REGIÃO CENTRAL DE MINAS

Sobreviventes descrevem cenário da tragédia em Bento Rodrigues

Eles falam sobre os momentos de horror que passam desde essa quinta-feira, em rompimento de barragem que atingiu pelo menos sete cidades da região

Sex, 06/11/15 - 10h52

Moradores, familiares e sobreviventes da tragédia na região Central de Minas, conversaram com a reportagem de O TEMPO que está na região desde essa quinta-feira (5). Ainda não é possível confirmar o número de vítimas e desaparecidos, mas os bombeiros divulgaram que pelo menos 13 pessoas estão desaparecidas e mais de 500, entre ilhados e feridos, já foram resgatadas. Até então, uma morte já foi confirmada.

As pessoas resgatadas com ferimentos estão sendo encaminhadas para pronto atendimento no hospital do município de Mariana e demais municípios próximos e, os desabrigados, para um ginásio de Mariana onde equipes prestam auxílio a todos.

O repórter de O TEMPO, Johnny Cazetta, conversou com o morador de Bento Rodrigues, José das Graças Caetano, de 62 anos:

Outro morador de Bento Rodrigues, Antônio Martins Quintão, perdeu 90 canários belgas, animais que criava há anos. Ele também guardava R$ 50 mil debaixo de um colchão. A lama levou tudo. Quando vi a barragem descendo, já fui jogando os idosos e as meninas na caminhonete. Fiquei ilhado lá em cima. Não apareceu ninguém para me socorrer na hora H".

A população está revoltada com o fato de não terem recebido nenhum alerta. A barragem teria estourado às 14h, mas só chegou a informação às 16h. "O pessoal que trabalha lá disse que deu uma explosão às 14h30", lembrou Quintão.

Moradores contaram que ouviram gritos de gente, que estaria na lama, durante esta noite. Ainda nessa quinta-feira havia pessoas em cima de árvores, com lama até o pescoço e o braço para cima, que foram resgatadas. Não há sinal de vida na parte soterrada, mas os moradores insistem em procurar e a polícia está impedindo a passagem pelo risco de soterramento.

"O cenário aqui é muito triste. Não dá para ver a cidade, só telhado, lama, carros em cima de casas. É possível ver umas 30 casas cobertas de lama, mas moradores dizem que onde só se vê lama ainda tem mais casa por baixo. Muita criação de animal morreu", detalhou a repórter de O TEMPO, Joana Suarez, enviada especial a Bento Rodrigues.

A repórter Aline Diniz conversou ainda com um morador que perdeu a mãe na tragédia:

Um morador também conversou com a repórter Aline Diniz e contou como salvou 20 pessoas:

 

Antônio Pereira, outro morador de Bento Rodrigues, conta que eles passaram a noite inteira ilhados no escuro e sem água. "A barragem deu o primeiro sinal 14h30, mas só fomos ver às 16h. Graças a Deus que foi de dia, porque se fosse de noite não salvava. Em dez minutos o pessoal daqui conseguiu se salvar, muita gente", contou.

"Não haverá resgate de corpos na lama por enquanto. Primeiro, as equipes que trabalham na região estão cadastrando os moradores que sobreviveram para ver quantos estão desaparecidos", relata ainda a repórter Joana Suarez. Moradores disseram aos repórteres de O TEMPO terem visto, pelo menos, quatro pessoas sendo levadas pela lama.

O prefeito de Mariana, Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior, sobrevoou a região do acidente, nessa quinta-feira (5) e afirmou emocionado que "nunca poderia imaginar uma tragédia tão grande".

Inúmeros familiares de funcionários da Samarco e de moradores do distrito de Bento Rodrigues se aglomeraram na madrugada desta sexta-feira (6) em frente ao Hospital Monsenhor Horta.

Entretanto, eles seguem sem nenhuma notícia concreta por parte dos funcionários da unidade de saúde. "Recebi uma ligação da empresa falando que de cinco pessoas que eles não tinha achado um era o meu marido, Marcos Roberto Xavier, de 32 anos. Ele trabalha como operador de máquinas. Estou desesperada e não consigo uma notícia concreta", contou Tatiana Luzia de Lima Xavier, de 22 anos, que tem dois filhos de 1 e 5 anos com a vítima.

A promotora de vendas Jaceline Cecília, de 29 anos, conta que também não consegue notícias de sua tia, moradora do distrito. "Estava trabalhando na prefeitura e no fim do expediente ouvi o pessoal comentando. Imediatamente lembrei da minha tia. A minha mãe ficou desesperada e, desde então, não conseguimos saber o que aconteceu", reclama. 

Testemunhas relatam que outro distrito de Mariana também foi atingido pelos rejeitos das barragens que se romperam. Uma mulher que preferiu não ser identificada contou que estava desesperada atrás de notícias de seus familiares, que vivem no distrito de Paracatu de Baixo.

"Recebi uma ligação de alguém a pedido deles, falando que estava tudo bem. Mas que Paracatu foi arrasada. Felizmente avisaram a tempo deles deixarem as casas", contou. Os familiares teriam informado ainda que eles serão levados para Mariana, já que a parte baixa do distrito está toda alagada.

Quase 10 distritos e povoados atingidos

Segundo a repórter Bárbara Ferreira, repórter de O TEMPO que também está na região, a zona rural dos distritos foram as mais atingidas, especialmente Bento Rodrigues. "Os pastos e as fazendas estão completamente cobertos por lama", relata. A enchente de lama que alagou o distrito chegou pelo rio Gualaxo.  

O distrito de Gesteira também atingido, sobrando em pé apenas uma escola e uma casa. A ponte que dá acesso ao povoado desabou com o impacto da enchente, dificultando o socorro. A cidade de Barra Longa chegou a decretar estado de emergência. Ao longo do dia, outros distritos também devem fazer o decreto. 

Outro distrito, Barreiro, também foi atingido pela enchente cobrindo a praça principal da cidade. A margem do rio foi destruída em mais ou menos 30 quilômetros, segundo o prefeito da cidade. O prejuízo estimado é de R$ 6 milhões. A principal atividade econômica destes distritos, que são a produção de leite e plantações, foi bastante prejudicada, já que tudo foi destruído. 

A maioria dos desabrigados (estima-se cerca de 530) são da zona rural, mas não conseguem ir para a cidade por causa da ponte. E a lama que desce das barragens ainda não dá sinais de parar. 

Além de Bento Rodrigues, também já entram na contagem dos atingidos os povoados de Paracatu, Paracatu de Baixo, Rio Doce, Camargos, Barra Longa, Santa Rita Durão, Barreiro e Gesteira. 

Para ajudar

Para quem quer ajudar as pessoas atingidas pelo desastre em Mariana e região, a Defesa Civil pede para que não sejam doados mais roupas e alimentos porque, felizmente, já há um grande volume deste material. A prioridade de doações para agora é água potável.

A prefeitura divulgou a conta bancária para que doações em dinheiro também sejam feitas por pessoas que não moram na região, mas querem ajudar: Prefeitura Municipal de Mariana / Banco do Brasil/ Agência 2279-9/ CC 10.000-5.

Além disso, doações estão sendo recolhidas no Centro de Convenções de Mariana, na Câmara Municipal de Ouro Preto e na TV Top Cultural, localizada na rua Engenheiro Correia, 315, na Vila Aparecida em Ouro Preto. 

Atualizada às 12h38. 

 

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