Câmara Municipal de Belo Horizonte

Vereador sugere CPI para investigar implantação do Move em BH

Insatisfação veio com respostas dadas pela Prefeitura aos questionamentos dos parlamentares em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, nessa quarta (25)

Qui, 26/03/15 - 17h35

O vereador Pedro Patrus (PT) sugeriu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para tirar as dúvidas que persistem sobre a implantação do Sistema Move em Belo Horizonte. Superfaturamento, ineficiência do Sistema e lucro exagerado das empresas estiveram em pauta.

A insatisfação surgiu com as respostas dadas pela Prefeitura de Belo Horizonte aos questionamentos apresentados nesta quarta-feira (25), em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário. O vereador vai encaminhar pedidos de informação e acesso a documentos.

Na audiência foram exibidas diversas matérias veiculadas na imprensa relatando acidentes, atropelamentos e mortes envolvendo os veículos do Move, transtornos dos usuários com longas filas, dificuldades no embarque/desembarque, superlotação de linhas, problemas estruturais e de segurança nas estações. No entanto, Patrus afirmou que o objetivo não é apenas criticar, e sim dar voz ao usuário, conhecer as ações do poder público sobre as queixas apresentadas e contribuir para o aprimoramento do sistema.

Ele mencionou ainda a necessidade de esclarecimento e prestação de contas à população sobre as denúncias “gravíssimas” de superfaturamento em contratos de execução das obras, apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Os vereadores pediram informações sobre a auditoria interna que estaria sendo realizada pela Prefeitura, de acordo com o vereador Preto (DEM), para apurar as supostas irregularidades, e solicitaram acesso aos documentos.

Silvinho Rezende (PT) e Veré da Farmácia (PTdoB) mencionaram as visitas técnicas feitas a quatro estações do Move, das quais participaram, e a entrega do relatório contendo as deficiências e demandas verificadas ao diretor-presidente da BHTrans. Os vereadores da oposição criticaram a atividade e seus desdobramentos, questionando a efetividade de visitas pré-agendadas e aausência de participação popular.

Ajustes operacionais

Concordando com a ponderação de Adriano Ventura, o diretor de Transportes da BHTrans Daniel Marx Couto considerou que o BRT ainda é novo na cidade e, como em qualquer sistema, é natural que surjam falhas e deficiências. Segundo o gestor, que ressaltou a distinção entre o sistema municipal e o metropolitano, de responsabilidade do governo estadual, a operação é monitorada rigorosamente pela empresa e os ajustes vêm sendo feitos progressivamente, a partir de estudos e pesquisas. Sobre as portas automáticas estragadas nas estações, alvo de muitas reclamações, o gestor informou que os sensores localizados nos equipamentos e dentro dos veículos já estão sendo trocados e que o custo dos reparos ficará a cargo da empresa responsável pela instalação.

De acordo com a BHTrans, a disponibilização de veículos, horários e a sincronização entre as linhas alimentadoras e troncais também vem sendo ajustada, verificando-se a demanda  e a adequação dos serviços a cada dez dias. Quanto à segurança, uma das maiores preocupações dos usuários, que apontam a ocorrência de vandalismo e de assaltos nas estações, ele informou a suspensão de umprocesso de contratação de vigilância privada pela Prefeitura, que atualmente avalia a possibilidade de contar com agentes da Guarda Municipal ou da Polícia Militar nesses locais.

Afirmando a significativa redução do número de acidentes após a implantação do modal e destacando a imprudência das vítimas, ele admitiu a gravidade dos acidentes envolvendo o Move e a necessidade de preveni-los. Para isso, ele citou a instalação de dispositivos de segurança como passarelas e gradis e a educação de pedestres e motoristas, sobre os quais também devem ser consideradas as condições de trabalhos e a aptidão física e psicológica, conforme apontado pelo ex-presidente do sindicato dos rodoviários, Hamilton Dias.

Denúncias de superfaturamento

Representando a Prefeitura, os engenheiros da Sudecap Roberto Lage e Heloísa Leão afirmaram a execução das obras conforme o projeto, dentro dos valores acertados na licitação e negaram a concessão de aditivos. Segundo eles, as diferenças de preços apontadas por Gilson Reis em notas fiscais da compra das portas automáticas se devem a reajustamentos anuais, previstos em qualquer contrato. Porém, para Reis, muitas outras questões relacionadas às obras ainda precisam ser desvendadas, sendo inclusive questionadas pelo Ministério Público. A Sudecap informou ainda que as coberturas dos equipamentos que apresentam infiltrações e goteiras estão sendo revisadas e reparadas pela empresa responsável.

Em relação à auditoria interna informada pelo líder de governo, os representantes da Prefeitura não souberam especificar e informaram que a Auditoria Geral do Município avalia rotineiramente todos os contratos. Além disso, os contratos referentes à implantação e manutenção das estações estão sendo auditados pelo Ministério Público, em parceria com o CREA-MG.

Movimentos sociais

Na reunião, integrantes dos movimentos Tarifa Zero e das Associações de Moradores de BH negaram a redução no tempo das viagens, queixaram-se de atrasos, periodicidade inadequada e falta de informações nas linhas alimentadoras, cuja inadequação estaria gerando longos períodos de espera nos bairros e nas estações de integração, especialmente em horários noturnos, prejudicando estudantes e trabalhadores. Eles criticaram a priorização dos lucros das empresas em detrimento da qualidade do serviço e da manutenção do emprego dos cobradores, o aumento das tarifas, a falta de diálogo e de transparência na prestação de contas à população sobre as receitas e custos do sistema.

Usuários presentes também apontaram o número reduzido de assentos e defeitos no ar condicionado dos veículos, dificuldades na travessia de vias e deslocamento dos passageiros para acesso às estações e plataformas, gerando risco de acidentes, falta de informação e de segurança, e pediram para ser consultados nas decisões referentes a linhas e trajetos. André Veloso, do Tarifa Zero, contestou o uso de seguranças armados nas estações, sugerindo ações educativas, mais diálogo e respeito ao usuário, mostrando que o sistema é feito para servir a ele e não aos lucros dos empresários.

CPI

Ao final, Pedro Patrus declarou-se insatisfeito com as respostas e a persistência de dúvidas, afirmando que irá encaminhar, através da comissão, pedidos de acesso aos laudos do Tribunal de Contas sobre os contratos questionados e aos relatórios produzidos por eventuais auditorias internas, e sugeriu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

Acolhendo sugestão do Tarifa Zero, que defende o empoderamento do cidadão, serão solicitados àBHTrans a criação de canais mais ágeis e efetivos para encaminhamento de denúncias, além da publicação e divulgação, nos coletivos, dos números referentes a essas denúncias.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.

CMBH