UFMG

Uso de drogas ilícitas é rotina para 142 mil belo-horizontinos

Pesquisa inédita da UFMG, antecipada com exclusividade pelo jornal O TEMPO, mostra que maconha é o entorpecente mais consumido por esses 6% da população; veja todos os dados

Ter, 21/06/16 - 03h00

Pela primeira vez, Belo Horizonte vai ter mapeado o perfil de seus usuários de drogas. Dados de pesquisa da UFMG antecipados a O TEMPO com exclusividade mostram que 356.272 pessoas (15% da população) já experimentaram drogas ilícitas. Quase metade deste total, 142.509 (6%), faz uso constante. Os números são do estudo Conhecer e Cuidar 2015, realizado, a pedido da prefeitura, pelo Centro Regional de Referência em Drogas da universidade. O levantamento será divulgado em agosto.

A maconha é o entorpecente mais consumido: são 99.588 usuários (4,2% da população). Segundo o coordenador do centro de referência, o psiquiatra Frederico Garcia, a região Centro-Sul da capital é onde mais se consome a droga. Venda Nova é que apresenta menor índice – ele não repassou percentuais. No primeiro caso, a disponibilidade de dinheiro e a oferta do entorpecente são os facilitadores do consumo. No segundo, a religião contribui para afastar os moradores da maconha.

“Na região Centro-Sul, há mais acesso à internet e se fala mais em liberar a maconha. Há uma aceitação maior da droga. Em Venda Nova, por sua vez, a população é mais religiosa”, justifica. O médico afirma ainda que a faixa etária entre 18 e 34 anos é a que mais usa a droga.

Permitido. No caso das drogas lícitas, o álcool aparece em primeiro lugar, com 51% dos belo-horizontinos (1.211.327 pessoas) fazendo uso regular. Desses, 4% (95.006 moradores) são dependentes.

As regionais Centro-Sul e Leste, com grande concentração de bares, têm os maiores índices de dependência. No primeiro caso, 5,1% dos moradores são viciados. No segundo, o índice é 5,7%. Na outra ponta, a região Norte tem o menor índice, com 2,3% da população dependente.

Em muitos casos, segundo Frederico Garcia, os usuários de maconha começam com álcool – no caso das outras drogas ilícitas, o médico afirma não haver uma relação clara. Mas foi assim com o desempregado Luiz Henrique Santos, 30. Ele começou com a bebida, aos 12 anos, e depois experimentou a maconha, até passar para a cocaína e o crack.

“Comecei a roubar, a vender coisas da minha mãe para comprar drogas, a brigar em casa e cheguei a pesar 50 kg. É uma vida que não desejo a ninguém”, contou. Santos se livrou das drogas após passar nove meses em uma casa de recuperação. “Perdi muito tempo com a droga, e agora estou reconquistando tudo aos poucos”. (Com Rafaela Mansur)

 

Menos motoristas admitem beber

O número de motoristas de Belo Horizonte que dirigem após ingerir bebida alcoólica caiu 10% desde a entrada em vigor da Lei Seca no país, em 2012. O dado é de pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde. Apesar do dado positivo, o recuo em Belo Horizonte ficou abaixo da média nacional, de 21%. Algumas capitais, como Maceió e João Pessoa, conseguiram uma queda de mais de 50%.

O levantamento foi feito por telefone, com mais de 54 mil pessoas, em todas as capitais do país.

Em 2012, a pesquisa apontava que 6,9% dos motoristas de Belo Horizonte admitiam beber e dirigir. Já no ano passado, esse percentual caiu para 6,2%. Quando se faz a análise por gênero, os homens são os que mais assumem a infração. Entre a população masculina, 11% afirma dirigir após consumir bebida alcoólica. Já entre as mulheres, 2% admitem esse comportamento.

A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que tem trabalhado para ampliar as blitze da Lei Seca, com operações sendo realizadas em 44 novos municípios do Estado – cem bafômetros foram distribuídos recentemente.

Neste ano, até 12 de junho, foram realizadas 36.037 abordagens das blitze da campanha, com 207 infrações de trânsito, quando o condutor está com nível de embriaguez até 0,33 mg de álcool por litro de ar expelido, e 68 de crimes de trânsito, quando o resultado do bafômetro ultrapassa esse limite. (BM)

Consumo é 3 vezes maior que no país

Apesar de aparecerem em quinto lugar entre as mais consumidas em Belo Horizonte, os alucinógenos e drogas sintéticas são os que mais preocupam o psiquiatra Frederico Garcia. Segundo a pesquisa, 66.504 pessoas (2,8% da população) fazem uso desse entorpecente, que inclui, por exemplo, LSD, cogumelos e ecstasy. O problema é que a cada dia surgem novas drogas, para fugir da fiscalização, produzidas em fabriquetas, sem a menor preocupação com o material usado. Ainda conforme o médico, os efeitos levam cerca de cinco anos para serem conhecidos.

“Há modificação de moléculas, e a ação dessas drogas são imprevisíveis. E em Belo Horizonte o consumo é alto, três vezes mais do que no país”, explica. (AD)

Menos de 1/3 dos dependentes homens recebem tratamento

Tratamento. O índice de mulheres dependentes de drogas ilícitas que recebem ou já receberam tratamento é quase três vezes maior que o de homens. São 75% no caso delas, e 26% entre eles. Fatores como abandono familiar, dificuldade em pedir ajuda e aceitação tardia do vício dificultam o acesso dos homens ao tratamento, segundo o médico Frederico Garcia.

Prevenção. Começou ontem na capital a Semana de Prevenção ao Uso/Abuso de Álcool. A abertura oficial da iniciativa foi na praça Sete, no centro, onde foi acessa uma tocha olímpica simbólica. No domingo, será realizado o Revezamento da Prevenção às Drogas, entre as praças da Liberdade e praça Raul Soares. O evento terá apadrinhamento de atletas olímpicos e paraolímpicos.

Atendimento

Tabagismo. A prefeitura informou que mantém uma rede de atendimento aos usuários de drogas – o encaminhamento pode ser feito pelos postos de saúde. Entre os serviços voltados para os fumantes, está o Programa de Controle do Tabagismo. Ele prevê orientação, avaliação clínica e acompanhamento. O tratamento dura, no mínimo, seis meses.

Resposta. Questionada sobre a rede de atendimento a usuários de álcool e outras drogas, a Secretaria de Estado de Saúde não deu retorno até a noite de ontem.

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