanto, a conversa inicial não teria se "desdobrado" como a polícia imaginava. "A colega estava um pouco mais exaltada e, diante desse cenário de crise, a partir dos protocolos, a Polícia Civil julgou necessário chamar a Core, para iniciar essa negociação, para que a gente chegue no desfecho o mais breve possível", completou.

Denúncia de assédio e perseguições

O advogado Leandro Martins, que está à frente da defesa da delegada, afirmou que a profissional da segurança pública sofreu “perseguições” e “retaliações” no exercício da profissão.

No comunicado, Martins lamentou profundamente o estado de saúde delicado no qual a delegada se encontra momentaneamente. Ele alega que isso é resultado de “perseguições” e “retaliações” sofridas no decorrer dos anos.

Na porta do imóvel, a advogada Jucelia Braz, que também representa Monah, afirmou que sua cliente alega ser vítima de assédio moral por parte da Instituição, o que teria motivado toda a situação. "Infelizmente, é conhecimento de todos os casos de assédio moral que cometem contra os policiais, principalmente contra as mulheres, que sofrem dentro da Polícia Civil, então, vamos tomar algumas providências para tentar acalmá-la e tirá-la de dentro o mais rápido possível", disse.

Saída em ambulância

Momentos antes da saída da delegada, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) entrou na garagem do prédio. Monah desceu do apartamento acompanhada de policiais, embarcou na ambulância e deixou o condomínio. Vizinhos se reuniram para acompanhar o desfecho do caso. 

A mãe da delegada, que chegou de Curitiba na noite da última terça para ajudar nas negociações, também acompanhou a saída de Monah do prédio. Ao mesmo tempo em que a filha era colocada na ambulância do Samu, a mãe embarcou na parte da frente do veículo. Ela não quis conversar com a imprensa.