Levantamento

BH é a quinta cidade no Brasil com mais denúncias de falta de EPIs em hospitais

Reclamações são feitas pelos profissionais de saúde, que estão na linha de frente do combate à Covid-19

Por Gabriel Moraes
Publicado em 12 de maio de 2020 | 17:35
 
 
Vítima foi encaminhada para o HPS João XXIII Alex de Jesus / O Tempo

A Associação Médica Brasileira (AMB) criou uma plataforma online onde profissionais de saúde de todo o país podem denunciar a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos hospitais. Minas Gerais é o terceiro Estado com mais denúncias até o momento e Belo Horizonte é a quinta cidade nesse ranking.

Desde o dia 19 de março, a capital mineira teve 76 denúncias desse tipo. Entre as unidades que mais tiveram reclamações está o Hospital Municipal Odilon Behrens, onde funcionários denunciaram a falta de máscaras especiais que evitam o contágio pelo coronavírus, de óculos, luvas, gorros, capotes impermeáveis e álcool em gel 70%.

Outros hospitais que também se destacam nesse ranking são os gerenciados pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), como o Raul Soares, João XXIII, Alberto Cavalcanti, Júlia Kubitschek e o Eduardo de Menezes, esse último referência no tratamento a paciente com Covid-19. Neles, há denúncias por parte dos profissionais pela falta de óculos de proteção, máscaras, gorros e capotes.

No Eduardo de Menezes, inclusive, está marcado um protesto para esta quarta-feira (13) para reinvindicar melhores condições de trabalho, falta de EPIs e transparência do Estado quanto aos dados sobre o coronavírus.

Entre os hospitais particulares, um que recebeu denúncias pela falta de todos os EPIs citados acima é o Complexo Hospitalar São Francisco, com unidades no bairro Concórdia e Santa Lúcia.

As outras cidades brasileiras com mais denúncias são: São Paulo (384), Rio de Janeiro (189), Porto Alegre (134) e Brasília (83). Até o dia 8 de maio, foram feitas 3.476 reclamações, e o equipamento que mais falta é a máscara tipo N95 ou PFF2, presente em 86% das denúncias.

MG

De acordo com o levantamento feito pela ABM, com 352 denúncias até o dia 8 de maio, Minas Gerais só perde para o Rio de Janeiro (379) e São Paulo (1.248) em número de reclamações feitas pelos profissionais da saúde. Dos 853 munícipios mineiros, 102 tiveram denúncias.

Objetivo

A finalidade dessa plataforma, segundo a AMB, é buscar junto aos hospitais esclarecimentos sobre a falta desses equipamentos, porque eles são muito importantes para os profissionais que atuam na linha de frente de combate ao novo coronavírus. "Para evitar represálias, a AMB garante o anonimato dos denunciantes. Para deixar o processo transparente, a AMB criou esta página para apresentação da pesquisa, que tem intuito colaborativo", informou.

Se ficar comprovado que o hospital corrigiu o problema, seu nome é retirado da lista. "A partir dos relatos recebidos, a AMB comunica os estabelecimentos apontados, solicita esclarecimentos e a atualização das informações e notifica o Ministério da Saúde, o Conselho Regional de Medicina (CRM),as Secretarias de Saúde Municipal e Estadual, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério Público. A captação de denúncias continua em curso e os estabelecimentos que informarem a solução dos problemas serão retirados da lista abaixo, que apresenta detalhes sobre os EPIs que faltam em cada local", afirmou.

Para mais informações e registrar uma denúncia, acesse https://amb.org.br/epi/

Outro lado

A reportagem de O TEMPO solicitou um posicionamento sobre essas denúncias da Fhemig, da Secretaria Municipal de Belo Horizonte e do Complexo Hospitalar São Francisco, que foram citados acima.

Em nota, a assessoria de imprensa da Fhemig afirmou que não procede a informação de falta de EPI em suas unidades. Leia na íntegra:

"A Rede Fhemig tem empreendido esforços no sentido de disponibilizar EPIs visando manter a segurança assistencial de profissionais e segurança do paciente. A Fhemig vem recebendo entregas de EPI e, até a presente data, não houve desabastecimento de nenhum item a nenhuma das unidades que compõe a rede, sendo que os estoques estão sendo verificados diariamente.

Nesse sentido cabe destacar que a Fundação vem investindo um valor superior a 40 milhões de reais na compra de EPIs com o objetivo de garantir o pleno abastecimento. Entre os itens previstos nessa aquisição se encontram mais de 400 mil máscaras N95 e mais de 470 mil máscaras cirúrgicas descartáveis.

As diretrizes assistenciais e gerenciais da Fhemig para a Covid-19-19 são constantemente atualizadas e alinhadas com níveis de gestão Estadual e Federal e com diretrizes da Organização Mundial de Saúde. O uso de EPI´s pelos profissionais está dimensionado conforme protocolo Fhemig Covid-19 (disponível para consulta em nossa página). A Fhemig atua, portanto, com a estrutura necessária para o cuidado com o paciente Covid-19 ou outros agravos, alinhada com os protocolos assistenciais e de biossegurança do Sistema Único de Saúde."

Também em nota, o Complexo Hospitalar São Francisco afirmou que não faltam equipamentos de proteção em suas unidades. Leia:

"Complexo Hospitalar São Francisco (CHSF) informa que não houve desabastecimentos de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para os colaboradores da instituição, sobretudo para aqueles que atuam diretamente nos atendimentos dos casos de covid-19. A segurança (tanto do paciente quanto dos funcionários), que já constitui um dos pilares fundamentais de atuação do CHSF, tem sido, mais do que nunca, um dos nossos balizadores, durante a pandemia.

Para isso, o Complexo já investiu recursos financeiros na compra de máscaras de proteção, luvas, protetores oculares e de face, aventais, entre outros itens essenciais. A distribuição dos insumos obedece aos termos da Nota Técnica 04/2020 ANVISA (Ministério da Saúde) e da Prefeitura de Belo Horizonte. Além disso, tudo está sendo informado ao Ministério da Economia/Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho.

Por ser uma instituição filantrópica, o apoio de empresas, instituições e parceiros também tem sido primordial para que o Complexo Hospitalar São Francisco consiga suprir a demanda de EPI’s, durante a pandemia. Diariamente, são doados itens que vão desde álcool em gel e face shields até uma caixa de acrílico personalizada para proteger o profissional da assistência durante a intubação do paciente.

A Comunicação também tem contribuído para a segurança dos colaboradores. Como as diretrizes internas são aprimoradas periodicamente, todas as atualizações são informadas, em boletins administrativos, disponibilizados em todos os canais On e Offline.  Também são divulgados boletins epidemiológicos (uma demanda que partiu dos colaboradores), com as estatísticas da covid-19 entre os profissionais.

Cabe ressaltar que todos os funcionários contam com o suporte da Medicina do Trabalho para realizar consultas, atendimentos e acompanhamento dos casos suspeitos e confirmados de covid-19, incluindo dos profissionais que estão em casa, afastados do trabalho.  

Reforça-se, assim, que a todos os colaboradores do Complexo Hospitalar São Francisco que mantêm contato com pacientes suspeitos de contágio pela covid-19, ainda que por pouco tempo, estão devidamente equipados com os EPI’s adequados (de acordo com as normas técnicas), inclusive na portaria, recepção, setor de admissão de pacientes, entre outras área."