Críticas

Ex-presidente Lula ataca Moro e diz que Bolsonaro é 'cria' do ex-ministro

Em reunião com a executiva nacional e representantes das bancadas do PT na Câmara e no Senado, sexta-feira à noite (24), petista usou a maior parte de sua fala para acusar ex-juiz

Sáb, 25/04/20 - 18h33
No momento, o ex-presidente Lula realiza uma viagem pela Europa | Foto: Joel Saget/AFP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elegeu o ex-ministro Sérgio Moro, seu algoz, e não o presidente Jair Bolsonaro como alvo principal na crise causada pela demissão do titular da Justiça. 

Em reunião com a executiva nacional e representantes das bancadas do PT na Câmara e no Senado, sexta-feira à noite (24), Lula usou a maior parte de sua fala para atacar Moro. Segundo participantes da reunião, o ex-presidente decidiu falar no começo da conversa e não no final, como é de costume. Lula fez um aparte durante a manifestação da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, primeira a falar e imediatamente partiu para o ataque contra Moro. 

De acordo com relatos, aos palavrões, Lula passou a enumerar atos de Moro contra ele próprio e o PT desde o início da Lava Jato. Em certo momento, o ex-presidente disse que Moro tinha ligações com o governo dos EUA quando era juiz, mas não chegou a vincular essas ligações com a forma belicosa como o ex-juiz deixou o governo. 

Em sua conta no Twitter, na manhã deste sábado (25), Lula disse que Bolsonaro é “cria” de Moro e não o contrário.

“Não pode haver inversão da história. O Bolsonaro é filho do Moro, e não o Moro cria do Bolsonaro. Nessa disputa toda, os dois são bandidos, mas é o Bolsonaro que é a cria e não o contrário. E os dois são filhos das mentiras inventadas pela Globo”, postou o ex-presidente. 

Moro foi o responsável pela condenação de Lula a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, em 2017. A pena foi aumentada pelo Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4) para 12 anos e depois reduzida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) para oito anos e dez meses. 

A condenação levou Lula a ficar preso por um ano e meio na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e impediu o petista de disputar a eleição presidencial de 2018, quando era líder nas pesquisas Lula sempre negou irregularidades no caso do tríplex e alega que Moro forçou a condenação para tirá-lo da disputa eleitoral, o que abriu caminho para a vitória de Bolsonaro.

Cautela

Segundo fontes do PT, isso explica o fato de Lula ter pedido cautela ao partido horas antes, em conversa com Gleisi, Aloisio Mercadante e Fernando Haddad, ainda sob o calor do pronunciamento de Moro.

Na reunião de sexta-feira à noite o PT decidiu que não vai apresentar um pedido de impeachment de Bolsonaro de forma isolada. Se o fizer, será junto com outros partidos de oposição e entidades da sociedade civil. Mas também não vai se posicionar contra o afastamento do presidente e, caso a Câmara dê início ao processo, o partido votará a favor do impeachment. 

Em outra frente o PT designou enviados para procurar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tentar destravar a tramitação das Propostas de Emenda à Constituição (PECs) que alteram a forma de sucessão presidencial em caso de impeachment. 

Hoje existem duas PECs sobre o tema no Congresso. A primeira, do ex-deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), já passou Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A segunda, dos deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Henrique Fontana (PT-RS), é mais detalhada, mas ainda não foi analisada pela comissão. A ideia é convencer Maia a juntar as duas PECs.

“Temos que nos aprofundar nas investigações sobre o uso de fake news na eleição de Bolsonaro porque houve fraude. Com a aprovação da PEC não teríamos que nos preocupar com (Hamilton) Mourão (vice-presidente)”, disse Paulo Teixeira. 

As PECs prevêem a realização de novas eleições em caso de vacância na Presidência da República até seis meses antes do término do mandato. Hoje, em caso de impeachment, assume o vice.

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