Combate

Solução está em múltiplas ações

Especialistas defendem articulação de ações policiais e políticas públicas para enfrentar tráfico

Seg, 26/01/15 - 03h00
BR–381. Polícia Rodoviária Federal interceptou 500 kg de maconha em um caminhão, em novembro | Foto: polícia rodoviária federal- divulgação/4.11.2014

Para se reduzir o tráfico de drogas no Brasil, é necessário estruturar um conjunto de ações policiais e aprimorar políticas públicas, na opinião de especialistas ouvidos pela reportagem. Eles afirmam que ainda é necessário melhorar a oferta de tratamento para o usuário de entorpecente, incrementar a segurança das fronteiras, articular o trabalho das forças de segurança e combater a corrupção policial.

Coordenador do Núcleo de Estudo de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Emmanuel Nunes avalia que a investigação de crimes não tem a atenção devida do poder público, o que produz gargalos na condenação de criminosos, gerando impunidade e perpetuando o tráfico de drogas.

Segundo o pesquisador, há dois tipos de traficantes: “grandes operadores” e “formiguinhas”. Os primeiros são os líderes e raramente são presos. O pouco investimento em inteligência dificulta a prisão dos “cabeças” do esquema. Por outro lado, nas favelas e periferias, os vendedores, designados por ele como “formiguinhas”, são os alvos das operações e usualmente detidos.

O especialista destaca que o fato de o tráfico de drogas ser estruturado sob uma ótica de negócio gera dificuldades para o enfrentamento da polícia. “É um crime de racionalidade comercial. Pode alocar vários pontos diferentes, o que vai demandar investigação”, analisa.

Crack. Leandro Piquet Carneiro, do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), alega que o crescimento do consumo do crack aumenta a influência do tráfico de drogas nas estatísticas de homicídios. A droga vicia rapidamente e agrupa usuários nas chamadas “cracolândias”, o que resulta em mais conflitos e mortes. Por isso, Carneiro defende a estruturação de políticas de acolhimento dos usuários. “A dependência causada pelo crack é muito forte. Mais do que uma questão policial, é necessário investir na área de saúde”, afirma.

A falta de articulação entre forças de segurança de níveis estadual e federal também é um dos obstáculos no enfrentamento ao crime organizado. “Não é o delegado de bairro que vai integrar as ações, é preciso existir uma estrutura e apoio das outras instituições”, diz o professor Carneiro, destacando que as fronteiras também devem receber atenção. “Enquanto a cocaína for ilegal, os países precisam fazer o dever de casa e controlar a entrada. A legalização ainda vai demorar”.

A corrupção dos policiais é mais um aspecto que atrapalha a investigação dos crimes. Para isso, é preciso um fortalecimento do trabalho das corregedorias das polícias.

Com Karla Scarmigliat (sob a supervisão de Flaviane Paixão)

Violência do tráfico chega a povoado

Quartel do Sacramento, distrito de Bom Jesus do Galho, na Zona da Mata, costumava ser um local tranquilo para se morar, sem problemas com a criminalidade. A sensação de segurança, no entanto, não é mais uma realidade para a população de pouco mais de 15 mil habitantes no lugarejo. No último ano, os moradores têm presenciado a intensificação do tráfico de drogas, que tem resultado em tentativas de homicídios.

A chegada da criminalidade, de acordo com um morador de 75 anos que pediu para não ser identificado, é consequência da ausência de patrulhamento da polícia, o que dá “carta-branca” aos criminosos. “Há mais de um ano estamos sem nenhuma autoridade aqui, na região. Um usuário (de droga) levou um tiro no meio da rua, e a polícia só chegou no outro dia”, reclamou</CW>.

Procurado pela reportagem, o comandante da 22º companhia da cidade, major Sérgio Renato, informou que a falta de policiamento na região se deve ao déficit de cem policiais em Bom Jesus do Galho, que afeta o distrito. (KS)

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