Tiradentes

Troca de calçamento em centro histórico terá que ser refeita

Além de as pedras terem sido substituídas e mal colocadas, há problemas elétricos e de drenagem

Sex, 07/04/17 - 03h00
Precaução. Pedras da rua da Câmara foram retiradas para evitar que participantes da procissão da Semana Santa escorreguem e caiam | Foto: Mariana Nogueira

Quem planejou passar a Semana Santa em Tiradentes, no Campo das Vertentes, pode ser surpreendido ao caminhar pelas tradicionais vias de pedra do município. A rua da Câmara, que recebe as procissões da festa religiosa, está quase toda em terra batida. Outras que também compõem o trajeto foram cobertas com pedras escorregadias. A situação é resultado de obras de calçamento e de revitalização de monumentos que se arrastam há quase dois anos no centro histórico e que agora precisarão ser refeitas também por problemas elétricos e de drenagem. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) constatou irregularidades nas obras, e a prefeitura já foi notificada diversas vezes desde junho de 2015, logo no início das intervenções.

O contrato foi assinado entre município, Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Estado em 2012. As obras começaram em junho de 2015, e o recurso previsto de R$ 4.926.986,36 foi repassado ao município um mês depois. A Suprema Engenharia venceu a licitação.

A previsão era que até dezembro passado, 17 ruas e monumentos históricos tivessem sido revitalizados. Entretanto, problemas na elaboração do projeto teriam atrasado a execução e a maior parte dos locais previstos não foi reformada. Além disso, pontos que receberam obras tiveram problemas na execução que teriam causado impacto também em outras ruas, que não estavam previstas no projeto, mas que depois tiveram que ser reformadas.

Previsões. Elaborado pela prefeitura durante a administração de Ralph Justino (PV), o projeto previa a alteração no nivelamento das pedras do calçamento do centro histórico, mas não contava com a drenagem pluvial subterrânea. Ao atender a exigência do Iphan de anexar a drenagem ao projeto, a prefeitura avaliou que a verba não seria suficiente. Dessa forma, pontos que antes deveriam receber intervenções não foram contemplados.

Segundo a atual administração e o Iphan, boa parte da obra foi feita com erros. Em ofício encaminhado pelo Iphan em Tiradentes à superintendência estadual, no mês passado, técnicos afirmaram que nas ruas da Câmara e da Santíssima Trindade, que receberam as obras, “pedras encontram-se totalmente descoladas e o estado crítico pode ocasionar acidentes”. Segundo a prefeitura, mais de 95% dos recursos destinados à obra já foram gastos, mas nem 50% foi concluído.

A superintendente estadual do Iphan, Célia Corsino, informou que o instituto fiscalizou as obras e identificou irregularidades no calçamento. A prefeitura foi avisada mais de uma vez, porém o Iphan não tem autoridade para cortar o pagamento, já que o contrato foi celebrado com a prefeitura. “Desde janeiro estamos avisando o prefeito que o trabalho não está bom. No dia 5, oficiei dando 30 dias (para a regularização da obra) e em março a gente constatou que continuava igual”, detalhou a superintendente. (Com Aline Diniz)

O que diz a empresa

Certo. Geraldo Castilho, sócio da Suprema Engenharia, afirmou que as obras seguiram pedidos do Iphan e da prefeitura.

Chuva. “A rua da Santíssima Trindade, acima da Matriz, não foi contemplada com drenagem pluvial, e o volume que desce de água dela é muito grande. Quando teve a chuva, essa água desceu com velocidade. Só por isso está sendo refeito".


Chafariz tem danos no reboco

Construído no fim do século XVIII, o chafariz de São José está entre os monumentos que passaram por revitalização. Poucos meses após o término da obra, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) constatou danos no reboco e falhas na execução da obra.

“Fizemos uma recomendação à prefeitura que solicitasse à empresa responsável pelas obras que fizesse ajustes. Restaurar não é pintar o chafariz”, argumentou a superintendente estadual do Iphan, Célia Corsino.

De acordo com a superintendente do instituto, a parte de trás do monumento, responsável por fazer o chafariz jorrar água, teria que ter sido recuperada, mesmo que futuramente o sistema fosse desligado.

Histórico. O chafariz tem fachada barroca e abriga uma imagem rara de são José, além de um brasão de armas do reino de Portugal. Antigamente, ele servia de bebedouro e apoio para lavadeiras. (AD)

Pedras sumiram

Originais. Um dos objetivos da reforma, segundo o projeto, era o realinhamento das pedras, das décadas de 50 e 60, no centro histórico. Embora tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), algumas pedras foram trocadas durante as intervenções por novas para que o encaixe pudesse ser feito.

Sumido. De acordo com o ex-prefeito, Ralph Justino, as pedras estariam na sede da prefeitura. Porém, segundo a nova administração, nenhuma delas se encontra no local.


Moradores insatisfeitos

Moradora da rua da Câmara, a estudante Ana Clara Ferreira, 21, reclama de rachaduras nas paredes de casa após as obras. “Sempre tropeçamos. Meu medo é cair, porque está realmente impossível de caminhar. Quando reformaram o calçamento, no ano passado, ficou uma beleza. Estava tudo alinhado, certinho. Mas, com o tempo, começou a desandar. As pedras começaram soltar”, disse.

A empresária Juliana Ferreira, 38, se queixa do impacto da obra nos casarões. “Usaram máquinas grandes e tem rachaduras nos casarões".

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.