Isolados

Coronavírus: brasileiros são retidos em um acampamento na Costa do Marfim

Cinco brasileiros e 12 estrangeiros são ameaçados pelas autoridades com quarentena compulsória em hospitais e hostilizados pela comunidade local, além de receberem visita da polícia

Por Natália Oliveira
Publicado em 26 de março de 2020 | 15:26
 
 
Polícia faz visitas constantes aos turistas Arquivo Pessoal

Dezessete turistas, entre eles cinco brasileiros, estão vivendo dias de terror por causa da pandemia de coronavírus em um acampamento na cidade de Sassandra, na Costa do Marfim. Eles estão impedidos de sair do local, são ameaçados pelas autoridades com quarentena compulsória em hospitais e hostilizados pela comunidade local, além de receberem visitas constantes da polícia. 

Sabrina Henriques Chinellato, de 27 anos, contou que eles não podem sair nem mesmo para comprar comida e que estão completamente isolados. "Estamos muito acuados e sentindo bastante medo. A comunidade local grita 'corona' para a gente, porque para eles somos vetor da doença. Ontem autoridades locais vieram e pegaram nossos passaportes e levaram com eles, só devolvendo no fim do dia. Tivemos nossos direitos violados", relatou.

Ainda de acordo com Sabrina, a todo momento eles recebem visitas de governantes locais e de outras autoridades, que os tratam com bastante hostilidade. Existe ainda a possibilidade de os turistas serem internados em hospitais locais mesmo sem sintomas. "Os hospitais aqui são péssimos, e não queremos ser internados de forma compulsória e sem motivo", lamenta.

Segundo ela, os turistas chegaram ao acampamento depois que uma alemã postou em um grupo de viajantes que poderia recebê-los e ajudá-los com o isolamento. O marido dessa alemã é natural da Costa do Marfim e está ajudando os estrangeiros. No local eles se sentiram mais seguros.

No momento, as cidades da África estão com as fronteiras fechadas, e foi registrado o lockdown em todo país, ou seja, o fechamento de tudo. "Não conseguimos sair daqui. A embaixada do Brasil disse que nos receberia, e as autoridades locais chegaram a cogitar nos escoltar até lá, mas depois mudaram de ideia e agora não sabem o que fazer com a gente", contou Sabrina. 

A turista disse que está em contato direto com o Itamaraty e também com a embaixada do Brasil e que os órgãos estão dando suporte, porém não estão sabendo como ajudar os brasileiros a sair do acampamento, já que as fronteiras estão fechadas. 

Além de ter que lidar com todas essas incertezas, notícias divulgadas por jornais locais estão aumentando a hostilidade. "Vários veículos de mídia local e um senador publicaram notícias falsas sobre nós. Um falava que somos italianos ilegais. O senador escreveu um texto perguntando como autoridades locais tinham permitido turistas ficarem ilegais aqui, na região. Falaram ainda nossa localização exata, o que nos deixa com muito medo", contou. 

Sabrina disse que ela e o namorado estão há quase quatro anos viajando e morando na África e que, portanto, eles têm a mesma probabilidade dos africanos de ter a doença. Os turistas que estão no acampamento não estiveram em seus países de origem durante a pandemia. 

A brasileira e o namorado mantêm uma página de viagem no Instagram em que contam tudo o que está ocorrendo no local. "A gente só quer, neste momento, chegar à embaixada e depois retornar ao Brasil", concluiu. 

Por meio de nota, o Itamaraty informou que "o momento excepcional e em que vive o transporte aéreo internacional tem causado cancelamentos, mas a embaixada em Pretória está atenta ao problema e pronta para auxiliar os brasileiros que encontrarem dificuldades. Preventivamente, a embaixada do Brasil em Pretória está fazendo o registro dos brasileiros em viagem pela África do Sul. O brasileiro naquele país que queira ser incluído nos registros deve enviar as informações abaixo para o e-mail: consular.pretoria@itamaraty.gov.br".