Estudo

Covid-19: 20% da população mundial têm problemas de saúde que aumentam risco

Estudo de modelagem populacional analisou as condições de saúde dos habitantes de 188 países em todo o mundo por idade e sexo

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de junho de 2020 | 21:41
 
 
INTERESSA- BELO HORIZONTE_MG-DIABETES O Ministerio da saude quer reduzir 30% do acucar nos alimentos. Na foto, Carol Freitas e diabetica e sua filha nao. FOTO: GUSTAVO BAXTER / O TEMPO 29.01.2014 GUSTAVO BAXTER / O TEMPO

Cerca de 20% da população mundial apresenta alguma condição de saúde que pode aumentar o risco de desenvolver um quadro mais grave em uma eventual infecção por Covid-19. É o que aponta um estudo de modelagem populacional que analisou as condições de saúde dos habitantes de 188 países em todo o mundo, por idade e por sexo.

A análise, publicada nesta segunda-feira (15) na revista "Global Health", do grupo The Lancet, foi feita com base em dados de prevalência de doenças no mundo presentes no estudo Carga Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco de 2017, também da Lancet. Os cientistas buscaram informações sobre as doenças consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por agências de saúde dos Estados Unidos e do Reino Unido como fatores de risco para um quadro grave de Covid-19, como as cardiovasculares, renais crônicas, diabetes e respiratórias crônicas.

De acordo com o levantamento, há cerca de 1,7 bilhão de pessoas, ou 22% da população global, com pelo menos uma dessas condições subjacentes que as coloca em risco aumentado de Covid-19 grave, em caso de infecção. A taxa varia conforme a idade: de menos de 5% para menores de 20 anos a mais de 66% das pessoas com 70 anos ou mais. Entre a população em idade ativa (15 a 64 anos), o trabalho estima que 23% tenham pelo menos uma condição subjacente.

Os pesquisadores calcularam também o risco de hospitalização com base na presença dessas comorbidades. Eles estimaram que 4% da população mundial, ou 349 milhões, demandariam internação hospitalar, em caso de infecção. O quadro, mais uma vez, é pior entre os mais idosos: cerca de 20% para as pessoas com 70 anos ou mais e menos de 1% para aqueles com menos de 20 anos.

O cenário também muda conforme o gênero. Apesar de a prevalência de doenças ser parecida entre os sexos, os autores assumiram que os homens têm duas vezes mais chances de necessitarem de hospitalização se infectados. A taxa foi de 6% para eles e 3% para elas.

Como a incidência de comorbidades está muito relacionada à idade, a parcela da população com risco aumentado foi maior nos países com populações mais velhas. Na Europa, por exemplo, 31% da população se enquadra no grupo de risco de ter uma doença mais grave. Em geral, na América do Norte, 28,3% da população tem esse risco aumentado. Já na América Latina e Caribe, onde a parcela jovem é maior, a proporção é de 21,1%.

Para o Brasil, o estudo indica que 20,2% da população está nessas condições. Na África, a proporção é de 16%, mas a alta prevalência de HIV/aids coloca essa população em um risco mais alto. Essa combinação pode ser a mais fatal, alertam os pesquisadores.

Distanciamento

O trabalho, porém, só considerou as condições crônicas de saúde. Não foram incluídos no cálculo outros possíveis fatores de risco para a Covid-19, como etnia e privação socioeconômica. De modo que a fração da população mais vulnerável à pandemia pode ser ainda maior. Mesmo assim, os autores, liderados por Andrew Clark, do Departamento de Políticas e Pesquisa em Serviços de Saúde da Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical, defendem que os dados podem servir como ponto de partida para formuladores de políticas públicas.

"Os governos estão procurando maneiras de proteger os mais vulneráveis de um vírus que ainda está circulando. Esperamos que nossas estimativas forneçam pontos de partida úteis para projetar medidas para proteger aqueles com maior risco de doença grave. Isso pode envolver aconselhar as pessoas com condições subjacentes a adotar medidas de distanciamento social adequadas ou priorizá-las para a vacinação no futuro", disse Clark.