Após decreto municipal

Coronavírus em BH: setor de telemarketing em alerta para evitar contaminação

Fiscalização educativa em empresas já acontece na capital mineira; sindicato pede denúncia por parte dos trabalhadores

Por Daniel Ottoni e Bruno Menezes
Publicado em 25 de março de 2020 | 16:03
 
 
Decreto pede distância de dois metros entre operadores Arquivo pessoal

Os representantes das empresas e dos trabalhadores de telemarketing já emitiram comunicados sugerindo mudanças na rotina dos funcionários para evitar um maior número de contaminados pelo coronavírus. Uma delas é a dispensa de trabalhadores, principalmente gestantes, idosos e com algum problema de saúde como diabetes e pressão alta, além da disponibilização de itens como álcool em gel e máscaras de proteção. Também foi indicado o distanciamentos dos trabalhadores em postos de serviços, algo que nem todas têm cumprindo. No último domingo, a prefeitura de Belo Horizonte determinou novas regras de funcionamento para empresas de call center.  

 "A partir de segunda-feira, dia 23, essas empresas devem atender em condições especiais de saúde e vigilância sanitária, em virtude do potencial de aglomeração e proximidade de pessoas nos locais de prestação desses serviços. A medida será por tempo indeterminado e visa ao enfrentamento da Situação de Emergência em Saúde Pública causada pelo agente Coronavírus, causador da Covid-19. As empresas com mais de 10 funcionários deverão atender prioritariamente as demandas dos demais serviços públicos e atividades essenciais definidas na legislação federal. Será necessário reduzir em 50% as posições de atendimento em atividade presencial, e no prazo de 30 dias, todas as atividades de teleatendimento presenciais deverão ser suspensas. Em ambos os casos, é admitida a continuidade do serviço pelos funcionários em regime de teletrabalho", afirma o comunicado.   

Na manhã desta quarta-feira (25), a Guarda Municipal de Belo Horizonte realizou uma fiscalização educativa em empresas de telemarketing, em um prédio próximo a praça Sete, na região centro-sul da capital. Em uma delas, os guardas municipais constataram que a regras previstas no Decreto Municipal 17.313 estavam sendo desrespeitadas. Entre elas a distância mínima de dois metros entre os funcionários, o não fornecimento de álcool em gel aos trabalhadores e a aglomeração de até 20 pessoas em uma sala. 

Após a fiscalização, a empresa adotou as regras e informou que nos próximos dias irá providenciar o trabalho remoto de todos os funcionários. No mesmo prédio, os guardas também visitaram uma outra empresa, do ramo de vendas de produtos para a saúde. No local, não foram constatadas irregularidades, mas os guardas municipais deram dicas aos funcionários. O coordenador da empresa, Júnior Souza, diz ter aprovado a fiscalização. “A gente está mantendo de 20% a 30% do quadro efetivo aqui só. A fiscalização foi bem tranquila e fiquei feliz porque nós fomos elogiados. Isso porque estamos cumprindo o decreto à risca”, comentou. 

Medidas já tomadas por empresa do setor

A AlmaViva é uma das que já começou a adotar uma série de procedimentos. Entre as iniciativas, estão a medição da temperatura dos colaboradores na entrada da empresa, além de alternância dos horários de trabalho para evitar aglomeração. Os bebedouros foram ajustados somente para encher garrafas e canecas, evitando o risco de contaminação. A redução do número de colabores caiu pela metade, possibilitando que posições fixas de atendimento respeitem a distância recomendada entre um colaborador e outro. "Nesse momento de crise, a companhia destaca a importância de manter suas operações em funcionamento, principalmente, para garantir serviços essenciais à população, diante do aumento da necessidade de contar com canais de comunicação entre população e prestadoras de serviços", informa a empresa, que compactua da mesma posição indica pela Associação Brasileira de Telesserviços (ABT). 

"É de extrema importância que o setor prossiga com suas operações, com os ajustes decorrentes das determinações das autoridades públicas". A entidade, que representa 18 empresas do ramo,  lembra a importância da atividade, uma vez que o setor atende milhões de ligações por dia que permitem que as pessoas, inclusive as infectadas ou com suspeitas de infecção pelo COVID-19, utilizem esses serviços de forma remota, sem a necessidade de uso de transporte público, um dos principais locais de aglomeração nas cidades.

Sindicato pede mais denúncias por parte dos funcionários

Para que o risco de contaminação dentro dos call centers seja reduzido, é primordial a participação dos funcionários para que as autoridades fiquem cientes e tomem as devidas providências. Esta é a sugestão do Sindicato dos trabalhadores em telecomunicações de Minas Gerais (Sinttel-MG). "As denúncias fazem toda a diferença para uma fiscalização mais rigorosa, não somente dos representantes da área de trabalho como agora pela Vigilância Sanitária. Sabemos que várias irregularidades persistem. A questão agora é de saúde, algo muito mais sério. O sindicato só pode agir quando há denúncia. Por conta própria, nós não temos o poder de gestão. Comparecemos somente quando nossa participação é provocada", relata Landstone Timóteo, diretor de base do Sindicato. 

Ele relata que muitas empresas do setor ficam 'escondidas' dentro de prédios, o que dificulta o trabalho de fiscalização, não só na capital como em cidades do interior como Governador Valadares, Juiz de Fora, Montes Claros, Caratinga e Uberlândia.   

Funcionários incomodados com condição de trabalho

Uma empresa da capital reduziu seu contingente, que chega a ser cerca de 350 funcionários em uma mesma sala, apenas na última terça-feira. Até então, todos seguiam trabalhando normalmente, com distância entre eles menor que um metro. Uma funcionária que preferiu não se identificar afirma que o álcool em gel, por exemplo, fica disponibilizado somente na área reservada para as pausas, no andar de baixo, comprometendo a permanente higienização dos trabalhadores.  

Ela alega que o número de funcionários foi reduzido a partir do momento em que a empresa permitiu que trabalhasse de casa somente aqueles que tivessem acesso à telefone fixo, computador e internet acima de 20 mega. No entanto, quem não possui tal estrutura segue com a obrigação de comparecer ao local de trabalho normalmente. 

Quem comparece à empresa, afirma que o ar condicionado ficado ligado a todo momento com as portas que dão acesso ao call center permanecendo fechadas, indo contra a indicação de espaços ventilados. 

Muitos que enviam mensagens reclamando ou pedindo resposta da empresa sobre as condições de trabalho, são retirados dos grupos. "Os supervisores nos pediram para que ajudássemos a empresa, pois ela também estava nos ajudando. Até segunda-feira, quando ninguém ainda estava trabalhando de casa, estava um caos. Fomos informados que o valor de transporte será cortado para quem está trabalhando de casa, mas se esquecem que estamos tendo um maior custo com energia elétrica. Além disso, deixaram claro que a medida de home office é positiva para evitar demissões em massa", critica a trabalhadora, que teme por retaliação. Denúncias foram feitas à Polícia Militar, que compareceu ao local e conversou com um dos diretores, não chegando a entrar no prédio.