Ouro Preto

Sobram vagas em repúblicas 

Humilhações impostas por veteranos a calouros durante a seleção seriam uma causa da vacância

Qua, 20/08/14 - 03h00
Ouro Preto. Cerca de 7.500 alunos matriculados em graduações retomam as aulas nesta semana | Foto: DENILTON DIAS / O TEMPO

Mesmo gratuitas e disponíveis em prédios públicos, estão ociosas cerca de 180 vagas de moradia para estudantes em repúblicas federais de Ouro Preto, na região Central do Estado. Alunos com dificuldade socioeconômica relatam que não conseguiram espaço para morar nessas casas por reprovação de veteranos ou por desistência diante da humilhante “batalha” – como é chamado o processo de seleção dos candidatos a um lar.
 

Das 769 vagas disponíveis nas repúblicas federais da cidade, apenas 589 estavam ocupadas no semestre passado, segundo a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). A taxa de ocupação de 76,5% se mantém atualmente, mesmo com cerca de 7.500 alunos matriculados em graduações retomando as aulas nesta semana, após o período de férias.

A seleção dos candidatos não leva em conta o critério de baixa renda. Cada moradia tem um regimento interno e um sistema de avaliação, que considera, por exemplo, requisitos como espírito de solidariedade e senso de comunidade. Os moradores mais antigos escolhem quem vai ocupar as vagas.

Já os alojamentos e apartamentos dentro do campus de Ouro Preto e as repúblicas federais de Mariana, na mesma região – também gratuitas –, seguem o critério de baixa renda e estão com todas as 224 vagas ocupadas. Segundo a Ufop, instituição que faz a seleção dos candidatos, não há vagas disponíveis, pois elas “são sempre ocupadas por estudantes classificados como excedentes no edital de moradias”.

“Batalha”. Alunos criticam o processo de seleção. Uma aluna de letras disse que tentou, por dois meses, uma vaga em uma república federal da cidade, em 2013. Ela contou que, para ser aceita na casa, tinha de fazer café para os veteranos, servir bebida em festas, ingerir cachaça à força e suportar os piores xingamentos.

“Elas falavam que é uma preparação para a vida, mas fazem a gente se sentir um lixo”, afirmou a jovem, de 20 anos, sob anonimato. Após ser reprovada em duas disciplinas no curso, ela desistiu da “batalha”, assim como outras cinco meninas que também estavam na seleção, segundo ela. “A ‘batalha’ dura três meses, mas depois ainda tem a ‘rebatalha’. Eu até poderia ser aceita, mas não teria estômago”, relatou. Vinda do Norte de Minas e sem boas condições econômicas, ela alugou apartamento e foi morar com uma amiga, com a ajuda financeira dos pais.

Quem desiste é chamado de “catador” – vai “catar” lugar particular para morar. “Na maior parte dos casos, o que acontece é a própria pessoa resolver ‘catar’, pois os veteranos pegam muito pesado nas ‘batalhas’”, disse outra aluna da Ufop, também sob anonimato.

Saiba mais sobre os postos

Regras. As moradias gratuitas em alojamentos, apartamentos e repúblicas de Mariana são ocupadas por meio de edital aberto pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) a cada semestre e seguem o critério de baixa renda. Do total de vagas, todas ocupadas, 64 são em quartos individuais, 96 nos apartamentos e 64 nas repúblicas.

Ociosas. Já nas 59 repúblicas federais de Ouro Preto, há uma média histórica de lugares ociosos que gira em torno de 70 a 80 vagas, segundo Rafael Magdalena, pró-reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis. Ele disse, no entanto, que isso ocorre em períodos de transição, quando alunos concluem o curso e outros ingressam.

Associação. Procurada pela reportagem por telefone, a Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto não retornou os chamados.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.