A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte, na região de mesmo nome em Belo Horizonte, foi palco de uma briga que virou caso de polícia no último sábado (25). 

Pacientes insatisfeitos com a demora no atendimento acionaram a Guardas Municipal, mas, quando as forças de segurança chegaram ao local, usuários do sistema entraram em confronto com os agentes.

A confusão foi filmada pelos próprios pacientes que estavam no local no momento do desentendimento. Em um dos vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver, ao menos, dois homens imobilizados. Em outro, uma mulher, aparece algemada e diz ter sido agredida pelos guardas.

A Guarda Civil de Belo Horizonte alegou que a confusão foi provocada por um paciente insatisfeito com a prioridade de atendimento na unidade de saúde. Quatro pessoas foram detidas - duas mulheres e um homem. O órgão não se pronunciou sobre a acusação de agressão.

Conforme a Guarda Municipal, um paciente, de 32 anos, ficou exaltado ao tomar conhecimento de que seu atendimento poderia demorar devido à avaliação de seu estado de saúde, classificado como não grave, segundo o protocolo usado nas UPAs.

O homem não teria concordado com a classificação de prioridade, iniciou uma série de ameaças contra funcionários e agrediu um dos agentes da guarda municipal com um soco no rosto, na versão do órgão. Neste momento ele foi detido e, durante a abordagem, outras três pessoas que tentaram impedir a ação da Guarda Civil também foram presas.  

A Guarda Civil informa que a Unidade de Saúde possui sistema de videomonitoramento e as imagens serão analisadas pelo órgão correcional da instituição," finalizou a nota. 

Prefeitura afirma que UPAs sofrem aumento de procura

A prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), informa que as UPAs têm apresentado aumento em busca por atendimento, especialmente em relação a pacientes com sintomas respiratórios e casos crônicos.

No último sábado (25), pontua o Executivo, a equipe médica da UPA Norte era composta por cinco médicos clínicos e dois pediatras no plantão noturno. Durante todo o dia, foram atendidos 319 pacientes na unidade, dos quais 208 haviam sido classificados como não urgentes.

Sobre a reclamação de usuários de que pacientes com sintomas gripais dividem o mesmo ambiente com demais usuários, a PBH argumentou que todas as UPAs possuem área separada para atendimento.

Pacientes com sintomas de gripe realizam testes rápidos na própria unidade para detectar Covid-19, finaliza a prefeitura da capital.

Problema recorrente

Dois dias após a confusão, a UPA amanheceu lotada nesta segunda-feira (27). A reportagem de O TEMPO esteve no local e flagrou inúmeras pessoas que ainda reclamavam da superlotação e demora no atendimento médico.

Conforme muitos dos presentes, não havia separação entre pessoas com sintomas respiratórios e as demais, o que é recomendado devido à pandemia de Covid-19 e os recentes surtos de gripe que avançam pelo Brasil.

A cabeleireira Vera Rodrigues, de 40 anos, estava no centro de saúde com a sogra, de 75 anos, que reclamava de fortes sintomas gripais. "Estou na unidade há mais de duas horas com a minha sogra que está com uma gripe muito forte. Não sabemos se é Covid. Ela foi vacinada, mas, mesmo assim ficamos com medo. Não sabemos ao certo o que ela tem. É um absurdo. Lá dentro, as pessoas gripadas não estão separadas das outras. Estou com medo”, detalhou.

A pensionista Rosângela de Assis, de 55 anos, também está com uma gripe forte. Ela foi à UPA Norte, por preocupação. "Vim aqui porque é o jeito. Sei que o atendimento aqui demora, mas estou preocupada. Estou com uma gripe forte há quase uma semana e minha dor de cabeça e dor pelo corpo só piora. Meu genro está chegando, ele também está com os mesmos sintomas que os meus," contou a pensionista. 

Tentativas frustradas

A desempregada Bruna Paula, de 23 anos, está desde a última sexta-feira (24), tentando uma consulta médica, mas não consegue. A mulher já percorreu diversas unidades de saúde nas proximidades, mas voltou para casa sentindo dor em todas as ocasiões.

