Música

Tim Maia foi um dos adeptos 

Cantor integrou Cultura Racional por mais de um ano; disco duplo tem influências do movimento

Por Pedro Vaz Perez
Publicado em 01 de junho de 2014 | 03:00
 
 
Tim Maia foi um dos grandes propagadores da Cultura Racional ARQUIVO PESSOAL/REPRODUçãO

Tim Maia foi o maior propagador das palavras do Racional Superior, por meio, sobretudo, dos dois volumes do álbum “Racional”, do artista. Até os estudiosos da Cultura Racional têm isso muito claro. Marcado por uma vida de extremos, excessos gastronômicos e abuso de álcool e outras drogas, foi de maneira igualmente radical que Tim Maia, de uma hora para outra, mergulhou de cabeça nos ensinamentos do movimento.

“Tim Maia foi um grande divulgador da Cultura. Mesmo depois do rompimento que ele e Manoel Jacintho Coelho tiveram, o escritor falava que, mesmo sem querer, o artista ainda ia ajudar muito nossa cultura”, afirmou Paulo Cesar Gomes de Oliveira, maestro da Banda Racional, grupo belo-horizontino que executa músicas da fase racional do cantor.

Na biografia sobre o amigo – “Vale Tudo: o Som e a Fúria de Tim Maia” –, o jornalista e produtor musical Nelson Motta conta que o cantor conheceu a Cultura Racional no auge da carreira, após emplacar hits como “Réu Confesso” e “Gostava Tanto de Você”, quando estava gravando o primeiro álbum duplo.

No fim de julho de 1974, segundo o autor, Tim “tomou uma mescalina (alucinógeno)” e foi visitar Tibério, um amigo, no Recreio, na região Oeste do Rio de Janeiro. “Quando Tim chegou, a mescalina estava batendo, e o amigo, entrando no banho. Sozinho na sala, o cantor folheou um livro que estava sobre a mesa e achou tudo muito interessante”, relata Motta. Era um exemplar de “Universo em Desencanto”. Tim Maia quis saber mais sobre o assunto e foi a Belford Roxo, na Baixada Fluminense, conhecer o líder do grupo. Em pouco tempo, “Tim estava tomado pelo Racional Superior”.

Para Motta, ter um discípulo tão popular e “possuído por uma fé tão avassaladora” poderia ser de grande importância para Manoel Jacintho Coelho na divulgação da Cultura Racional e na venda de livros.

Em busca da racionalidade, o cantor passou a usar roupas brancas e adotou “regras rígidas de comportamento, disciplina e devoção”. A nova crença fez Tim Maia ficar “de cara limpa”, largar os vícios, perder peso e se desapegar dos bens materiais. “Os reflexos em sua voz foram imediatos, com fôlego, potência, clareza e riqueza de timbres que saltavam aos ouvidos. Estava cantando como nunca”, avalia Motta. As mudanças influenciaram nos rumos do novo disco, que, apesar de já ter tido as bases gravadas, recebeu novas letras, devocionais, com passagens do “Universo em Desencanto”.

“Não é raro entre artistas tão talentosos como Tim Maia que, em dado momento, se apeguem a alguma crença e, a partir dela, produzam uma obra sensacional”, avalia o DJ e pesquisador Yuri Leite. Ele cita o exemplo do álbum “A Tábua de Esmeralda”, de Jorge Ben Jor, que tem caráter místico.

‘desfiliação’. Mas, da mesma forma como começou, a fé avassaladora de Tim na Cultura Racional foi abandonada, segundo Nelson Motta, de uma hora para a outra. “Em 25 de setembro de 1975, Tim acordou com uma vontade louca de comer uma carne sangrenta, tomar um goró e fumar um baseado. Teve uma desiluminação e abandonou a seita no seu velho estilo, quebrando tudo.”

Ele teria compreendido que se esforçava demais, sem ver “a cor do dinheiro. Sua imunização não devia estar funcionando”, sugere o autor.