10º período de medicina

Universitários são presos ao falsificarem receita de 'heroína caipira'

Os suspeitos, de 27 e 28 anos, foram presos em uma farmácia do bairro Buritis no momento em que compravam duas cartelas do analgésico, que é duas vezes mais forte que a morfina; eles foram soltos após pagarem fiança

Seg, 17/04/17 - 12h17

Dois estudantes de medicina foram presos em flagrante pela Polícia Civil (PC) por falsificarem receitas médicas e comprarem diversas caixas do medicamento conhecido como "heroína caipira", um opiáceo que tem venda controlada e pode levar à dependência. Os suspeitos, de 27 e 28 anos, passaram por uma audiência de custódia e acabaram soltos, usando tornozeleira eletrônica, após pagarem fiança de R$ 4.685 cada. 

Apesar da dupla estar em liberdade, o caso foi apresentado pela corporação à imprensa nesta segunda-feira (17). Segundo a delegada Cristiana Angelini, responsável pela investigação, a dupla está no décimo período de medicina na Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), localizada em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

"Eles falsificaram o carimbo de professores e, desde então, pegavam várias receitas, colocavam o nome deles como pacientes, e compravam o medicamento chamado Oxycontin, ou oxicodona, que também é conhecido como 'heroína caipira'", explica a policial. O remédio, que é duas vezes mais potente que a morfina, é recomendado geralmente para pacientes com câncer, mas causa euforia quando usado por alguém saudável. 

Os universitários usavam as receitas falsificadas para adquirir o medicamento sempre em farmácias de uma grande rede, que, entre janeiro e março deste ano, vendeu um total de 19 caixas de oxicodona, sendo 12 delas no nome dos dois suspeitos, o que levantou a suspeita do farmacêutico da rede. "Cada caixa com 12 comprimidos é vendida por cerca de R$ 75, sendo que somente nos três primeiros meses deste ano eles adquiriram um total de 144 comprimidos. Há relatos de que eles já chegavam para comprar o remédio bastante agitados, provavelmente sob o efeito", detalha a delegada. 

Cristiana Angelini explicou que, apesar de não ser muito popular entre os brasileiros, a dependência neste e outros medicamentos semelhantes (opiáceos semissintéticos) é bastante popular nos Estados Unidos e na Europa. "A autópsia do cantor Michael Jackson apontou uma overdose de oxicodona. É semelhante ao Vicodin (hidrocodona), que é usado pelo médico House, da série americana", explica a policial. 

O medicamento ficou conhecido por causar dependência em diversas celebridades de Hollywood. O ator Heath Ledger, encontrado morto em 2008, ingeriu vários medicamentos, entre eles hidrocodona e oxicodona. Já o ator Matthew Perry, o Chandler da série Friends, já passou por reabilitação algumas vezes pelo vício no Vicodin. 

A prisão 

Os suspeitos foram detidos no último dia 7 de abril no momento em que faziam a compra em uma farmácia do bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte. As câmeras de segurança mostram um deles chegando, carimbando a receita dentro do carro e, loco em seguida, saindo com duas caixas de oxicodona. Quando saíam eles foram abordados e acabaram presos. Com eles foram apreendidos 100 receitas em branco e o carimbo falsificado.

Assista ao vídeo do momento em que um dos suspeitos falsifica a receita em frente à farmácia: 

Ambos chegaram a fazer estágios em alguns hospitais de Belo Horizonte, sendo que algumas receitas destas unidades de saúde também chegaram a ser apreendidas pela corporação. "Após a prisão, eles afirmaram que faziam isso apenas para uso próprio. As investigações continuam, mas até agora não tem nenhum indício de que estivessem vendendo", garantiu a delegada Cristiana Angelini. 

O professor que teve o carimbo copiado pelos estudantes teve a participação nos crimes descartada pela corporação. Os universitários responderão por uso de documento público falso e tráfico de drogas.

Em nota, a Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh) informou que vem colaborando com a Polícia Civil nas investigações sobre a falsificação de receitas médicas por parte dos dois alunos da instituição. "A Faseh já tomou as providências regimentais e legais cabíveis. Trata-se de fato isolado, que não se relaciona com o ensino ministrado nos locais de internato", diz o comunicado.

Atualizada às 13h37.

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