Bairro União

Vendedor de balas é arrastado por ônibus na Cristiano Machado e morre

Segundo o motorista do coletivo, ele não prestou socorro e foi para a garagem por o veículo ter sido apedrejado com passageiros dentro

Sex, 20/03/15 - 12h19

Um vendedor de balas de 18 anos foi atropelado por um ônibus e morreu, no fim da manhã desta sexta-feira (20), na avenida Cristiano Machado, na altura do bairro União, na região Nordeste de Belo Horizonte. Maycon Jardim Valadares teria sido arrastado por pelo menos 30 metros antes do coletivo passar por cima do seu corpo da cintura para cima. 

A vítima foi atingida pelo ônibus da linha 8151 (Estação São Gabriel/BH Shopping - via Anel Rodoviário) na altura do número 4.000 da avenida, próximo ao Minas Shopping. De acordo com o também vendedor de balas Leandro Marciano Simeão, de 29 anos, o condutor tentou passar por cima da vítima, dele e de outro ambulante. 

FOTO: JOÃO PAULO COSTA/ WEB REPÓRTER
Leandro Marciano, colega da vítima, conta que também quase foi atropelado

"Éramos uns 10 ou 12 esperando o ônibus para ir almoçar. De repente um dos menino contou que o trocador deu uma gravata nele e o motorista bateu com uma barra de ferro. Quando o ônibus voltou a gente atravessou a avenida para tirar satisfação, saber o porquê de terem feito isso", alegou. Segundo a testemunha, o motorista se recusou a abrir a porta, quando Maicon (primeiro nome da vítima), Marciano e outro vendedor entraram na frente do coletivo.

"A gente estava exatamente na frente do ônibus quando ele arrancou, eu e o outro conseguimos pular e sair da frente, mas o Maicon ele atropelou e arrastou por uns 40 metros antes de passar por cima. Foi aí que o povo ficou revoltado e começou a tacar pedras", lembrou o colega da vítima. Segundo ele, ainda que eles fossem apedrejar o coletivo, ninguém pode tirar a vida de outra pessoa assim. 

O motorista fugiu do local, ainda de acordo com a PM. Procurado pela reportagem, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra-BH) deu uma versão diferente para a confusão. O coletivo teria passado mais cedo pela avenida e um vendedor de balas teria entrado. Após o motorista alertá-lo de que não poderia ficar, o rapaz teria pegado a chave do veículo e corrido.

Neste momento motorista e trocador o perseguiram e pegaram de volta a chave do ônibus, dando continuidade à viagem. Após uma nova viagem e o mesmo veículo foi abordado no ponto, sendo que o vendedor estaria acompanhado de cerca de 15 pessoas que passaram a atirar pedras no veículo.

FOTO: SETRA-BH/Divulgação
O coletivo ficou com cinco janelas quebradas após a confusão

Assustado, o motorista de 35 anos teria arrancado, deixado os passageiros no próximo ponto e seguido para a garagem. Somente lá ele soube que havia atropelado uma pessoa. Ainda de acordo com o sindicato que representa a empresa, cinco janelas do veículo foram quebradas.

O veículo foi levado para a 22ª Companhia do 16º Batalhão da PM onde foi vistoriado e, logo em seguida, retornou para a garagem da empresa. Motorista e trocador foram levados para a delegacia do Departamento de Trânsito (Detran-MG) onde prestaram depoimento. Ainda de acordo com o Setra, após o episódio o motorista ficou em estado de choque e o sindicato dá todo o amparo para ele e sua família. 

Segundo Rosângela Tulher, delegada de plantão da coordenação de operações policiais do Detran, o motorista foi preso em flagrante e encaminhado ao Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) da Gameleira. "A princípio ele responderá pelo artigo 121 combinado com o artigo 18 do Código Penal, que é o homicídio com dolo eventual, cuja pena vai de 6 a 20 anos de reclusão", explicou a policial. 

A empresa do ônibus, Viação Floramar, não se posicionou sobre o caso.

Vítima era pai de menino de 8 dias

O vendedor de balas morto havia acabado de completar 18 anos e virou pai há 8 dias, conforme as informações do cunhado dele, o gari Renato Sá de Souza, de 31 anos. "Sou irmão da mulher dele. Cheguei em casa e, assim que ela me contou desesperada que ele havia sido atropelado, vim para cá. Foi terrível ver a situação, ele estava esmagado da cintura para cima. Sem falar na marca de sangue em um pedaço de uns 40 metros, onde ele foi arrastado", relatou o familiar. 

O jovem, que morava no bairro Paulo VI, na mesma região do acidente, trabalhava de dia como vendedor ambulante e na parte da noite como servente de pedreiro. "A vida dele agora era trabalhar para sustentar o filho, ele estava feliz demais em ser pai. Aí vem um motorista desses, que para mim é um bandido, e tira a vida de um jovem", lamentou Souza. 

Atualizada às 18h08

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