Em Uberaba

'Você salvou uma mulher hoje', diz motorista após estuprar rapaz

O estudante de biologia de 23 anos, que foi abordado enquanto fazia uma caminhada, fez uma publicação nas redes sociais detalhando tudo o que viveu sob a mira da arma do autor

Ter, 22/08/17 - 12h13
Relato do jovem já foi compartilhado mais de 400 vezes nas redes sociais | Foto: REPRODUÇÃO / FACEBOOK

Após ser forçado a entrar em um carro sob a mira de um revólver, um estudante de biologia de 23 anos acabou levado para um matagal onde foi estuprado em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Antes de ser libertado, descalço e com as mãos e pés amarrados, o rapaz ainda ouviu a seguinte frase do suspeito: "Parabéns, você salvou uma mulher hoje". O caso foi registrado na manhã do último domingo (20) e é investigado pela Polícia Civil (PC). 

Em um relato emocionado, o universitário contou todos os detalhes da ação violenta nas redes sociais. "Durante minha caminhada matinal, eu, homem cis, 23 anos, fui vítima de um estupro. Não foi sequestro, não foi assalto e mesmo que pareça, não foi homofobia. Foi estupro. Em resumo, um sujeito para de carro do meu lado, aponta uma arma na minha cara e me faz escolher entre entrar no veículo ou levar um tiro. E não, não tinha ninguém na rua, e também não, não tinha como correr. Ele roda um tempo, entra na mata, e o ato com paus, pedras e arame farpado começa. Caso eu quisesse gritar, a arma na minha boca não deixaria", detalha a vítima.

Ainda de acordo com o rapaz, o estuprador disse que ele só sairia vivo por ser homem. "Segundo o cidadão, ele queria uma menina que provavelmente ia matar depois, já que encontrou só um garoto, esse ia salvar a vida dela".

Conforme o registro da Polícia Militar (PM), a corporação foi acionada por volta de meio-dia e encontrou o estudante com mãos e pés amarrados na estrada da pedreira, no bairro Jardim Eldorado. Bastante abalado e sem camisa, ele fez o relato de como foi abordado pelo homem armado, que estava em uma caminhonete de cor preta. Foram constatados diversos arranhados pelo corpo da vítima, assim como pedaços de galho seco que foram enfiados no lóbulo da orelha esquerda dele. A vítima foi socorrida pelos policiais ao Hospital São José, onde foi medicado e o estupro constatado. 

"Em uma sociedade tão cretina como a nossa, é importante reafirmar que estupro existe e não é mi mi mi. Existe, e homens – gays, héteros, bi – não são imunes. Acreditem, eu escrevo esse texto com muita dor, relutância, vergonha e absolutamente nenhum orgulho. Debati comigo mesmo várias vezes se isso realmente ia servir de alguma coisa e pode ser que eu me arrependa (...) Um evento desse porte faz a vida de qualquer um perder o sentido. Faz a gente se perguntar o porquê disso tudo", continua. 

Por fim, a vítima afirma que já iniciou todos os procedimentos médicos e jurídicos necessários e agradece o apoio que recebe da família e amigos. "Se você chegou até aqui e ainda não está acreditando, eu te reafirmo: isso é sério e a minha ficha também não caiu. No mais, a minha vida não vai parar por isso. O baile seguirá", finaliza. 

A Polícia Civil (PC) informou que, em caso de crime de estupro de vítimas do sexo masculino, é necessário que haja representação, ou seja, que a própria vítima procure uma unidade da PC para expressar o desejo que o crime seja investigado. E, até o momento, a vítima não compareceu em nenhuma delegacia.

A delegada Carla Bueno, da Delegacia de Crimes Contra a Família, de Uberaba, está em contato com a vítima para informar sobre os procedimentos legais para a representação e do prazo legal para fazê-la, que é de seis meses.

Universitário andou por 1h30 sem conseguir ajuda

No relato nas redes sociais, o jovem disse ainda que, após ser amordaçado e amarrado, teve que correr descalço no asfalto quente por quase uma hora e meia. "Encontrei mais de 20 pessoas, e todas me negaram ajuda. Acharam que eu era drogado, assaltante. Eu entendo, mas não custava chamar a polícia, que era a única coisa que eu conseguia gritar", lembra. 

O universitário reclama ainda da preparação dos policiais e da equipe médica que o atenderam. "'Mas você não conhecia o agressor?', 'Por que você não correu?', 'Ele não titubeou nenhum momento pra você se aproveitar?' e 'O indivíduo alega' foram as melhores pérolas que ouvi. Como sempre a culpa é da vítima", completa.

A PM da cidade foi procurada, mas não se posicionou sobre a reclamação da vítima. 

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