Isolamento fortalecido

Cufa MG lidera iniciativa de doações online para favelas de todo o Estado

Ideia é participar da ação da entidade nacional evitando contato direto e aglomeração de pessoas que serão beneficiadas

Qui, 09/04/20 - 12h53

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A Central Única de Favelas (CUFA), representante das periferias de todo o Brasil, dá exemplo de como a ajuda para combater o coronavírus pode vir de uma das camadas mais fragilizadas da população. A entidade nacional conta com seus representantes nos Estados para conseguir doações para que os moradores consigam se manter dentro de casa durante o período da pandemia. 

A ação humanitária teve a segunda fase da campanha iniciada nesta quinta-feira e contempla as regionais do todo país. A primeira contemplou doações de cestas básicas e produtos de higienze pessoal. Artistas de renome já mostraram seu apoio como Dudu Nobre, Alcione, Péricles Faria, Edi Rock. A repercussão nas redes sociais ganhou força com a hashtag #favelacontraovirus. A ação também contempla campanha educativa para promover as ações contra a pandemia dentro das vilas e favelas, através das redes sociais, Whatsapp e carros de som.  

A grande sacada do projeto veio da Cufa MG, que teve a ideia de buscar toda a arrecadação pela internet, reforçando a orientação do isolamento social, principal medida indicada pelas autoridades de saúde. A iniciativa tem em Minas Gerais o plano piloto, que deve ser implantado também nas Cufas de outros Estados. Artistas locais apoiam a causa, como Maurício Tizumba, Sérgio Pererê, MC Pablo e o cantor Das Quebradas. 

Em Minas Gerais, a meta é ajudar três mil famílias e 15 mil pessoas em 150 favelas de Belo Horizonte, região metropolitana e também do interior do Estado. A escolha acontece por meio de mensagens recebidas pela equipe ou por indicação das lideranças locais. "É importante entender que, neste momento de isolamento, toda sociedade precisa se mobilizar com a questão de higiene e garantir que todos tenham a condição de permanecer em isolamento. Nossa orientação é para que as pessoas fiquem em casa. Por isso, estamos tentando criar condições para que eles, de fato, fiquem em casa com alimento, segurança e higiene. Só com a união de todas as camadas da sociedade é que vamos vencer este momento de pandemia", analisa Francis Santos, presidente da Cufa MG, que existe há 15 anos. 

O pedido é que as doações pelo cufaminas.org aconteçam por meio de recursos financeiros. Em menos de uma semana, cerca de R$ 20 mil já foram arrecadados. Por mais que cestas básicas também sejam aceitas, a ideia é evitar o manuseio dos produtos, além do deslocamento, diminuindo o risco de contaminação do Covid-19. "Nossa vontade é que a campanha não dure muito tempo, esperamos que todo este período turbulento passe logo", projeta Francis. Durante o período de isolamento social serão produzidos e promovidos, lives, ações digitais, campanhas e conteúdos específicos de interesse das favelas desenvolvidos em conjunto com os parceiros.

As doações que chegarem em dinheiro serão transformadas em vouchers de R$ 150 em forma de QR code, distribuído por celular para os moradores cadastrados, que poderão realizar a troca por itens da cesta básica, produtos de limpeza, gás e higiene pessoal, em mercados cadastrados dentro das comunidades. Desta forma, fortalece-se o pequeno negócio e evita-se que as pessoas utilizem o transporte público para ir às compras. 

Periferia conta com população com alto risco de contaminação

A dificuldade do isolamento social em muitas comunidades liga o alerta para o perigo que os moradores destes locais passam todo os dias em meio à pandemia. Pesquisa recente do instituto Data Favela mostra que 47% das 13,6 milhões de pessoas que moram em favelas no Brasil são profissionais autônomos, como vendedores ambulantes, manicures, barbeiros, garçons de eventos, diaristas, lavadores de carro, profissionais da construção civil e artistas, que vivem na informalidade e não estão no cadastro único do governo federal. Muitos fazem parte de famílias, que contam com crianças matriculadas nas escolas e que, agora, precisam  ficar em casa, aumentando o consumo e os gastos. São milhões de pessoas que se encontram sem dinheiro e precisam de uma ajuda urgente. 

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