"Estou com uma dor muito forte na minha lombar, vim à UPA Norte na sexta... estava tão cheia que fui embora e procurei a unidade São Paulo, também lotada. A dor aumentou e voltei para cá. De novo, está cheia e vou embora, mais uma vez, sem atendimento. Moro no bairro Ribeiro de Abreu, e ainda gasto com passagem R$ 3,15 para ir e voltar", lamentou.

O desempregado Vinícius Mendes, de 18 anos, também está desde a última sexta-feira, esperando atendimento médico. O rapaz sofre com uma infecção na orelha que já passou para o ouvido. "Coloquei um piercing na orelha e infeccionou. Procurei a UPA na sexta e não consegui ser atendido. A dor aumentou um pouco e, a inflamação, agora está no meu ouvido”, disse. 

Sindicato responsabiliza prefeitura por 'caos'

Em resposta aos conflitos e reclamações que ocorrem nas UPAs de Belo Horizonte, o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) emitiu uma nota atribuindo o “caos” nas unidades à gestão de Alexandre Kalil (PSD).

“Em entrevista coletiva, o secretário municipal de saúde, Jackson Machado atribuiu o caos das UPAs à falta de profissionais. Segundo ele, a capital tem 636 vagas ociosas. Desse total, 158 seguiriam para a rede de urgência. E ele disse que ‘não há profissionais cadastrados no banco de dados da prefeitura, para que possam assumir esses postos de trabalho’”, alega a entidade.

Em seguida, o texto enumera quatro motivos que considera como causadores dos problemas. São eles:

- Falta de médicos nas unidades de urgência: isso tem sido denunciada ao Sinmed-MG que recebe constantes queixas, principalmente em relação a falta de pediatras como já aconteceu recentemente nas UPAs Pampulha, Barreiro, Norte e Venda Nova, e que gerou sobrecarga de demanda às demais unidades e revolta por parte da população; 

- A Prefeitura não autoriza aumento do número de plantonistas: esse é um fato que não se pode negar e tem acontecido há duas décadas. O Sinmed-MG destaca que equipe incompleta é a pior condição de trabalho na saúde e gera graves consequências: os médicos ficam sobrecarregados, o atendimento demora, a população fica revoltada e o caos se instala. 

- É preciso fazer um diagnóstico real da saúde: se não tem médicos cadastrados no banco de currículos, certamente existem motivos reais como salários menores em relação aos outros municípios, vínculos precários que acabam afastando os profissionais da saúde e a 

constante violência, atrasos e faltas constantes de pagamento de plantões extras e erros de adicionais. 

- Falta segurança nas unidades de saúde: uma queixa antiga que continua persistindo e colocando em risco os profissionais que, ameaçados por agressores, acabam não querendo trabalhar nesses locais. 

“O Sinmed-MG destaca que está agendada uma reunião essa semana com a gerência de urgência e espera que não seja adiada mais uma vez como aconteceu anteriormente em outras situações. Não se pode fechar os olhos para a situação”, completa o sindicato.
 

Confira a nota da prefeitura de Belo Horizonte na íntegra

As Unidades de Pronto Atendimento contam com área específica para pacientes com sintomas respiratórios. Assim que o paciente chega na unidade, ele passa por uma classificação e, caso apresente sintoma respiratório, é encaminhado para área separada. A SMSA irá reforçar junto às equipes as orientações que devem ser repassadas aos usuários.

É importante esclarecer ainda que os usuários com sintomas gripais, atendidos nos Centros de Saúde e nas UPAs, fazem teste rápido de antígeno para Covid-19 na própria unidade, o que auxilia no diagnóstico diferencial

É importante reforçar que todos os pacientes que procuram as UPAs são atendidos. A Secretaria Municipal de Saúde tem empreendido todos os esforços para garantir o atendimento mais ágil aos pacientes.



*Reportagem atualizada às 13h19